Carlos Lúcio Gontijo
Dizia minha mãe Betty
Rodrigues Gontijo, falecida em 19 de dezembro de 1989, que devemos sempre ser
os primeiros a buscar qualidades em nós mesmos, pois gente para nos
desqualificar é coisa que nunca nos faltará. Os que batalham como nós na área
da literatura independente carregam o peso do desânimo, pois muitas vezes
travam uma luta aparentemente inglória contra o descaso dos gestores da cultura
brasileira, construindo um panorama perverso, em que as pedras no caminho se
multiplicam de maneira extraordinária, como é o caso das tais feiras de livros,
que sequer dispõem de estandes para a exposição de obras sem o selo ou chancela
de renomadas editoras.
Da minha parte, apesar de
todos os pesares, considero-me um vitorioso, afinal estou na estrada literária
desde 1977, tomando como marco inicial a edição de meu primeiro livro. De lá
para cá, não parei de escrever, seja editando livros, seja publicando artigos
em jornais. Tenho a absoluta certeza de que são os autores independentes os que
cuidam de preparar o terreno para a existência dos grandes nomes da produção
literária, pois são eles que semeiam nos núcleos comunitários a sensibilização
do espírito das pessoas em relação à arte da palavra escrita, uma vez que os
“notáveis” estão sempre distantes do público e seu dia a dia. Contudo, faça
chuva, faça sol, lá está o pequeno autor desenvolvendo seu trabalho incansável.
Impressiona-me a força do
trabalho literário independente. Tenho atendido a vários pedidos de prefácio
para a apresentação de obras independentes, entre eles a comovente solicitação
de minha primeira professora, Clélia Aparecida Souto e Couto, que lançou um
excelente livro de poemas e reminiscências de sua vida, intitulado “A Casa
Grande & Clareiras de Clélia”, numa concorrida noite de autógrafos, em
Santo Antônio do Monte. Depois, no município de Leandro Ferreira, fui
prestigiar o lançamento do livro de Ana Batista Faria, jornalista e pedagoga,
que se nos apresenta, em “Enigmas do Horizonte”, com uma prosa repleta de laços
com a natureza. E, encurtando o assunto, ainda escrevi prefácio para livro
inédito da escritora e poetisa Regina Morelo (“Saudável overdose de
lembranças”); Ieda Alkimim, que nos honrou com convite para abertura de romance
vivido nos anos da ditadura militar; além disso, houve o prazenteiro
recebimento de exemplares de obra em que se encontram mais de 50 poetas
participantes do 8º Belô Poético; tomei contato, por intermédio da poetisa Bilá
Bernardes, com uma edição de poemas eróticos (“Completa Ceia”), de Rogério
Salgado, em formato tão criativo quanto os versos nele inseridos.
Tenho que relacionar também os
prefácios para “Crônica do amor virtual e outros encontros”, do poeta e
escritor J. Estanislau Filho; para “Triângulo Vermelho”, excelente romance do
poeta Ádlei Duarte de Carvalho; e há mais tempo, para “Aversão comentada”, do
advogado e escritor João Silva. Enfim, perambulando fora do lençol mediático em
que se envolvem os autores bafejados pela sorte de contar com o apoio de seus
holofotes, é muita gente no exercício da luta renhida do trabalho literário
independente por este nosso Brasil adentro, onde ainda não conseguimos virar a
página de muitas situações anômalas, como a existência de autoridades
legalmente constituídas a desfilar com dourados pálios ou suas iluminadas capas
escuras, que lhes servem de mantos e escudos, fazendo-as crer, erroneamente,
que podem colocar-se acima do povo que as remunera através da arrecadação de
impostos cada vez mais altos, mas claramente em pleno acordo com o avanço da
empáfia e a desenfreada briga intestina, tanto pelo poder quanto pela simples
vaidade de demonstrá-lo, mesmo que intempestivamente, na base do vale tudo, do
inconfessável revanchismo e do total descompromisso com o destino dos mais
pobres cultural e materialmente.
Título e Texto: Carlos Lúcio
Gontijo, poeta, escritor e jornalista, 31-10-2012
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