quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Deixem o ministro falar francamente

Márvio dos Anjos 

Em sua descrição sobre os presídios brasileiros («são medievais», «preferia perder a vida a passar anos numa prisão brasileira») o ministro brasileiro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não nos disse nada que já não soubéssemos há tempos. Deu aquele tipo de declaração franca que quase nunca esperamos de um ministro de Estado. Nossas prisões são depósitos desumanos de gente – sempre foram. Aliás, em termos de custódia de pessoas, o Estado brasileiro pode escrever enciclopédias sobre sua desumanidade patente ao longo dos anos: presos políticos, índios em reservas, doentes em manicômios e, mais recentemente, viciados em crack podem dar testemunho dos invisíveis campos de concentração para as gentes indesejáveis.


Nossa legislação não fala em regime fechado e martirizante, e no entanto é o que temos. Tampouco fala em acesso ao mundo exterior para apenados de alto risco, mas a atual onda de violência no Estado de São Paulo, com média de 10 mortos por dia, parte de ordens dadas dentro de presídios. Em suma, poucas coisas são mais obsoletas e imprestáveis do que um presídio brasileiro. E dez anos destas culpas já cabem ao PT de Lula e Dilma.
Um ministro da Justiça não querer ir para uma cadeia brasileira é até razoável – não conheço ninguém que queira ir para qualquer cadeia, e creio que em Portugal não se encontrariam fãs delas. Mas gostaria de saber como se sairiam outros ministros em declarações hipotéticas, pois suspeito que a década se perdeu também em outras áreas.
Depois de 10 anos de PT, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, confiaria filhos ou netos à escola pública? O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, se permitiria tratar uma doença grave no Sistema Único de Saúde? O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, se aventuraria num trajeto de ônibus num rush de São Paulo, Rio ou Recife? Se deixarmos os ministros daqui e daí responderem a tais perguntas, perceberemos a inconveniência das opiniões honestas para qualquer governo.
Título e Texto: Márvio dos Santos, Destak, 21-11-2012

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