A Comunicação "social" em Portugal (2)...
Dinis de Abreu
Dinis de Abreu
Deslumbrados com o inesperado
filão da licenciatura do ministro-adjunto de Passos Coelho, a maioria dos media
– mesmo os de referência – desdobrou-se em generosas páginas investigativas do
currículo académico do antigo aluno da Lusófona e louvou-se nos resultados
dessa pesquisa com uma punição moral que deve ter ecoado, com estrondo, algures
em Paris.
Afinal, a esquerda – em
particular a do PS – encontrava, finalmente, o bom pretexto para ‘lavar a
honra’ de Sócrates e respirar fundo nas televisões, na imprensa, nos blogues.
Ou seja: encontrou a ‘equivalência’... Que mais poderia desejar?
Infelizmente, este ruído
mediático em crescendo – engrossado pelos ‘cadernos de encargos’ que algumas
corporações não se cansam de apresentar ao Governo, marcando sucessivas greves
com um soberano desprezo pelos prejuízos que causam ao país –, abafou quase uma
notícia deveras importante, divulgada em simultâneo pelo INE e BdP: a balança
comercial portuguesa poderá ser, já este ano, superavitária em bens e serviços,
o que não acontecia desde 1943!
Mais: o crescimento das nossas
exportações incorporou e fez-se mais à custa da diversificação dos destinos,
reflectindo a preocupação das empresas do sector de não ficarem à mercê da
deterioração dos mercados tradicionais intra-europeus, investindo noutras
oportunidades de negócio.
Esta dinâmica, que o BdP
estima num saldo positivo de 0,4% para 2012 – diferença entre o que vendemos e
o que compramos ao exterior –, subindo para 2,5% em 2013, fica a crédito de um
conjunto de agentes económicos que não cruzaram os braços, embora a quebra da
procura interna tenha sido uma ajuda, não despicienda, para uma inversão de
tendência que é histórica.
Sem euforias precipitadas,
este facto, só por si, merecia ter sido assinalado – e congratulado – como
impulso positivo do ‘estado da Nação’, antes de os deputados partirem de férias
e de se instalar a silly season. Mas não. Se os ecos do debate parlamentar se
extinguiram num ápice, os relatórios do INE e do BdP sofreram o mesmo eclipse.
A ‘espuma mediática’ é assim: valoriza-se o que não merece, esquece-se o que
conta.
Vive-se uma estranha
esquizofrenia em Portugal que até já contamina quem, sendo bispo, deveria
guardar-se para o serviço de Deus e não incorrer, com doentia frequência, em
catilinárias que o desviam dos caminhos do altar para o terreno movediço da
política.
D. Januário Torgal Ferreira
disse o impensável na TVI24. Ao proclamar que «este Governo é profundamente
corrupto», ou tem provas e as exibe, ou tem o dever estrito de estar calado,
poupando-nos à sua incontinência que não é própria de um homem da Igreja.
Ao diabolizar um Governo
legítimo, no pior estilo de uma conversa básica de café, D. Januário desceu do
púlpito e perdeu a compostura. Para a Conferência Episcopal, tratou-se de uma
«afirmação pessoal». Ora, pode um bispo – e das Forças Armadas – suspender o
seu magistério quando lhe apetece?
E assim se apagam as boas
notícias.
Título e Texto: Dinis de Abreu, SOL
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-