sexta-feira, 27 de julho de 2012

A crise européia bate às portas da Alemanha

O Ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos e o Ministro das Finanças da Alemanha, Schäuble, conversam durante uma conferência de imprensa antes de um seminário organizado pela Fundação Konrad Adenauer em Santiago de Compostela, na Galícia.
Francisco Vianna
O que muitos achavam que era só uma questão de tempo começou a acontecer: a crise que assola a União Europeia (UE) bateu em cheio às portas do seu motor econômico e salva-vidas do bloco, a Alemanha, que até agora parecia estar infensa a ela. A empresa americana qualificadora de crédito rebaixou a qualificação do país.
A Alemanha, principal credora dos países que estão com a corda no pescoço, dá os primeiros sinais de instabilidade econômica, em função de uma acumulação de fatores que, financeiramente, convergem para Berlim. Entre tais fatores estão a Grécia, que está mais para sair da zona do euro do que para ficar nela, a Espanha, que está com a língua de fora a ponto de precisar de um resgate pleno, e a Itália, à beira da debacle financeira.
Pelo menos é o que diz a Moody's ao alterar o status creditício da Alemanha, de AAA+ para AAA-, e em seguida advertir que o peso dos resgates de países como Grécia e/ou Espanha se fará sentir fortemente no orçamento dos bancos alemães. Essa alteração de gradação de crédito significa que a Alemanha está a ponto de perder a sua qualificação perfeita, o que a obrigará a pagar mais caro para se endividar.
Angela Merkel cuidou de demonstrar calma ao anúncio da Moody’s e, para baixar o tom da agência americana, lembrou que já por várias vezes a chanceler tinha advertido que a Alemanha "não tem forças ilimitadas" para salvar toda a Europa. Na verdade, a suposta serenidade do governo alemão não conseguiu eliminar as dúvidas dos mercados sobre o futuro alemão.
Tais dúvidas foram alimentadas ontem, na reunião do Ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, braço direito de Merkel, com o seu colega Ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos, na qual discutiram o resgate total – e não só bancário - da Espanha, e pelo anúncio de que a atividade fabril – força motriz da economia alemã - se desacelerou da forma mais veloz em três anos.
O encontro entre Schäuble e Guindos esteve cercado de especulações em face do recrudescimento da crise, particularmente na Espanha. O jornal britânico ‘The Guardian’ havia assegurado ontem pela manhã que da reunião poderia sair uma petição formal de resgate assinada por Madri, que necessitará de um empréstimo de 300 bilhões de euros, informação que, contudo, foi desmentida por ambos os governos logo em seguida.
Um mau sinal foi o hermetismo que prevaleceu na reunião. A imprensa não conseguiu saber com antecedência do cronograma do evento e não houve rodada de imprensa previamente marcada. Só foi informado de antemão que, na melhor das hipóteses, haveria um comunicado ao final da reunião. Tal comunicado chegou à noite e foi lacônico, limitando-se a dizer que “os esforços da Espanha de reiterar a firme intenção de respeitar os acordos da última cúpula europeia para que os bancos tivessem acesso mais rapidamente aos fundos de resgate”.
Três países já receberam resgates totais: Irlanda, Portugal e Grécia (o resgate espanhol é para os bancos). Um resgate ao estado espanhol não apenas exigiria novos aportes de dinheiro ao estado alemão, como também o que exporia a Itália ao ‘contágio’. Tal provável "efeito dominó" ameaçaria os bancos alemães, que são possuidores de uma enorme quantidade de títulos da dívida espanhola e italiana. Foi essa a principal razão de a Moody's rebaixar a gradação creditícia da Alemanha, em cujo ato a agência destacou de concreto a "vulnerabilidade" de seu sistema bancário a uma possível "piora" da crise de dívida dentro da UE.
Não foi só a Alemanha a ser admoestada pela Moody’s, mas também a Holanda e Luxemburgo. O único país da zona do euro que mantém a gradação creditícia mais alta, agora, é a Finlândia, uma vez que Helsinki sempre foi crítica em relação às ajudas e negociou condições especiais para a concessão de pacotes de resgate.
A Moody's destacou em sua argumentação que nenhum dos países restantes merece uma gradação estável em função do risco de que algum resgate concedido à Espanha contagie a Itália porque os meios com os quais contam os fundos de resgate da UE não permitirão salvar a todos os dois países ao mesmo tempo.
O Ministério das Finanças da Alemanha reagiu com um documento pelo qual refuta as dúvidas da agência: "a Alemanha vai continuar sendo a âncora da estabilidade da eurozona, vai fazer todo o possível junto aos seus sócios para equacionar o quanto antes a crise da dívida".
Título e Texto: Francisco Vianna, 27-7-2012

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