sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Saudades da Panair


Luiz Carlos Merten

Fui terça ao Rio no que seria um bate-volta, para encontrar Roberto Santucci e Paulo Cursino no set de ‘Dia dos Namorados’. O objetivo era conversar com os dois sobre a parceria e o sucesso das comédias que vêm fazendo – ‘Até Que a Sorte nos Separe’ acaba de bater o recorde nacional do ano e está se encaminhando para os três milhões de espectadores. Já ouço os protestos de colegas críticos, mas se há coisa que não subestimo é o sucesso de público. 

Uma prestigiada ‘autora’ brasileira, cujos filmes andam de mal a pior – não só de bilheteria, de qualidade também -, disse que, se quisesse fazer sucesso de público estaria fazendo filmes da Xuxa – como se fosse fácil, no automático, emplacar um blockbuster

Jean Tulard, no Dicionário de Cinema, falando sobre John Guillermin, diz que ele (o diretor) sente-se à vontade no gênero espetacular e acrescenta, o que acho bem pertinente, que não é, como se sabe (mas muita gente não sabe), um gênero fácil. 

Enfim, o set era na Universidade Oswaldo Mendes, na Estrada das Canoas, Alto da Boa Vista (por ali). Um lugar úmido, gelado, no meio da mata. Chovia, como se diz, a cântaros, o ideal para quem anda entupido de antibióticos, como eu. Para piorar, na volta, o aeroporto fechou (o Santos Dumont) e a Tam ficou cozinhando a gente até lá pelas 11 da noite (o voo deveria ter saído às 19h15). 

Às 11, fomos transferidos para o Galeão, com a promessa de que o voo sairia de lá. Chegamos – éramos centenas de infelizes usuários -, fizemos novo check-in e fomos informados de que voo seria à 1h30. À 1 h, surgiu um funcionário para informar que havia avião, mas não tripulantes.

Nesta altura, já estava todo mundo à beira de um ataque de nervos, as pessoas com o dedo na cara dos funcionários e é curioso, de tanto levar porrada por causa da companhia, eles já desenvolveram uma cara neutra, tipo teflon, na qual a ofensa não cola (nem repercute). 

Apareceu até a polícia federal, muito interessada no caso, mas no que parecia uma ação intimidatória. O agente, inclusive, deixou claro que não tinha poder para pressionar a companhia, mas poderia prender a gente, em caso de quebra-quebra. Muito interessante. 

Não é de hoje que vocês sabem que voo Tam e Gol por necessidade, mas odeio as duas companhias, cuja ascensão – como fenômeno empresarial e de marketing – está ligada ao sucateamento das grandes companhias, a Varig à frente. Não é teoria da conspiração, mas sempre penso que se descobriria alguma coisa na quebradeira das grandes e na irresistível, vertiginosa, ascensão da Tam e, depois, da Gol. 

Os aviões da Tam caíam – não foi um – e a companhia disparava, em vez de ser colocada sob suspeita. 

A Gol, prometendo preços baratos e dando como refresco o banheiro exclusivo para mulheres (na era do feminismo? Com mulher mijando de pé e colocando o pau na mesa para colocar os homens nos devidos lugares? Façam-me o favor. Até cedo o lugar, por ‘cavalheirismo’, mas esse tipo de privilégio não me convence), a Gol, repito, foi outra que disparou. A companhia que oferece o pior serviço do mundo e cujos preços são competitivos para cima? 

Naquela noite, o agente da PF ainda sugeriu que a gente fosse no terminal 1 – estávamos no 2 do Galeão – para formalizar queixa-crime contra a Tam. Era o que devíamos ter feito, mas a companhia conta com a inércia. 

Às 2 da manhã, e querendo voltar para casa, ninguém queria arriscar de perder o voo, se saísse. Aliás, saiu. Às 4 da manhã (3h45). Chegamos às 4h30 em Garulhos, 5h30 estava em casa (em Pinheiros), numa odisseia que começou mais de dez horas antes. 

Parabéns – a Tam economizou hotel para todo mundo, pagou um lanche de m…, que valia para um lugar do Galeão, o Bob’s. Eu queria outro e tive de pagar pelo meu sanduíche. Não é disso que me queixo - o pior é que isso não é a exceção. Já virou praxe nos aeroportos brasileiros. 

O Terminal’, um grande Spielberg, ficava passando na minha imaginação. E, enquanto isso, dona Anac dormia. Admirável mundo novo. 

Ontem, bem ruinzinho, com o peito chiando e o nariz pingando, fui ver ‘E se Vivêssemos Todos Juntos?’, de Stéphane Gobelin. Achei que, cansado como estava, iria cair duro. Vi de olhos bem abertos. Não vou dizer que é um bom filme, tenho minhas dúvidas. Mas gostei de ver Jane Fonda, Geraldine Chaplin, Pierre Richard, Claude Rich e Guy Bedos. Apesar do desrespeito da Tam (e companhia), foi o cinema, ontem, que, mais uma vez, me reconciliou comigo mesmo.
Título e Texto: Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo, 15-11-2012

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