quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O poder da literatura independente

Carlos Lúcio Gontijo
Dizia minha mãe Betty Rodrigues Gontijo, falecida em 19 de dezembro de 1989, que devemos sempre ser os primeiros a buscar qualidades em nós mesmos, pois gente para nos desqualificar é coisa que nunca nos faltará. Os que batalham como nós na área da literatura independente carregam o peso do desânimo, pois muitas vezes travam uma luta aparentemente inglória contra o descaso dos gestores da cultura brasileira, construindo um panorama perverso, em que as pedras no caminho se multiplicam de maneira extraordinária, como é o caso das tais feiras de livros, que sequer dispõem de estandes para a exposição de obras sem o selo ou chancela de renomadas editoras.
Da minha parte, apesar de todos os pesares, considero-me um vitorioso, afinal estou na estrada literária desde 1977, tomando como marco inicial a edição de meu primeiro livro. De lá para cá, não parei de escrever, seja editando livros, seja publicando artigos em jornais. Tenho a absoluta certeza de que são os autores independentes os que cuidam de preparar o terreno para a existência dos grandes nomes da produção literária, pois são eles que semeiam nos núcleos comunitários a sensibilização do espírito das pessoas em relação à arte da palavra escrita, uma vez que os “notáveis” estão sempre distantes do público e seu dia a dia. Contudo, faça chuva, faça sol, lá está o pequeno autor desenvolvendo seu trabalho incansável.
Impressiona-me a força do trabalho literário independente. Tenho atendido a vários pedidos de prefácio para a apresentação de obras independentes, entre eles a comovente solicitação de minha primeira professora, Clélia Aparecida Souto e Couto, que lançou um excelente livro de poemas e reminiscências de sua vida, intitulado “A Casa Grande & Clareiras de Clélia”, numa concorrida noite de autógrafos, em Santo Antônio do Monte. Depois, no município de Leandro Ferreira, fui prestigiar o lançamento do livro de Ana Batista Faria, jornalista e pedagoga, que se nos apresenta, em “Enigmas do Horizonte”, com uma prosa repleta de laços com a natureza. E, encurtando o assunto, ainda escrevi prefácio para livro inédito da escritora e poetisa Regina Morelo (“Saudável overdose de lembranças”); Ieda Alkimim, que nos honrou com convite para abertura de romance vivido nos anos da ditadura militar; além disso, houve o prazenteiro recebimento de exemplares de obra em que se encontram mais de 50 poetas participantes do 8º Belô Poético; tomei contato, por intermédio da poetisa Bilá Bernardes, com uma edição de poemas eróticos (“Completa Ceia”), de Rogério Salgado, em formato tão criativo quanto os versos nele inseridos.
Tenho que relacionar também os prefácios para “Crônica do amor virtual e outros encontros”, do poeta e escritor J. Estanislau Filho; para “Triângulo Vermelho”, excelente romance do poeta Ádlei Duarte de Carvalho; e há mais tempo, para “Aversão comentada”, do advogado e escritor João Silva. Enfim, perambulando fora do lençol mediático em que se envolvem os autores bafejados pela sorte de contar com o apoio de seus holofotes, é muita gente no exercício da luta renhida do trabalho literário independente por este nosso Brasil adentro, onde ainda não conseguimos virar a página de muitas situações anômalas, como a existência de autoridades legalmente constituídas a desfilar com dourados pálios ou suas iluminadas capas escuras, que lhes servem de mantos e escudos, fazendo-as crer, erroneamente, que podem colocar-se acima do povo que as remunera através da arrecadação de impostos cada vez mais altos, mas claramente em pleno acordo com o avanço da empáfia e a desenfreada briga intestina, tanto pelo poder quanto pela simples vaidade de demonstrá-lo, mesmo que intempestivamente, na base do vale tudo, do inconfessável revanchismo e do total descompromisso com o destino dos mais pobres cultural e materialmente.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, poeta, escritor e jornalista, 31-10-2012

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