terça-feira, 24 de julho de 2012

Também há boas notícias

A Comunicação "social" em Portugal (2)...
Dinis de Abreu
Deslumbrados com o inesperado filão da licenciatura do ministro-adjunto de Passos Coelho, a maioria dos media – mesmo os de referência – desdobrou-se em generosas páginas investigativas do currículo académico do antigo aluno da Lusófona e louvou-se nos resultados dessa pesquisa com uma punição moral que deve ter ecoado, com estrondo, algures em Paris.
Afinal, a esquerda – em particular a do PS – encontrava, finalmente, o bom pretexto para ‘lavar a honra’ de Sócrates e respirar fundo nas televisões, na imprensa, nos blogues. Ou seja: encontrou a ‘equivalência’... Que mais poderia desejar?
Infelizmente, este ruído mediático em crescendo – engrossado pelos ‘cadernos de encargos’ que algumas corporações não se cansam de apresentar ao Governo, marcando sucessivas greves com um soberano desprezo pelos prejuízos que causam ao país –, abafou quase uma notícia deveras importante, divulgada em simultâneo pelo INE e BdP: a balança comercial portuguesa poderá ser, já este ano, superavitária em bens e serviços, o que não acontecia desde 1943!
Mais: o crescimento das nossas exportações incorporou e fez-se mais à custa da diversificação dos destinos, reflectindo a preocupação das empresas do sector de não ficarem à mercê da deterioração dos mercados tradicionais intra-europeus, investindo noutras oportunidades de negócio.
Esta dinâmica, que o BdP estima num saldo positivo de 0,4% para 2012 – diferença entre o que vendemos e o que compramos ao exterior –, subindo para 2,5% em 2013, fica a crédito de um conjunto de agentes económicos que não cruzaram os braços, embora a quebra da procura interna tenha sido uma ajuda, não despicienda, para uma inversão de tendência que é histórica.
Sem euforias precipitadas, este facto, só por si, merecia ter sido assinalado – e congratulado – como impulso positivo do ‘estado da Nação’, antes de os deputados partirem de férias e de se instalar a silly season. Mas não. Se os ecos do debate parlamentar se extinguiram num ápice, os relatórios do INE e do BdP sofreram o mesmo eclipse. A ‘espuma mediática’ é assim: valoriza-se o que não merece, esquece-se o que conta.
Vive-se uma estranha esquizofrenia em Portugal que até já contamina quem, sendo bispo, deveria guardar-se para o serviço de Deus e não incorrer, com doentia frequência, em catilinárias que o desviam dos caminhos do altar para o terreno movediço da política.
D. Januário Torgal Ferreira disse o impensável na TVI24. Ao proclamar que «este Governo é profundamente corrupto», ou tem provas e as exibe, ou tem o dever estrito de estar calado, poupando-nos à sua incontinência que não é própria de um homem da Igreja.
Ao diabolizar um Governo legítimo, no pior estilo de uma conversa básica de café, D. Januário desceu do púlpito e perdeu a compostura. Para a Conferência Episcopal, tratou-se de uma «afirmação pessoal». Ora, pode um bispo – e das Forças Armadas – suspender o seu magistério quando lhe apetece?
E assim se apagam as boas notícias.
Título e Texto: Dinis de Abreu, SOL

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