Alexandre Borges
Negritos nossos:
(...) Em menos de cinco
minutos, os polícias avançaram, sem olhar a meios, para esvaziar o largo
em frente à Assembleia. Apanhados desprevenidos, muitos cidadãos
tiveram de fugir de um cenário de violência com que não contavam e pelo qual
nada fizeram. Entre estes, esteve um homem de 70 anos que foi derrubado e
agredido durante cerca de dois minutos por membros da polícia. (...)
Se quiséssemos saber pelo Público o que se passou ontem, seria este,
pois, o relato.
Felizmente, há mais jornais, a
web inteira, a rádio e as televisões que transmitiram em longuíssimo directo a
sucessão de acontecimentos. Sabemos, por isso, que a polícia, cumprindo a lei,
avisou que ia carregar dentro de cinco minutos, que carregou apenas de bastão
na mão, e que os "desprevenidos" cidadãos que "nada
fizeram", tinham passado mais de uma hora a atirar pedras, garrafas de
cerveja e petardos à polícia, destruiram a via pública, vandalizaram comércio,
feriram polícias, jornalistas e populares, e prosseguiram, depois, a sua
"desprevenida" actividade, pegando fogo a caixotes do lixo e
danificando automóveis particulares.
Alguém estava no sítio errado,
à hora errada? É absurdo, mas possível. Agora, não peçam à polícia que, depois
de avisar que vai carregar, ainda pergunte a quem não saiu, um a um, se,
porventura, atirou alguma pedra ou se, pelo contrário, alguma lhe acertou na
cabeça, provocando graves danos auditivos.
Há, no Público, gente extraordinária: Paulo Moura e
Alexandra Lucas Coelho (só para falar de alguns jornalistas), Miguel Esteves
Cardoso e Vasco Pulido Valente (só para falar de alguns cronistas), João
Bonifácio e Jorge Mourinha (só para falar de alguns críticos).
Mas temo que isso já não
compense a leitura de um jornal que, de há uns tempos a esta parte, escolheu,
definitivamente, ser tontinho.
Título e Texto: Alexandre
Borges, blogue 31 da Armada, 15-11-2012
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