domingo, 26 de agosto de 2012

Carrascos impunes

Pedro Corzo
As declarações de Alfredo Guevara à TV espanhola nos levam a refletir sobre as causas que motivaram o fato de um número importante de cubanos, quase todos com títulos universitários e muitos procedentes de famílias de classe média e alta, que eram os que mais possibilidades tinham de desfrutar das "liberdades burguesas" – como assim as chamavam –, foram os carrascos dos direitos de todos, e muito em particular dos das gerações futuras.

Imagem retirada daqui
O que Guevara disse muito provavelmente seja a conclusão a que chegaram muitos dos que construíram a sangue e fogo, vestindo a mentira e a difamação, o totalitarismo cubano, mas o caso de Alfredo Guevara é muito especial, porque embora não estivesse estado na linha de frente, ou dirigido um centro de repressão, ou ainda um pelotão de fuzilamento, ele integrava a mais alta cúpula do poder e era amigo íntimo de Fidel Castro, pelo que, aqui, cabe o que disse o novelista José Antonio Albertini, "com tinta de escrever também se mata".

Enquanto Ernesto ‘che’ Guevara, Ramiro Valdés, José Abrahantes, Sergio del Valle y outros mais, dedicaram todo o seu esforço e vontade para destruir a oposição, condenando ao paredão milhares de pessoas, às masmorras da ilha-cárcere dezenas de milhares e a campos de concentração – como os da UMAP – milhares de jovens; Manuel Piñeiro, Víctor Dreke e Ernesto ‘che’ Guevara treinavam milhares de jovens do continente, lavando-lhes os cérebros com seu marxismo doentio e plantando-lhes a certeza de que a violência era a única solução para os males de seus respectivos países, o que levou o luto e o sofrimento a centenas de lares da América Latina.

Por sua vez, Arnaldo Ochoa, Ulises Rosales del Toro, Raúl Menéndez Tomasevich, Leopoldo Cintas Frías e outros cubanos deformados, cumpriam os sonhos imperiais de Fidel Castro na África e na América Latina, enquanto na ilha Armando Hart Dávalos instrumentava o controle absoluto da educação e tentava criar e promover novos "valores" sobre os que se desenvolveriam a "nova ordem". Entretanto, Luis Felipe Carneado organizava a repressão às igrejas e seus fiéis, instrumentava a infiltração nas diferentes religiões e lojas fraternais, para assumir seu controle no momento preciso.

Simultaneamente os meios de comunicação passaram ao controle do estado. Estabeleceu-se um controle absoluto da informação e anulou-se o direito de expressão e livre opinião, e vários foram os artífices desta missão tão destrutiva.

Aceleradamente, o estado cubano se moveu em direção à ruína econômica. A indústria e o comércio foram estatizados e entraram em queda livre. A construção civil passou ao controle estatal e praticamente desapareceu. Os bens de consumo começaram a desaparecer. O povo deixou de ser pobre para ser miserável, situação que até hoje contrasta com a vida mais ou menos nababesca que leva a pequena burguesia do politiburo do PCC e seus lacaios.

Raúl Roa García se prestou a ser o principal instrumento para tornar Cuba num país totalmente dependente da União Soviética. A política externa cubana foi uma imitação da soviética com exceção dos aspectos em que os irmãos Castro tinham um interesse especial.

Também Nicolás Guillén não fez por menos. Aceitou dirigir a UNEAC, um mecanismo castrista engendrado para controlar os escritores e artistas, enquanto Alfredo Guevara, um dos mais influentes colaboradores de Fidel Castro, fazia a sua parte, fundando o Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica.

Outros mecanismos culturais, não menos sinistros, foram instaurados para calar os intelectuais secar a tinta de suas canetas. Um deles foi o ‘Conselho Nacional de Cultura’ e outro a ‘Casa das Américas’, duas peças chaves para impedir qualquer atividade intelectual independente.

De fato, passando por cima dos demais vigilantes ideológicos da criação artística, foi Alfredo Guevara que assumiu o controle do mundo intelectual cubano. Impediu que os autores se expressassem com um mínimo de liberdade impondo-lhes em todas as instâncias, a ortodoxia marxisto-castrista de que "pela revolução tudo, contra a revolução nada".

A criação intelectual passou a ser assalariada e aqueles que, no entanto, foram e são hoje capazes de negá-la, apesar do ‘mea culpa’ de Guevara, sofrem na melhor das hipóteses o exílio interno ou externo.

Guevara disse que assumia os próprios erros da Revolução – e que foram muitíssimos e gravíssimos – e que em sua opinião o que está acontecendo em Cuba, aludindo às supostas reformas de Raúl Castro, é uma abertura para que retorne a liberdade, as liberdades fundamentais da pessoa humana, que nunca deveriam ser mal vistas pelo regime, numa expressão com a qual continua a esconder a sua cumplicidade com os dois grandes responsáveis pela destruição moral e material do país, Fidel y Raúl Castro, porque em Cuba as liberdades nunca foram mal vistas pela população, pelos que lutaram contra a ditadura meliante de Fulgêncio Batista e continuam lutando hoje para que voltem a existir e sofrem, por isso, a perseguição e o acuo, sendo levados a se exilarem, indo parar na cadeia, ou encontrando a morte sumária, como ocorreu com Porfirio Ramírez, Laura Pollán, Orlando Zapata Tamayo, Oswaldo Payá Sardiñas y Harold Cepero.
Título e Texto: Pedro Corzo, Jornalista da Rádio Martí
Tradução: Francisco Vianna

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