A apresentação política da
gestão governativa que o Governo fez este fim-de-semana, enquadrado pelos
grupos parlamentares do PSD e CDS, foi um dos mais excepcionais actos de
comunicação do Governo desde que tomou posse. E aqui sou forçado a retirar a
minha reiterada crítica sobre a insuficiente e deficiente comunicação do
Governo tem tido com os portugueses.
Com esta acção colocou-se a
ganhar cinco a zero no debate político. Vejamos.
COMUNICAÇÃO
A propriamente dita. Ultrapassou
o handicap de um ano, com os ministros a serem esclarecedores sobre “o quê e o
porquê” das suas políticas, falando directamente para os portugueses. A
eficiência foi tanto mais notória quanto o foi a imediata contra-informação
fabricada nos “sítios do costume”, ressuscitando o caso Relvas na tentativa de
atenuar o impacto da comunicação.
IMAGEM
O tropeção táctico do Governo
com a questão da TSU e do IMI foi ultrapassado, e parcialmente esquecido, pela
capacidade de demonstrar que tem elasticidade política para procurar outras
soluções dentro do caminho estreitíssimo que é o PAEF, e que o Tribunal
Constitucional tornou ainda mais difícil de atravessar. Mesmo para quem,
contrariado, vai sofrer as consequências do IRS e IMI, hoje é claro que não há
alternativas óbvias neste momento dentro do quadro europeu.
CONSISTÊNCIA GOVERNATIVA
Juntar os grupos parlamentares
do PSD e CDS numa acção comum, demonstrando uma unidade responsável perante a
difícil situação que o país enfrenta, eliminou o conteúdo e retirou dos
holofotes a campanha de Mário Soares (prestamente convidado por Maria Flor
Pedroso para uma entrevista na RTPN “em cima do acontecimento”) e das outras
“vozes” (adoro esta expressão do Expresso numa exibição canhestra não
jornalística de “atirar barro à parede” para divulgar notícias sem consistência
política) que davam seguimento à campanha iniciada no Público de que “ este
Governo estava acabado “ e que o “Presidente tem de tomar conta disto “.
RENOVAÇÃO ESTRATÉGICA
Ao lançar o tema da
“refundação”, o Primeiro-ministro comunica ao país que este orçamento para 2013
é um ponto de partida, não um ponto de chegada. Que este Governo não vai ser
simplesmente os “fixers” do descalabro do anterior governa socialista.
Demonstra que este Governo cumprirá o Programa de Ajustamento até ao momento em
que terá a credibilidade suficiente para negociar novos parâmetros com o BCE e
EU (o FMI, aparentemente, já está disposto a tal) que permitam a Portugal
ressurgir com medidas efectivas de suporte ao investimento, criação de emprego
e no suporte à importantíssima gestão política do desemprego.
Ao ter deixado “libertar a
informação” de que o Governo vai negociar com a EU a permissão de que os novos
investimentos possam ter um período de carência prolongado de redução do IRC
para 10%, demonstrou-se com um exemplo o que é a “refundação”: é a criação de
novos parâmetros que permitam libertar Portugal das regras negociadas em
condições severas que resultaram da bancarrota que o anterior governo nos
deixou.
LIDERANÇA POLÍTICA
Com o PS preso aos serôdios
complexos ideológicos herdados do PREC de que não permitirá alterações
constitucionais que ponham em causa o seu “estado social dos socialistas”, o
Governo fica com o caminho livre para liderar politicamente esta questão no
próximo futuro.
Porque a questão não é pôr em
causa o Estado Social. É provar que o Estado Social dos Socialistas colocou
Portugal na bancarrota e levou os portugueses à maior perca de rendimentos da
sua história recente. E que os portugueses merecem e devem ter um Estado Social
idêntico aos modelos europeus testados com sucesso, articulando a participação
pública e privada, e proporcional à sua capacidade de criação de riqueza,
libertando-os da asfixia taxativa que lhes retirou o conforto económico e pôs
em causa a estabilidade das suas famílias. E que esse Estado Social deve ser
eficiente e bem gerido “ para os portugueses”, sobretudo dos mais
desprotegidos, e não em projectos “em nome dos portugueses” que serviram para a
ocupação do Estado por parte de uma “nomenklatura” política, tal como o foi
durante mais de 15 anos.
Título e Texto: Maurício Barra, Forte Apache,
29-10-2012
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