Paulo Guedes
“Presidentes que não saem do
ar: Hugo Chávez, da Venezuela, Cristina Kirchner, da Argentina, e Rafael
Correa, do Equador, usam redes nacionais de rádio e TV para impor sua visão”,
informa O GLOBO de ontem em matéria que revela como arma política o “microfone
estatal a serviço do poder”.
Estive em Cuba com minha
família há apenas alguns anos. Fidel Castro era ainda presidente. Quando liguei
a televisão no hotel e percorri os canais, o comandante estava em todos eles.
Era ainda pior do que esse clássico sintoma de tiranetes em ascensão que se
comunicam com frequência em cadeias nacionais de televisão.
Filmado em diferentes
ocasiões, em longuíssimos discursos, fazia preleções para crianças em escolas,
presidia reuniões políticas, exortava jovens em cerimônias de formatura
universitária, recebia delegações políticas estrangeiras, em onipresente
tentativa de lavagem cerebral.
Entusiasmante nos primeiros
minutos, tolerável por meia hora e insuportável a partir de então. Chávez, a
cuja visita pude assistir naquela ocasião, teve mesmo em Fidel um grande
mestre.
Hoje sabemos todos que Lula
não era Chávez. Mas nem todos sabíamos que o Brasil não é a Venezuela. O antigo
procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza sabia. O atual
procurador-geral, Roberto Gurgel, e o ministro do Supremo Tribunal Federal
Joaquim Barbosa também. Quem não sabia era a turma do mensalão.
Há quem, ainda hoje, acredite
na concentração dos poderes políticos, na centralização administrativa, na
estatização da economia e no controle da mídia como receitas adequadas para o
Brasil. O equívoco intelectual tem nome: um exacerbado socialismo nacionalista.
Essa é uma estrada conhecida,
trilhada à “esquerda” e à “direita” por regimes totalitários que infelicitaram
milhões de seres humanos. Enveredaram por esse caminho as ditaduras de partido
único da Itália de Mussolini, da Alemanha de Hitler, da Rússia de Stalin. O
caminho da servidão.
“Mussolini foi antes de tudo
um socialista. O ingrediente nacionalista foi também virulento. O fascismo
italiano é, como o nazismo alemão, um nacional-socialismo”, diagnostica o
insuspeito e lúcido Edgar Morin, em “Cultura e barbárie europeias” (2005). O
socialismo bolivariano é a doença latina do século XXI.
Título e Texto: Paulo Guedes, O Globo
Via Blog
do Noblat
Colaboração: Rafael Picate
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