Ilustração: AD |
Maria Lucia Victor Barbosa
Durante três eleições seguidas
houve árduas tentativas da parte do PT para chegar à presidência da República,
mas faltava ainda o essencial, um bom marketing capaz da mágica que faz do feio
o bonito, do sórdido o honrado, do mentiroso o verdadeiro. Afinal, não é com
imagens construídas com perfeição que a política é feita?
Então, apareceu o mago Duda
Mendonça e sua arte suprema de propaganda enganosa como o é quase toda
propaganda, sobretudo, a política. Foi elaborada a Carta do Povo que apaziguou
com êxito os desconfiados. Adesões e coligações inimagináveis para o PT de
outrora foram consumadas. E o mais importante: foi cuidadosamente fabricada a
imagem falsificada do “Lulinha de paz e amor”.
Estas técnicas e táticas
levaram finalmente o PT ao cobiçado cargo na quarta tentativa. Como normalmente
acontece com os revolucionários que alcançando o poder se esmeram em fazer com
mais precisão o que antes criticavam, ao vencer Lula e companheiros deram
alegremente adeus à ética e à ideologia de esquerda que varia conforme as
circunstâncias e possui tendência acentuada para o desfrute das delícias da
burguesia. Às favas com escrúpulos e transparência. E, assim, aconteceu entre
outros fatos nada edificantes a compra de votos dos congressistas da enorme
base aliada de Sua Excelência Lula da Silva. Foi o maior escândalo de corrupção
nunca antes havido nesse país e alcunhado por Roberto Jefferson de “mensalão”.
Lula sempre dizendo como
qualquer ladrão de galinha que não sabia de nada que se passava sob seu nariz.
Quer dizer, ou ele é totalmente idiota ou se locupletava com a corrupção,
exercendo seu mandonismo e seus instintos autoritários a todo vapor para
alicerçar um poder cada vez maior no qual o Executivo se avantajava e o
Legislativo se tornava um bando de marionetes manipulado por seus desejos.
Lula não é idiota. Por isso
começam pela primeira vez a surgir várias opiniões afirmando que é ele e não
José Dirceu o poderoso chefão da engrenagem de compra de votos que teve como
“gerente” ou “boy de luxo”, Marcos Valério.
Esta suposição que enxovalha o
mito não está ainda comprovada juridicamente. Contudo é significativo que Lula
tenha feito o possível para evitar o julgamento do “mensalão”, desde implantar
a CPI do Cachoeira para distrair as atenções até chantagear o ministro Gilmar
Mendes para que este adiasse o processo para depois das eleições.
Dirão alguns que foram
exatamente as eleições que preocuparam Lula. Ele quer ganhar todas as
prefeituras que puder e, mais do que todas, a de São Paulo. Mas, seria só isso
ou intuía que viria à tona a perigosa desconfiança sobre seu envolvimento no
escândalo?
Impressiona também a fúria de
que foram tomados seus adeptos para defendê-lo e ao seu lugar-tenente, José
Dirceu. Partem para ultrajar a instância mais alta da Justiça no sentido de
desqualificar o julgamento que tem tido na figura do ministro Joaquim Barbosa o
exemplo de como se julga estribado na lei e na justiça.
Surge um manifesto sem pé nem
cabeça de artistas e o presidente do PT, Rui Falcão, afirma que o julgamento do
“mensalão” é golpe das elites sujas e da imprensa.
Golpe em quem? Lula não é mais
presidente, portanto, não pode sofrer um impeachment. Tudo está sendo julgado
com base nos fatos, provas e testemunhas armazenados em enormes calhamaços de
milhares de páginas. Oito ministros foram nomeados por Lula e Rousseff e é
notório que o ministro Lewandowski procura retardar ao máximo o julgamento,
enquanto o ministro Toffoli que deveria ter se considerado impedido de
participar dadas suas ligações com José Dirceu permanece para votar. Mais
ainda, o julgamento ainda levará bom tempo e, apesar da maioria dos ministros
estarem seguindo o voto técnico do ministro Barbosa não se sabe o que vai
acontecer. Por que, então, o desespero dos defensores de Lula?
Golpe é dos que afrontam o
Judiciário. Parecem querer igualar esse Poder independente ao servil
Legislativo. Até a presidente Rousseff, de forma prepotente e imprópria, mandou
recado para o ministro Joaquim Barbosa por ter este citado uma sua afirmação
quando era ministra de Minas e Energia. Ela deve pensar que ele faz parte de
seu ministério onde manda e desmanda.
Note-se que quando o PT ajudou
a derrubar o presidente Collor, tendo sido o então deputado Lula que propôs o
impeachment, ninguém falou em golpe. Muito tempo depois Collor foi inocentado
pelo STF.
Em todo caso, muitos têm sido
os azares do Lula que sem cargo já não dispõe da imensa sorte que sempre o
acompanhou. A doença lhe tira vigor nos palanques. As campanhas não estão
favorecendo os candidatos do PT. O pouco comparecimento aos comícios em que ele
aparece indica que a estrela do PT está decadente.
O julgamento do “mensalão” e
as urnas confirmarão se isso é verdade ou se novos tempos estão por vir. Como
se diz, “a esperança é a última que morre”.
Título e Texto: Maria Lucia
Victor Barbosa, socióloga
@maluvi
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