José Meireles Graça
Tenho alguns amigos que revejo
em casamentos, ou funerais, ou baptizados, e que estão mortos há muito - mas
não estão ao corrente do facto.
Esta condição de fantasmas
revela-se pelo estranho comportamento de contarem incansavelmente uns aos
outros, e a mim, as mesmas histórias passadas há mais de quarenta anos e que
todos sabemos de cor. Era num tempo em que eles tinham a importância que perderam,
as esperanças que o futuro desmentiu e o estado de permanente exaltação que
acompanha os anos verdes.
Casaram, tiveram filhos,
separaram-se ou não, tiveram o seu quinhão de alegrias e tristezas - mais
destas -, o mundo que conheceram já não existe, mas é ainda à luz do que então
eram que veem o presente, que por contraste lhes parece infalivelmente uma
coisa bem cinzenta e desprezível.
É da ordem natural das coisas
- alguns de nós perderam a capacidade de entender o mundo que nos rodeia e o
passar do tempo reforçou a saudade mas não a lucidez, que aliás nunca abundou.
E mesmo que na estultícia da
análise, às vezes, nem tudo seja para deitar fora, sempre a condição de
mortos-vivos é o que lhes explica o discurso.
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