Guilherme Fiuza
O negro venceu de novo. E o
mundo dos bonzinhos se tornou um pouco mais racista. A maioria das celebrações
pela reeleição de Barack Obama nos Estados Unidos destaca o segundo mandato de
um negro na Presidência do país. Os “progressistas” continuam exaltando Obama
pela cor de sua pele. Isso é racismo. A burrice politicamente correta conseguiu
criar mais uma pérola: os progressistas retrógrados.
Eles não enxergam bem por trás
dos estereótipos. Se enxergassem, continuariam gostando do que veem. Por trás
do estereótipo do presidente negro está o governante bondoso, em mais uma
camada dos clichês que constituem Obama. E os politicamente corretos amam os
clichês, que tornam o mundo mais simples e os liberam da desagradável tarefa de
pensar. A modernidade é assim: esconda-se atrás de um bom slogan e será um
virtuoso.
Existe uma turma boa levando
vida de herói desse jeito doce. O consagrado economista e prêmio Nobel Paul
Krugman gostou tanto de ser o anti-Bush que não largou mais a vida fácil de
alertar o mundo contra a maldade dos republicanos, dos capitalistas selvagens,
das elites poderosas.
Virou quase um José Dirceu de
Princeton, um Luiz Inácio do New York Times. Nesse coro da bondade estão outros
conhecidos acadêmicos providenciais, como o também Nobel Joseph Stiglitz,
sempre tirando da manga uma declaração que faça o populismo esquerdista parecer
profundo. Isso para não falar nos americanos que ganham a vida sendo
antiamericanos, como o teórico Noam Chomsky, ou dos patrulheiros “éticos” de
Hollywood, como Oliver Stone, que chegam a façanhas como tentar transformar
Hugo Chávez em ídolo das Américas.
Obama é um produto desse lixão
chique, desse aparato infernal de boas intenções exibicionistas e
inconsequentes. E qual é a solução dessa esquerda festiva para os Estados
Unidos (e também para a Europa)? Gastar dinheiro. Torrar a grana do Estado, que
não é de ninguém. Almoço grátis para todos. Nem bem foi reeleito, o presidente
democrata já avisou que aumentará os impostos “dos ricos”. Como é hipócrita, a
esquerda. Lá vai ela de novo enfiar a mão no bolso de quem produz, de quem
poupa, de quem investe. E para quê? Para alimentar a insaciável máquina da
burocracia estatal, que promete um bem-estar social inviável e produz
basicamente o bem-estar dela mesma - e da consciência rasa dos “progressistas”.
O mundo, pelo visto, vai à
falência com o sono tranquilo e um sorriso nos lábios. O golpe demagógico dos
populistas é um sucesso. Por onde passa, Obama faz seu discurso vazio, repleto
de clichês de humanismo, mero pretexto para suas caras e bocas ensaiadas com
marqueteiros “modernos”. Um completo canastrão, sem ideias nem liderança,
aclamado não pelo que diz, mas pelo que parece. O público não ouve uma palavra,
só vê o estereótipo do símbolo social, do redentor negro. Obama é prêmio Nobel
da Paz. Nem é preciso dizer mais nada.
Fez estrondoso sucesso um vídeo
de Obama enxugando as lágrimas durante a campanha. Reeleito, qual foi sua
primeira declaração? “Eu amo a Michelle.” Os brasileiros sabem bem o que é
isso, com seu culto inesgotável ao filho do Brasil e à mãe do PAC, ou da
pátria, ou sabe-se-lá-de-quem. Depois do melodrama, Obama veio com a parte
séria, anunciando a medida que provém da única vocação concreta dos populistas:
tomar dinheiro da iniciativa privada. Bondosos do mundo inteiro aplaudem, sem
entender por que os países ricos estão cada vez mais perto da bancarrota.
Enquanto isso, no Brasil, o
desorientado ministro da Fazenda, que já inventou até uma equação ligando o PAC
ao PIB (nem Paul Krugman engoliria essa), admite ao país: o governo não
cumprirá a meta fiscal em 2012. Como se sabe, Guido Mantega é um ministro de
oposição, que critica as mal-dades do Banco Central e dá presentinhos com o IPI
dos carros e das geladeiras. Desta vez, não deu para discordar das raposas
monetárias: o superavit primário - que segura a estabilidade econômica - já era.
Nem tudo está perdido. Se os
bonzinhos começarem a admitir que gastam o dinheiro que não têm, das duas uma:
ou os povos vão à falência muito bem informados ou finalmente param de votar
nesses Robin Hoods de circo.
Título e Texto: Guilherme Fiuza, revista Época
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