Simon Romero
RIO DE JANEIRO — Batman é candidato a
prefeito na cidade brasileira de Uberlândia, em Minas Gerais. Nada menos que
dois James Bonds querem ser
vereadores, em Ponta Grossa, no Paraná, e em Birigui, em São Paulo. Em outras
paragens, no Brasil, eleitores estão sendo solicitados a votarem em candidatos com
nomes como Daniel o Corno e Elvis Não Morreu.
O Brasil tem nutrido uma das
mais vibrantes democracias ‘escoriocráticas’ (neologismo que se opõe ao que se
conhece como ‘democracia meritocrática’) do mundo desde o fim do regime
autoritário militar em 1985. À medida que se intensifica a campanha eleitoral
para as eleições municipais em 3 de outubro vindouro, tal vitalidade se evidencia
nos nomes dos candidatos, que refletem a memorável frouxidão de restrições do
Brasil sobre como muitos desses candidatos se autodenominam.
Geraldo Wolverine fazendo campanha em Piracicaba, São Paulo, Brasil. Foto de Lalo de Almeida para o ‘The New York Times’ |
As chapas estão cheias de
nomes de super-heróis (cinco ‘Batmans’ concorrem este ano), misturados a
versões de protagonistas da TV americana (como um tal de ‘Macgaiver’
concorrendo no Estado do Espírito Santo, inspirado na série do agente secreto “MacGyver“),
e um arranjo de apelidos irreverentes.
“É uma estratégia de marketing, um programa político, porque se eu digo Geraldo Custódio, ninguém vai me reconhecer”, diz Geraldo Custódio, de 38 anos, um professor de escola de motorista que está concorrendo a um cargo de vereador com o nome de Geraldo ‘Wolverine’, em Piracicaba, uma cidade industrial do estado de São Paulo. O Sr. Custódio disse que adotou o apelido de Wolverine, depois que surgiu o personagem Marvel das revistas em quadrinhos, quando ele tentou participar do ‘reality show’ de TV brasileira, chamado “Big Brother Brasil”. Ele não conseguiu fazer parte do show, mas o cognome que adotou, junto com sua caracterização, fez o apelido colar. Ele agora faz sua campanha política com longas garras de metal no dorso das mãos. Numa de suas aparições e propagandeia: “Vote no cara que tem garra”!
“É uma estratégia de marketing, um programa político, porque se eu digo Geraldo Custódio, ninguém vai me reconhecer”, diz Geraldo Custódio, de 38 anos, um professor de escola de motorista que está concorrendo a um cargo de vereador com o nome de Geraldo ‘Wolverine’, em Piracicaba, uma cidade industrial do estado de São Paulo. O Sr. Custódio disse que adotou o apelido de Wolverine, depois que surgiu o personagem Marvel das revistas em quadrinhos, quando ele tentou participar do ‘reality show’ de TV brasileira, chamado “Big Brother Brasil”. Ele não conseguiu fazer parte do show, mas o cognome que adotou, junto com sua caracterização, fez o apelido colar. Ele agora faz sua campanha política com longas garras de metal no dorso das mãos. Numa de suas aparições e propagandeia: “Vote no cara que tem garra”!
Candidatos com nomes criativos com garras podem causar espanto em qualquer lugar, mas não aqui no Brasil, um país que se orgulha em ser escrachado no que se refere aos nomes dos políticos.
Considere a presidente Dilma Rousseff, quase universalmente referida pelo seu primeiro nome. Seu predecessor imediato incorporou em seu nome seu apelido de infância, Lula (que serve tanto para se referir ao molusco como à maneira carinhosa como os brasileiros chamam os que têm o nome de Luís), dentro do seu nome completo, passando a chamar-se Luiz Inácio Lula da Silva. Chamá-lo de Sr. Da Silva aqui levanta polêmica, uma vez que Da Silva é o sobrenome mais comum do país. Fernando Henrique Cardoso, o presidente cujos dois mandatos antecederam aos de Lula, de 1995 a 2002, é comumente citado por Fernando Henrique ou por suas iniciais, FHC, mas raramente por seu sobrenome.
Alguns candidatos em eleições locais
pegam carona no nome de políticos bem conhecidos, explicando, talvez, por que dezenas
de candidatos pelo Brasil afora cujos nomes são Luiz (forma espanhola) ou Luís (forma
portuguesa) incorporam o apelido “Lula” aos seus nomes de campanha. Então vêm
os nomes de personagens estrangeiros, fazendo aparecer 16 ‘Obamas’ concorrendo
no Brasil, apenas este ano. A cultura popular e a religião também são fontes de
inspiração: Ladi Gaga (sic) é candidato em Santo André, na Grande São Paulo, passo
que Cristo de Jerusalém (chamado Omedino Pantoja da Silva) perdeu uma eleição municipal
em Porto Velho, a capital do estado de Rondônia no noroeste do país, em 2008.
“Acho que Barack Obama é mais do que um político;
ele é um ícone”, disse Gerson Januário de Almeida, 44 anos, um assistente administrativo
na saúde pública, que concorre a vereador com o apelido de “Obama BH”, em Belo
Horizonte (BH), uma das maiores cidades do Brasil. O Sr. Almeida disse que veio
com tal apelido quando turistas americanos que transitavam pelo bondinho do Pão
de Açúcar, no Rio de Janeiro, acharam-no extremamente parecido com o presidente
americano. Desde então, o Sr. Almeida disse, passou a ganhar uma renda extra ao
fazer o papel de ‘cover’ de Barak Obama em eventos promocionais.
Gerson Januário de Almeida, um candidato concorrendo como Obama em Belo Horizonte. Foto: AFP |
Juízes em algumas cidades têm
lidado o suficiente com nomes eleitorais, alguns especialmente bizarros ou que
soam vulgares, interpondo injunções para mantê-los longe das chapas de votação.
E tribunais eleitorais têm tentado evitar que candidatos usem nomes de empresas
estatais ou outras entidades públicas e burocráticas, geralmente de onde os
candidatos se originam. Isto, no entanto, não tem impedido que candidatos
tentem usá-los. Israel Soares, um candidate do Estado de São Paulo, está
concorrendo com o nome de “Defensor do Povo do INSS” (Instituto Nacional de
Seguridade Social).
Tais denominações podem chamar
a atenção num sistema político complexo com mais de 20 partidos de várias
faixas ideológicas, mas os estrategistas eleitorais de ocasião dizem que eles
não passam de um pouco mais de um show paralelo de muitas disputas. “Não sei se
devo aconselhar meus clientes a usar tais nomes”, disse Justino Pereira, um
‘consultor político’ de São Paulo que tem assessorado numerosos candidatos em
eleições municipais, inclusive um chamado Palhaço Zigue-Zague, que não foi
eleito. O Sr. Pereira disse que candidatos se inspiraram particularmente após o
fato de outro palhaço popular na TV com o nome artístico de Tiririca, foi um
dos mais votados em São Paulo para a Câmara Federal em Brasília (relativamente
poucas pessoas sabem que seu nome real é Francisco Everardo Oliveira Silva).
“Usar apelidos é um modo fácil de chamar atenção para si”, disse o Sr. Pereira,
“mas não necessariamente faz qualquer diferença ou efeito duradouro”.
Certamente, alguns candidatos num
país com tal abordagem caprichosa a nomes não têm necessidade de recorrer a
apelidos chocantes. Tais aspirantes a cargos eletivos já têm nomes coloridos
fornecidos por seus pais, refletindo a atenção prestada no passado, no Brasil,
a algumas figuras políticas estrangeiras.
‘Jimmi Carter’ Santarém Barroso, por exemplo,
é candidato no estado do Amazonas, no norte do país; ‘John Kennedy’ Abreu Sousa
concorre no Maranhão, no nordeste do Brasil; e ‘Chiang Kai Xeque’ Braga Barroso
— cujo primeiro nome deriva de Chiang Kai-Shek, o rival chinês de Mao Tsé-tung
em meados do século XX — está tentando ser eleito no estado do Tocantins.
Título e Texto: Simon Romero (contribuíram Taylor Barnes e Lis Horta Moriconi), The New York Times, 17-9-2012
Tradução livre: Francisco Vianna
Tradução livre: Francisco Vianna
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