Camilo Lourenço
Eu sei que a criatividade
humana não tem limites. Em todos os sectores do conhecimento. Economia
incluída. Mas por mais criatividade que haja, é difícil perceber certas coisas.
Quando um país consome mais do que produz, precisa que alguém lhe empreste
dinheiro. E ou esse desequilíbrio serve para "financiar o futuro",
isto é, para investimento, ou para "financiar o presente" (consumo).
No primeiro caso, quem tem
dinheiro para emprestar não tem problema em fazê-lo: o retorno do investimento
chega para devolver o que se emprestou. Mas se os empréstimos servem para
financiar consumo, é um sarilho. Sobretudo quando os défices se tornam
crónicos. Era exactamente esta a situação em que estávamos quando o mundo
deixou de nos emprestar dinheiro, em 2011.
O receituário para corrigir
este desastre (tal como o de 83-85 e o de 78-79) está a funcionar. Acima das
expectativas (tal como em 83-85 e 78-79): o défice da nossa conta corrente
caiu, no 1.º semestre do ano, para 2% do PIB, quando o valor acordado com a
Troika era de 2,5% para... todo o ano de 2012!!!
Na minha cartilha isto tem
nome: Sucesso. Porque significa que passamos a viver de acordo com as nossas
posses, mais cedo do que se previa. Ora é esta a garantia de que quem empresta
dinheiro precisa para voltar a confiar em nós (economias pequenas não têm
capital suficiente para se desenvolverem, necessitam de capital externo...).
Tem custos? Sem dúvida. Mas tínhamos alternativa?
Os acontecimentos dos últimos
anos pulverizaram muitas verdades. Mas houve uma que ficou: quem estica o pé
além do que permite a sola do sapato, mais tarde ou mais cedo acaba descalço.
Não perceber isto é insensatez.
Título e Texto: Camilo Lourenço, Jornal de Negócios, 30-8-2012
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