domingo, 28 de outubro de 2012

Marta e FHC ao votar: dois flagrantes que explicam muita coisa

O Ibope acaba de divulgar o levantamento de boca de urna em São Paulo. Segundo o instituto, o petista Fernando Haddad teve 57% dos votos válidos, podendo oscilar entre 55% e 59%. O tucano José Serra teria ficado com 43%, podendo ter entre 45% e 41%.


Reinaldo Azevedo
Eu lhes mostro em dois flagrantes qual é a natureza do PSDB e qual é natureza do PT.  Vamos lá. Ambos mostram por que um partido exerce o terceiro mandato consecutivo, e o outro continua a ter o seu patrimônio depredado.

A ex-prefeita Marta Suplicy foi votar neste domingo. É ministra de Estado. Isso quer dizer que deva ter alguma — nem precisa muita… — compostura. Levando em conta os resultados das pesquisas divulgadas ontem, deu a seguinte declaração:

Desta vez, [Serra] se enforcou com a própria corda (…). Ficaram evidentes as armadilhas que fazia, a pessoa que ele é. Foi bom ver que os paulistanos perceberam e deram o troco”.

É uma fala estúpida!

Quais armadilhas?

Ainda se referindo a Serra, afirmou: “Não é fácil disputar com alguém muito experiente e traiçoeiro”. Entenderam? Serra não seria, assim, um adversário, mas alguém “traiçoeiro”. E por que o tucano a teria “traído”? Suponho que seja porque a venceu em 2004. Em 2008, ela foi derrotada por Gilberto Kassab. Traição também?

Marta, sabe-se, só entrou na campanha de Haddad depois de ter recebido da presidente Dilma um ministério de presente. Enquanto esteve fora da campanha,  contribuía para desgastar a imagem de Fernando Haddad mais do que qualquer adversário.

Fica evidente em sua fala, e isso encontra eco na imprensa paulistana, o esforço de criminalização do adversário. Marta, a gente nota, acha absurdo e ilegítimo que adversários tenham disputado a prefeitura com ela três vezes e que só tenha vencido uma. Para quem disse que Lula é Deus — e ela voltou ao assunto hoje —, não é estranha a concepção de que o poder é um merecimento que só passa acidentalmente pelas urnas.

Eis aí: uma estrela do partido, mesmo se considerando vitoriosa, aproveita para espezinhar aquele que já dá como derrotado. E isso evidencia a sua superioridade moral.

Agora FHC
Agora vamos falar um pouco do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teve a sua biografia política espicaçada ao longo de, atenção!, 16 anos: durante o seu mandato de oito anos, e durante os oito seguintes, no mandato de Lula. Na gestão Dilma, as coisas melhoraram um pouco — o que não quer dizer que ele seja sempre preservado. Agora mesmo, na campanha em São Paulo, os tucanos voltaram a ser acusados de ter privatizado estatais a preço de banana, e o ex-presidente voltou a ser acusado de ter tentando vender a Petrobras e o Banco do Brasil, o que é mentira.

O que disse FHC neste domingo? Na prática, vênia máxima, aderiu, ainda que de modo oblíquo, à metafísica petista. Fazendo eco ao discurso da “renovação” — como se isso se resumisse a pessoas, não a ideias — afirmou que o PSDB “precisa voltar a ter uma atitude muito mais próxima do que o povo está sentindo (…) Tem de estar alinhado com o futuro.” Não sei o que isso quer dizer, mas concordo. Com isso, com a Lei da Gravidade e com a Terceira Lei de Newton. Foi ainda mais explícito: disse que “o partido vai precisar de renovação”. E mais: “A gente tem que empurrar os novos para ir para a frente”,

Se Marta chama Serra de “traiçoeiro” e usa metáforas de paz como “corda” e “pescoço”, o ex-presidente age de outro modo. Considera, destaca a Folha, “Haddad uma pessoa séria”. Falou também sobre o mensalão e coisa e tal, mas é evidente que isso não iria parar no lead de reportagem nenhuma.

Caminhando para a conclusão
Ainda voltarei a esse tema, claro! Os sinais que estão aí remetem a coisas mais relevantes do que dão entender à primeira vista. Ah, sim: o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, também se pronunciou sobre a eleição anunciando um troço estranho: “a maior derrota municipal da história do PSDB” — seja lá o que isso signifique. Supõe-se que esta mesma derrota já tenha sido do PT, quando, em 2004, perdeu para o PSDB… Com raciocínios assim tão singelos, conduz a educação do país.

Os petistas já não escondem: deram a largada para o que consideram a tomada do “Palácio de Inverno”: o governo de São Paulo. Vão insistir nos próximos dois anos no discurso da “renovação”, como se Geraldo Alckmin estivesse a cometer um crime em disputar a reeleição em 2014. É a turma comandada por Lula, que, amante do novo, disputou a Presidência da República CINCO vezes! E só não disputou uma sexta porque o Senado recusaria a emenda da (re)reeleição.

O caminho para tentar chegar aos Bandeirantes já está dado, e as tropas já estão prontas. Há muitos aliados objetivos na jornada (ver o conceito de “aliado objetivo”): de setores importantes da imprensa ao PCC.

Mas não só: também o PSDB costuma ser um entusiasmado aliado objetivo do PT. O mais impressionante é que, quanto mais o remédio se mostra errado, mais convictos se mostram os tucanos de sua eficácia.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 28-10-2012

Os leitores portugueses, ou melhor, os leitores que se interessam (ou conhecem) a atual realidade da política em Portugal (meu costelão lusitano ainda dá o benefício da dúvida, se é a realidade em ou de) saberão decalcar aqui personagens de lá. Inté!

3 comentários:

  1. Oi,Jim

    Eis o resultado em SP:


    http://eleicoes.uol.com.br/2012/noticias/2012/10/28/fernando-haddad-pt-e-eleito-prefeito-de-sao-paulo.htm


    E lembrando que SP é o trampolim natural pro Planalto...well...


    Bjs

    Lícia

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  2. Oi, amiga Lícia!
    Obrigado!
    Há minutos postei o "resultado oficial"... com "comentário"...

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  3. Oi de novo,Jim

    Não há de quê,amigo.

    Legal,vou ler o novo post comentado.

    Bom,após formatar o PC e o notebook,arrumar um montão de coisas e tomar muitas providências na vida real, o STF amainar um pouco,e finalmente as eleições terem acabado,agora poderei retomar minha rotina de blogueira (UFA!),o que inclui visitar com calma o Cão Que Fuma e trocar ideias...hehehe.

    Bjs

    Lícia

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