domingo, 25 de novembro de 2012

Fantasma da mexicanização

Valfrido M. Chaves

Ilustração: Davi Sales
Sabido é que o simpático e sofrido México, tendo seu povo flagelado pelo banditismo associado às drogas, hoje empresta seu nome para definir como “mexicanização” ao processo de perda de controle sobre a criminalidade, em qualquer sociedade. Sem dúvida, a grande chaga do México tem sido sua vizinhança, pois, além de perder metade de seu território para o grande irmão do Norte, tornou-se verdadeira terra de ninguém, como rota para o fornecimento das drogas ao consumidor americano. E isso se deu, leitor, ao lado de um longo período de estabilidade econômica.
No Brasil, vemos o Estado brasileiro ainda recuperando, no Rio de Janeiro, boa parte de seu território sob o domínio do banditismo. São Paulo, capital do maior Estado da federação, enfrenta verdadeira guerrilha urbana comandada por quadrilhas, tragédia que pode estender-se para outros Estados. Tudo parece ser uma ação estratégica, uma chantagem visando a manutenção das condições para que as prisões funcionem como centrais de comando da marginalidade. O assalto ao trem pagador estatal sofreu um duro revés com a condenação, pelo STF, daqueles envolvidos no “Mensalão”, definido pelo Ministro Celso de Mello, como “atrevida macro delinquência governamental”. Entretanto, os membros da quadrilha punida revelam a mesma ousada intenção de quadrilhas outras que agem em São Paulo: constranger e desmoralizar o Estado, neste caso, o STF, através de ações político-partidárias.
Por sorte da Nação, a Polícia Federal levanta a cortina de práticas delituosas à sombra do poder estatal, no próprio escritório da Presidência em São Paulo, envolvendo gente de proa, justamente ligada à quadrilha punida pelo STF. Só dizendo “Deus é pai”. Mas se constatação, diagnósticos, hipóteses, teses, artigos e editoriais resolvessem nossas aflições, de há muito teríamos chegado ao paraíso. Sem exagero, a maré da mexicanização está no pescoço e o Estado brasileiro mostra-se falido quanto à segurança e educação da maioria. Há raras e honrosas exceções, como nas ações do STF e da Polícia Federal, sucateada, pela palavra de suas associações. Somos ótimos em manifestações passeateiras, camisetas brancas, de preferência com olor de maconha. As famílias enlutadas, carregando suas dores, movem-se tentando alguma coisa enquanto nos presídios leis maravilhosas têm como resultado a impotência da repressão aos longos braços do bandido na sociedade. Mas nada fá-las mudar. Todo psicopata volta prá rua em 6, 7 anos. O Legislativo? Melhor não falar, prá que dizer o que todos sabem? E a maré da mexicanização sobe. Onde está a reação da sociedade?
Título e Texto: Valfrido M. Chaves, Psicanalista, 25-11-2012

"O PM que tomba é punido com a reprovação e o silêncio, ninguém presta solidariedade à sua família; o 'mano' que tomba é velado como herói revolucionário" (Foto: Diogo Moreira/Frame/Folhapress)

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