segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Político – Social 149

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Politico- Social 149
Mdagraça Ferraz
Gracias a la Vida

Nos porões asquerosos
Mar do esgoto
Fim das latrinas
Junto aos ninhos
da fedentina,
ratos espertos e gordos
dividiam o produto do roubo
-Uni Duni Tê
O Roquefort é meu
O Camembert é teu
E o salame é de nós três
Foi quando um rato
metido a sábio,
cujo nome era José Larápio,
nordestino, barbudo,
improvisou um discurso:
- Estou cansado
desta vida clandestina
e dos longos plantões
noturnos nos fogões das cozinhas
Temos que nos organizar
desde o sul ao norte
Somos a base da pirâmide
Juntos, seremos fortes
-Apoiado. Apoiado-
falou um ratão sarnento
Pés de bode
De longo focinho
e com crespos bigodes
conhecido por Ladino
Larápio continuou
em meio ao fedor:
- É muita a trabalheira
de se buscar o cheiro
para abrir todas as queijeiras
Temos que arrumar um jeito
de nos dar bem
Cadê nossos direitos?
Férias e décimo terceiro?
Devemos nós, os trabalhadores,
exigir mais respeito
Neste momento um rato
chamado Bandido
subiu nas imundícies do tablado
e, exaltado, disse:
- Vamos, então, abrir um Sindicato
E a rataria entrou em euforia
Rebuliço no cortiço
Hora da feira nos bueiros
-É uma boa idéia,
mas meu objetivo
é fundar um Partido Político-
falou Larápio
-Um Partido Político?-
repetiu Bandido
enquanto retirava uma pulga
com sua unha
-Mas quem votaria
em nós- os ratos,
conhecidos por
gostar de porcarias?
Larápio, então, sorriu
E fez brilhar os dentões podres
onde uma linguinha suja
caía para fora da boca escura
-Alteraremos a realidade
O mundo, camaradas, é mera percepção
E vamos justificar
toda a barbaridade
fundando uma nova verdade:
" A dialética"-
algo como nossos rabos-
indecoroso e fétido
A verdade, enfim,
vai depender de nossa vontade
Nesse momento,
uma rata velha,
enxovalhada, carcomida,
chamada Facínora, disse:
-E não seremos mais ratos
Apenas roedores
Larápio corrigiu-a
- Não! Diremos
que somos um tipo de coelho
de orelha curta
e pelo vermelho
Seremos o novo animal
desta nova Páscoa
de uma Nova Ordem Nacional
Bandido, que a tudo assistia,
enxugou o muco
dos bigodes e gritou como um maluco:
-Teremos que adulterar os livros
Falsificar tudo que foi escrito
Queimar todas as páginas
que dizem que os ratos transmitem
doenças infecto-parasitárias
-Melhor! - adiantou Ladino-
Vamos culpar os gatos!
Sim, diremos que os felinos-
nossos grandes inimigos-
é que transmitem disenteria,
listeriose, pestes, impetigo
-Será nossa grande vingança
contra os nossos caçadores
Ganharemos o colo das crianças
E ensinaremos a elas que os gatos são nazistas,
burgueses e egoístas-
Larápio sugeria
-E vamos culpar
todos os problemas
ao excesso de limpeza
Com o tempo, acharão
que a sujeira é uma beleza-
completou Facínora,
esfregando o rosto e o rabo
nos jovens machos
-E iremos BANIR de vez
a palavra RATO
de todos os dicionários
E qualquer entendido-
por exemplo, um veterinário-
que vier bancar o intrometido,
vamos enfiá-lo para sempre
na cela de uma penitenciária
Ou diremos que
não bate bem do juízo
e o trancafiaremos como um louco
em qualquer hospício
Larápio sorria
- Nada de medidas extremistas
que poderão dar nas vistas
Vamos posar como vítimas
e acusá-los de ser preconceituosos,
radicais e fascistas
Falsificaremos, para isto,
os números de todas as estatísticas
Vamos, enfim, atordoar seus juízos
Corrompê-los. Confundi-los.
Lançar nossas mentiras
como verdades cristalinas
em uma cartilha
E faremos com que todos fabriquem
queijos, presuntos e salames
enquanto descansamos
nossas bundas infames
A rataria o aclamava
- Enfim, teremos uma vida decente
Vamos roubar
de forma legítima e legalmente
Na realidade, seremos
uma sofisticada organização criminosa
disfarçada como Partido Político
E Larápio encerrou, emfim, a talentosa prosa
com uma reverencia beatífica
E os ratos riam riam riam
Mas o galo não cantou
quando o dia amanheceu em Brasília
obrigada por teres me lido

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