sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A China não é nem de perto nem de longe o que o Ocidente pensa dela

Francisco Vianna
A humanidade está vivendo, neste início de século XXI, a era da informação, mas, também e principalmente, a era da desinformação. Um exemplo dessa afirmação é a ideia errônea que se espalhou no Ocidente sobre o poderio da China comunista.

Agitação popular atinge grandes fábricas ocidentais na China: a Foxconn.
“Reveja tudo o que você pensa que sabe sobre a China, pois é provável que em grande parte você esteja errado”, escreveu de forma categórica o chinês Minxin Pey, para a respeitada revista “Foreign Policy” (Política Externa). Afinal, a China não é isso tudo em matéria de potência econômica, política e militar que se diz no Ocidente, principalmente pela turma da esquerda viúva da ex-União Soviética. Tal afirmação pega muita gente de surpresa, mas o professor Pey (vide foto e dados abaixo) apresenta uma argumentação sólida e convincente em seu artigo para a revista “Foreign Policy”.
Pey destaca, logo de início, que erros de interpretação desse tipo são comuns na imprensa ocidental onde muita gente escreve muita coisa sobre matérias controversas e que, muitas vezes, é preciso ter um conhecimento maior dos fatores em jogo para que se tenha uma ideia mais próxima da realidade das nações. “Nos últimos 40 anos, os americanos e ocidentais de um modo geral custaram a perceber o quanto suas nações rivais, especialmente, as que seguem um modelo socialista e totalitário, decaíram em relação aos países capitalistas de economia com base na empresa privada e na economia de livre mercado. Há quatro décadas, os americanos pensavam que a União Soviética era uma potência comparável aos EUA e maior do que as nações mais evoluídas da Europa. Não tinham como observar a miséria que jazia por baixo de todo aquele poderio bélico acumulado na mão do estado soviético. Da mesma forma, no final da década de 1980, os ocidentais achavam que o Japão iria superar os EUA como potência econômica.


Minxin Pei é um especialista em governabilidade da República Popular da China, em relações sino-americanas, e democratização nas nações em desenvolvimento. É atualmente diretor do ‘Keck Center’ para Estudos Estratégicos Internacionais no Colégio Claremont McKenna e ex-associado sênior do Programa Ásia na ONG “Compromisso Carnegie Para a Paz Internacional”. Formou-se na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai e fez o curso de PhD em Harvard e graduou-se como M.F.A. pela Universidade de Pittsburgh. Pei escreve para diversos jornais e revistas, tais como a China Quadrimestral, a Foreign Policy, a China Today, O Diplomata, e a Rádio Pública Nacional, entre outras. Ele já esteve listado entre os 100 principais intelectuais do mundo da revista Prospect.
Para o professor Pei, o Ocidente está a errar de forma semelhante quando supervaloriza a China, mais pelo fato de que uma infinidade de industriais americanos para lá se foram e montaram lá suas fábricas para tirar proveito da mão-de-obra extremamente barata – semiescrava para dizer melhor – e, a seguir, enumera os sinais assustadores da fragilidade chinesa. Entre esses sinais, o professor destaca a “desaceleração persistente do crescimento econômico, a grande quantidade de bens, principalmente de moradias – que permanecem sem ser vendida e formando verdadeiras cidades fantasmas –, o crescente endividamento bancário das famílias chinesas, formando uma imensa bolha imobiliária de créditos podres – que está prestes a estourar e poderá fazer a sua congênere americana parecer uma brincadeira de criança –, além de uma luta acirrada pelo poder dentro do atual politburo comunista, que vive num mundo de fantasia à parte da realidade da pobreza de quase um bilhão e meio de chineses que têm pouca ou nenhuma visibilidade dos seus intermináveis escândalos políticos, como é típico dos países comunistas.
“Muitos efeitos colaterais dessa ascensão da China, forçada pelo estado — como o envelhecimento demográfico, o descaso pelo meio ambiente, a mão-de-obra ainda super barata, o acesso virtualmente ilimitado aos mercados externos, além da baixíssima qualidade dos serviços públicos — estão contrastando cada vez mais com o progresso material irreal e em processo de estagnação e queda”, diz Pey.


A intensificação da repressão é um mau sinal de que a insatisfação pública cresce juntamente com a insegurança econômica e política do povo.
No entanto, nas esferas políticas e midiáticas do Ocidente, se finge não perceber tudo isso e se age de forma equivocada o que determina um processo extenso e difícil de reverter de desinformação do público. Um paradigma disso é a política adotada pelo presidente Obama para a Ásia, além de outros exemplos que destacam tamanha desinformação.
Diversas ONGs “formadoras de opinião”, também conhecidas como “think tanks” no Ocidente, tais como o Centro Para o Progresso Americano (Center for American Progress) e o Centro Para a Próxima Geração (Center for the Next Generation), ambos movidos por ideais socialistas, dão ênfase à visão distorcida da realidade chinesa que se tem hoje na América, como o fato expresso num relatório de que “a China teria 200 milhões de estudantes diplomados em 2030”, e, em função disso, pintando um quadro deprimente do declínio americano.
Os que promovem essa visão aberrante da China, já não conseguem mais fingir que não percebem a anarquia e o eventual desabamento catastrófico da economia e da ditadura comunista que está em vias de ocorrer no continente amarelo.
Então, alegam que a China está passando apenas por uma crise econômica cíclica, como ciclicamente ocorre em países capitalistas, ligada à crise maior que assola a União Europeia e, também, em menor medida, os EUA, resultando na queda da demanda internacional. 


Milhares de revoltas populares expõem a fragilidade do sistema político, mas isso permanece fora do alcance visual de grande parte do Ocidente.
“Todavia, a desaceleração econômica corrente em Pequim não é nem cíclica, nem o resultado de uma demanda externa fraca por bens chineses”, explica o professor Pei. Tais processos sociais na China têm raízes muito mais profundas: um estado autoritário que agora, de forma crescente tenta dilapidar o capital e começa a afugentar o setor privado que foi para lá em resposta ao aceno estatal no sentido contrário, expõe a ineficiência sistêmica e a falta de inovação mantidas por uma elite governante parasita e interessada exclusivamente no enriquecimento pessoal e na perpetuação de seus privilégios políticos sobre um setor financeiro dolorosamente subdesenvolvido, e sofrendo crescentes pressões ecológicas e demográficas”.
Tal descompasso entre a percepção americana da força chinesa e a realidade da fraqueza do gigante asiático – um gigante com pés de barro, como era a ex-União Soviética – tem consequências reais adversas, infelizmente. Pey, em seus escritos, adverte o Ocidente que reavalie usando critérios realistas e matemáticos, as argumentações básicas que determinam as suas atuais políticas externas em relação à China e passem a considerar estratégias alternativas, sob pena de muitos países ocidentais serem, em futuro próximo, arrastados a catástrofes ainda impensadas hoje.
Título e Texto: Francisco Vianna, 31-10-2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-