Camilo Lourenço
Há dois anos a expressão
"corte de despesa" era exclusiva de um pequeno grupo de
"malucos". Agora não há português que não a pronuncie. Há dois anos
ninguém admitia despedimentos no Estado; agora todos sabem que é uma certeza
(só não se sabe quantos e quando). Há dois anos ninguém admitia cortes nos
salários; hoje tornou-se uma dura realidade, no sector público e privado.
Curioso: tudo isto está a
acontecer num país que grita, esperneia, e manifesta. Parece contraditório, mas
não é.
Se confiássemos apenas nas
imagens que vemos na TV e nos jornais, diríamos que nada está a mudar. Nada
mais falso: o país por trás dos protestos e das manifestações está a mudar. E
muito. Nos hábitos (a poupança aumentou); na percepção dos problemas
estruturais (v.g., excesso de despesa, educação disfuncional, carga fiscal
inimiga das empresas), na "fiscalização" da classe política...
Mas apesar desta evolução, que
mostra a flexibilidade do país, não podemos cantar vitória. Veja-se o caso da
despesa: não deve haver quem não a defenda. Mas quando se explica que os cortes
têm de incidir na área salarial (entre 70 a 75% da despesa tem que ver com
salários e prestações sociais), ninguém gosta. Nem o próprio Tribunal
Constitucional...
Como estas mudanças estão a
acontecer por imposição externa, vamos acabar por fazê-la. Mas esse é o grande
desafio que temos pela frente: como é a terceira vez que fazemos estas mudanças
à força, temos de mudar de vida. Isto é, ou mudamos as regras que disciplinam o
funcionamento do Estado e da economia, ou daqui a cinco anos temos outra Troika
à perna. Não poderia haver maior atestado de incompetência à classe política
que nos dirige.
Título e Texto: Camilo Lourenço, Jornal de Negócios
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