Fui terça ao Rio no que seria
um bate-volta, para encontrar Roberto Santucci e Paulo Cursino no set de ‘Dia dos Namorados’. O objetivo era
conversar com os dois sobre a parceria e o sucesso das comédias que vêm fazendo
– ‘Até Que a Sorte nos Separe’ acaba de
bater o recorde nacional do ano e está se encaminhando para os três milhões de
espectadores. Já ouço os protestos de colegas críticos, mas se há coisa que não
subestimo é o sucesso de público.
Uma prestigiada ‘autora’ brasileira, cujos
filmes andam de mal a pior – não só de bilheteria, de qualidade também -, disse
que, se quisesse fazer sucesso de público estaria fazendo filmes da Xuxa – como
se fosse fácil, no automático, emplacar um blockbuster.
Jean Tulard, no Dicionário de Cinema, falando sobre John Guillermin, diz que
ele (o diretor) sente-se à vontade no gênero espetacular e acrescenta, o que
acho bem pertinente, que não é, como se sabe (mas muita gente não sabe), um
gênero fácil.
Enfim, o set era na Universidade Oswaldo Mendes, na Estrada das
Canoas, Alto da Boa Vista (por ali). Um lugar úmido, gelado, no meio da mata.
Chovia, como se diz, a cântaros, o ideal para quem anda entupido de
antibióticos, como eu. Para piorar, na volta, o aeroporto fechou (o Santos Dumont) e a Tam ficou cozinhando a gente até lá pelas 11 da noite (o voo
deveria ter saído às 19h15).
Às 11, fomos transferidos para o Galeão, com a
promessa de que o voo sairia de lá. Chegamos – éramos centenas de infelizes
usuários -, fizemos novo check-in e fomos informados de que voo seria à 1h30. À
1 h, surgiu um funcionário para informar que havia avião, mas não tripulantes.
Nesta altura, já estava todo mundo à beira de um ataque de nervos, as pessoas
com o dedo na cara dos funcionários e é curioso, de tanto levar porrada por
causa da companhia, eles já desenvolveram uma cara neutra, tipo teflon, na qual
a ofensa não cola (nem repercute).
Apareceu até a polícia federal, muito
interessada no caso, mas no que parecia uma ação intimidatória. O agente,
inclusive, deixou claro que não tinha poder para pressionar a companhia, mas
poderia prender a gente, em caso de quebra-quebra. Muito interessante.
Não é de
hoje que vocês sabem que voo Tam e Gol por necessidade, mas odeio as duas
companhias, cuja ascensão – como fenômeno empresarial e de marketing – está
ligada ao sucateamento das grandes companhias, a Varig à frente. Não é teoria
da conspiração, mas sempre penso que se descobriria alguma coisa na quebradeira
das grandes e na irresistível, vertiginosa, ascensão da Tam e, depois, da Gol.
Os aviões da Tam caíam – não foi um – e a companhia disparava, em vez de ser
colocada sob suspeita.
A Gol, prometendo preços baratos e dando como refresco o
banheiro exclusivo para mulheres (na era do feminismo? Com mulher mijando de pé
e colocando o pau na mesa para colocar os homens nos devidos lugares? Façam-me
o favor. Até cedo o lugar, por ‘cavalheirismo’, mas esse tipo de privilégio não
me convence), a Gol, repito, foi outra que disparou. A companhia que oferece o
pior serviço do mundo e cujos preços são competitivos para cima?
Naquela noite,
o agente da PF ainda sugeriu que a gente fosse no terminal 1 – estávamos no 2
do Galeão – para formalizar queixa-crime contra a Tam. Era o que devíamos ter
feito, mas a companhia conta com a inércia.
Às 2 da manhã, e querendo voltar
para casa, ninguém queria arriscar de perder o voo, se saísse. Aliás, saiu. Às
4 da manhã (3h45). Chegamos às 4h30 em Garulhos, 5h30 estava em casa (em
Pinheiros), numa odisseia que começou mais de dez horas antes.
Parabéns – a Tam
economizou hotel para todo mundo, pagou um lanche de m…, que valia para um
lugar do Galeão, o Bob’s. Eu queria outro e tive de pagar pelo meu sanduíche.
Não é disso que me queixo - o pior é que isso não é a exceção. Já virou praxe
nos aeroportos brasileiros.
‘O Terminal’,
um grande Spielberg, ficava passando na minha imaginação. E, enquanto isso,
dona Anac dormia. Admirável mundo novo.
Ontem, bem ruinzinho, com o peito chiando e o nariz pingando, fui ver ‘E se Vivêssemos Todos Juntos?’, de
Stéphane Gobelin. Achei que, cansado como estava, iria cair duro. Vi de olhos
bem abertos. Não vou dizer que é um bom filme, tenho minhas dúvidas. Mas gostei
de ver Jane Fonda, Geraldine Chaplin, Pierre Richard, Claude Rich e Guy Bedos.
Apesar do desrespeito da Tam (e companhia), foi o cinema, ontem, que, mais uma
vez, me reconciliou comigo mesmo.
Título e Texto: Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo, 15-11-2012
A moça da foto (Panair) não é a Sonja?
ResponderExcluirVerônica
Verônica, sei não. Mas já perguntei à Janda...
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