quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O país está a mudar. À força, mas está!

Camilo Lourenço 

Há dois anos a expressão "corte de despesa" era exclusiva de um pequeno grupo de "malucos". Agora não há português que não a pronuncie. Há dois anos ninguém admitia despedimentos no Estado; agora todos sabem que é uma certeza (só não se sabe quantos e quando). Há dois anos ninguém admitia cortes nos salários; hoje tornou-se uma dura realidade, no sector público e privado.
Curioso: tudo isto está a acontecer num país que grita, esperneia, e manifesta. Parece contraditório, mas não é.
Se confiássemos apenas nas imagens que vemos na TV e nos jornais, diríamos que nada está a mudar. Nada mais falso: o país por trás dos protestos e das manifestações está a mudar. E muito. Nos hábitos (a poupança aumentou); na percepção dos problemas estruturais (v.g., excesso de despesa, educação disfuncional, carga fiscal inimiga das empresas), na "fiscalização" da classe política...
Mas apesar desta evolução, que mostra a flexibilidade do país, não podemos cantar vitória. Veja-se o caso da despesa: não deve haver quem não a defenda. Mas quando se explica que os cortes têm de incidir na área salarial (entre 70 a 75% da despesa tem que ver com salários e prestações sociais), ninguém gosta. Nem o próprio Tribunal Constitucional...
Como estas mudanças estão a acontecer por imposição externa, vamos acabar por fazê-la. Mas esse é o grande desafio que temos pela frente: como é a terceira vez que fazemos estas mudanças à força, temos de mudar de vida. Isto é, ou mudamos as regras que disciplinam o funcionamento do Estado e da economia, ou daqui a cinco anos temos outra Troika à perna. Não poderia haver maior atestado de incompetência à classe política que nos dirige.
Título e Texto: Camilo Lourenço, Jornal de Negócios

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-