José Ribeiro, Diretor do "Jornal de Angola" assinou o editorial de ontem, domingo, 18 de novembro de 2012. Nele escreveu verdades inconvenientes e irrespondíveis, "verdades" que eu venho escrevendo também, mas não com a competência de José Ribeiro. Que os portugueses leiam com atenção e saibam se desvencilhar definitivamente de todo este penduricalho que, ao contrário do que os opositores a este governo e os que odeiam o atual primeiro-ministro (mesmo antes das eleições) se apressam a repetir e a mimetizar, não são bem-intencionados no seu falatório, mas antes só atrapalham quem quer trabalhar e só espalham ressentimento e ódios pessoais. Que essa malta se aposente de uma vez, dando lugar ao que é atual e àqueles que sabem olhar em frente e, muito importante, não têm medo do trabalho e desprezam esmolas e subsídios, é o meu maior desejo!
Os grifos no texto abaixo são meus.
As reacções desencontradas em
Portugal a um simples editorial deste jornal são prova da hipersensibilidade
que atravessa hoje as elites portuguesas e mostram que há muita gente
desactualizada em relação à nova realidade angolana. Isso acontece por culpa da
imprensa portuguesa, que é refractária ao contraditório e à igualdade de
tratamento em tudo o que diz respeito a Angola e aos outros países africanos de
língua portuguesa, porque pensa que é uma ex-potência colonial igual à França e
se pode portar como tal, criando agora os “Angolagate à Portuguesa”, depois do
grande fracasso do processo de Paris.
Alguns jornalistas portugueses
foram culpados do prolongamento da guerra em Angola e são hoje responsáveis da
profunda crise que se verifica na sociedade portuguesa. Em Portugal a liberdade
de imprensa é ditada por uma intrincada teia de grupos de poder ligados a
grandes meios financeiros ilegítimos. E essa é a razão por que a guerra pelo
assalto aos únicos órgãos públicos de imprensa que ainda resistem, a Lusa e a
RTP, é tão acirrada. Em todos os grupos privados, a começar pelo “Impresa”, de
Pinto Balsemão, a liberdade de imprensa apenas existe na medida dos interesses
políticos ou comerciais.
É neste quadro de tragédia que
se deve entender a dificuldade da imprensa portuguesa em informar com verdade a
situação em Angola. Até porque todos os jornalistas que garantiam uma igualdade
de tratamento foram, na última década, afastados das redacções, no quadro de
uma brilhante operação silenciosa. Agora, ou as notícias sobre Angola respeitam
a lógica dos “lóbis” que imperam na SIC, na RTP, na TVI, ou nada passa. Essa
“cultura” anti-angolana passou mesmo pela colocação de “pivots” em pontos
estratégicos para que nada escape aos mentores do negócio. É por isso que nas
televisões e jornais portugueses surgem sempre as mesmas notícias, repetidas
até à exaustão, sobre a corrupção em Angola. E assim se explica por que razão a
imprensa portuguesa em bloco alinhou com o boicote à cobertura das eleições
gerais em Angola. A imprensa portuguesa simplesmente não enviou jornalistas.
Pura coincidência? Não, houve uma acção coordenada e instruções superiores –
aqui sim – para travar o envio de jornalistas, porque o objectivo era omitir
que em Angola se caminha para uma das mais sólidas democracias do mundo.
Mas o mais grave é que a
imprensa portuguesa faz o mesmo com o seu próprio país. Se a comunicação social
portuguesa foi largamente responsável pela prolongada guerra que vivemos em
Angola depois da Independência Nacional, a grave crise económica e social que
hoje se vive em Portugal é igualmente da responsabilidade de jornalistas sem
ética e das elites que os instrumentalizam. Todos juntos esconderam o que se
estava a passar. Por isso não é de admirar que juízes de instrução façam dos jornalistas
agentes provocadores ou que os órgãos de comunicação social se transformem em
tribunais de última instância.
Não é de espantar que qualquer
Primeiro-Ministro anuncie medidas para a saída do país da crise e no minuto
seguinte lhe caia em cima um exército de jornalistas, comentadores e analistas,
em canais sustentados com dinheiro dos contribuintes portugueses e europeus,
com novos fatos e diferentes penteados, a rebentar com as medidas propostas,
sem deixar pedra sobre pedra, e transmitindo para o exterior a ideia de que
Portugal se tornou, tal como a Guiné-Bissau agora e Angola durante a guerra,
num país ingovernável.
Enquanto não se libertar dos
poderosos grupos ilegítimos que o querem sufocar, o jornalismo português está
condenado a ser uma arma de arremesso contra a democracia. Mas não apenas em
Portugal. Os PALOP também estão na mira das máfias políticas e económicas que
dominam os grandes grupos de comunicação social portugueses. As elites
portuguesas chegam ao ridículo de acusar políticos angolanos de estarem há
muitos anos no poder. Mas esquecem-se que em Portugal, nos últimos 38 anos, têm
sido sempre as mesmas caras a agarrarem-se ao osso do poder, alguns até vindos
do tempo do fascismo.
O império mediático de
Murdoch, sabemos agora, foi construído em cima de crimes graves. Os impérios
mediáticos portugueses não precisam de fazer escutas ilegais. Têm no Ministério
Público e na Polícia Judiciária alguém a trabalhar para eles, numa aliança que
torna sectores do jornalismo português armas contra os valores da democracia e
as liberdades individuais. Desta vez usaram essa arma contra governantes
angolanos, e foi apenas contra isso que este jornal se insurgiu.
Ninguém pode aceitar que os
titulares da investigação e acção penal em Portugal alimentem a comunicação
social com “notícias” destinadas unicamente a pôr em causa a honra e o bom-nome
de cidadãos, sejam eles quem forem. Os governantes angolanos foram vítimas,
novamente, dessa prática. E a violação do segredo de justiça foi confirmada
exactamente por quem tinha o dever de impedi-la. Nós não aceitamos este
comportamento, ditado pela inveja e a vingança.
As elites portuguesas estão
muito mal informadas sobre Angola, e isso é culpa da sua imprensa. O Jornal de
Angola deixou há muito de ser o único diário angolano. Há outros, inclusive
gratuitos. Este jornal é independente e a opinião nele expressa é livre. Não
estamos prisioneiros de redes mafiosas nem somos instrumentalizados por
ninguém. O poder político legitimado pelo voto popular respeita a nossa
independência. Convido até os senhores Luís Fazenda e Pacheco Pereira a virem a
Luanda ver como se faz cada edição do Jornal de Angola. Até lhes dou o
privilégio de elaborarem o plano de edição. Vão perceber que este é um espaço
de liberdade como já poucos existem no mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-