Henrique Raposo
Na semana passada, descobrimos
que a Câmara Municipal de Lisboa do genial António Costa vai ficar responsável
pelas despesas da genial Fundação Saramago. Ou seja, água, luz e demais coisas
comezinhas não cabem na genialidade da Fundação. Os génios, como se sabe, não
sabem o que é a conta da luz. Seja como for, este encargo significa mais 50 mil
euros por ano. Coisa pouca, diga-se. Nada que se compare à doação da Casa dos
Bicos à Fundação Saramago, depois de ter sido devidamente arranjada com obras
financiadas pelo erário público. Portanto, bem vistas as coisas, tudo isto
acaba por fazer sentido: a CML fez uma espécie de habitação social para um
génio, e agora tem de pagar as despesas correntes do génio. E, atenção, as
declarações da Presidenta da Fundação também fazem todo o sentido. Pilar del
Rio anda por aí a dizer que a democracia está morta, que não há democracia.
Tenho de concordar: de facto, não há democracia quando alguns privilegiados
dispõem deste acesso directo ao erário público.
Mas deve ser tão bom bancar o
benemérito com o dinheiro dos outros.
Título e Texto: Henrique Raposo, Expresso,
30-10-2012
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