Você deixou tudo a tua cara
Só pra deixar tudo
Com cara de saudade.
Só pra deixar tudo
Com cara de saudade.
Alice Ruiz
Archimedes Marques
O que chamamos de morte e que
na verdade é apenas o desencarne, o fim da vida terrena, é um caminho
inevitável. Temos todos, um dia ou outro, hoje ou amanhã, próximo ou mais
demorado, de uma forma ou de outra, que viver isso. Não porque é uma fatalidade
do destino, mas porque faz parte da vida desde que a nossa vida se faz vida.
Mas o que sempre esperamos, torcemos e pedimos ao Criador é que os bons,
aquelas pessoas ILUMINADAS que só fazem o bem ao seu semelhante durem mais
tempo, sobrevivendo aos maus.
Assim cada um de nós vive,
mesmo se de maneira dolorosa igual, de um jeito diferente as diferentes perdas
pelas quais temos que atravessar, embora saibamos muito bem que dessas perdas
ficam os seus exemplos, positivos ou negativos.
E mesmo quando o tempo
consegue aplacar essa dor, estancar esse dissabor, sempre fica dentro da gente
aquele sentimento indecifrável de vazio junto com a saudade, sensações que
perduram até chegar a nossa hora, então passando tais sentimentos para os
nossos amigos que também chorarão por nós, caso mereçamos, e assim
sucessivamente. É a vida daqueles que sobrevivem a vida dos seus amigos, dos
seus entes queridos.
Absoluta certeza tenho que não
somente eu sinto essas sensações com a perda do amigo ALCINO ALVES COSTA, mas
também centenas de outras pessoas, pois o CAIPIRA DE POÇO REDONDO (como ele
próprio carinhosamente gostava de ser chamado) sem dúvida alguma foi um homem
ILUMINADO que bem soube iluminar a todos que o cercavam, uma pessoa abençoada
por Deus que irradiava e continuará na saudade irradiando luz, irradiando
alegria, irradiando paz, irradiando harmonia, também irradiando determinação,
irradiando a coragem do bravo sertanejo. Alcino é desses abençoados amigos que
para sempre ficam guardados “debaixo de sete chaves”, pois além de tudo ele
abençoava os seus amigos com a sua áurea desprovida de qualquer maldade. As
diversas homenagens e eloquentes mensagens de despedidas desprendidas por seus
amigos no cortejo funeral ocorrido no seu querido Poço Redondo são inequívocas
provas de tudo isso que falei. Um amigo que bem soube plantar, regar e colher
uma grande legião de amigos.
Poço Redondo, encravado nesse nosso sertão sergipano, na escaldante tarde desse dia 02/11/2012 (coincidentemente o dia dedicado aos mortos) chorou as suas lágrimas de pesar desde a sua residência nas primeiras horas, a Câmara de Vereadores, a missa de corpo presente na Igreja da Matriz, a Prefeitura até chegar ao Cemitério local da cidade em verdadeira romaria de amigos, provando e comprovando o quão querido era e continuará sendo o poeta, compositor, escritor, pesquisador e historiador ALCINO ALVES COSTA, para mim e com certeza para a grande maioria daquele povo, até então, A MAIOR PERSONALIDADE NASCIDA NAQUELAS TERRAS.
Da missa de corpo presente,
além das eloquentes falas dos seus amigos, uma passagem ficará para sempre
guardada na minha memória: uma rosa amarela brilhante e ensolarada retirada do
nosso singelo buquê e repassada às minhas mãos pela minha companheira Elane
Marques, cuja cor específica evoca sentimentos de calor, respeito, alegria,
felicidade e amizade, depositada por mim sobre o caixão então fechado onde
jazia o corpo do CAIPIRA DE POÇO REDONDO, rosa essa que também continha nas
suas pétalas gotas das minhas lágrimas, notei como bom observador, que
colocaram-na para dentro dessa urna funerária assim que fora aberta na própria
igreja quando da bênção final com os Asperges sagrados de água benta realizados
pelo Pároco local. Dessa minha simples homenagem e das suas conseqüências
senti-me agraciado pelas circunstâncias em ver aquela rosa amarela a seguir
junto com o corpo do amigo Alcino em direção ao seu descanso final.
Não só os seus parentes e
amigos, mas também a cultura sergipana, nordestina e brasileira perde um grande
ícone. O sertão perde uma imensa parte da sua identidade. O movimento CARIRI
CANGAÇO jamais será o mesmo sem a presença do grande amigo de todos os seus
componentes. A história do cangaço que sem dúvidas é das mais legítimas
expressões da nossa cultura, da cultura do nosso querido Nordeste, deixa de ter
em “vida matéria” dos seus maiores historiadores, embora as suas obras, os seus
legados, os seus escritos, os seus pensamentos, os seus entendimentos, os seus
ensinamentos vivam para sempre. Com toda certeza daqui a centenas de anos ainda
estarão citando ALCINO ALVES COSTA como fonte de informação, pois as águas
bebidas das suas fontes e também oferecidas ao público foram águas de fontes
saudáveis e não envenenadas, águas de fontes puras e cristalinas, águas das
fontes de um verdadeiro CABRA-MACHO SERTANEJO que de tudo deixou a sua cara e
com isso deixou tudo com cara de saudade como bem diz a escritora e poeta Alice
Ruiz no preâmbulo acima citado.
Ser um desses amigos de
Alcino, para mim foi um dos maiores privilégios, uma verdadeira honra. De
Alcino só me resta eterna gratidão por também fazer parte da sua legião de
amigos.
Que você seja bem-sucedido
também na sua nova morada amigo ALCINO ALVES COSTA e que o seu exemplo de vida
ensine os bons a ser melhores!
Título e Texto: Archimedes
Marques, Delegado de Polícia no Estado de Sergipe e também escritor do
cangaço, 05-11-2012
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