segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A minha carta aberta a Passos Coelho

Francisco Castelo Branco
Caro Primeiro-Ministro,
Tenho 27 anos e desde que acompanho a política só me lembro de cinco primeiros-ministros. Vi Guterres e Durão a fugir do país após situações financeiras complicadas para Portugal. O primeiro demitiu-se porque perdeu as autárquicas e não mais se recandidatou, o segundo aproveitou a euforia do Europeu 2004 para sair sem ser notado. De Santana Lopes não tenho grande memória porque o tempo que ele esteve no poder não foi o suficiente para tirar conclusões, no entanto não mais me vou esquecer daquele discurso da tomada de posse. Um verdadeiro desastre.
Finalmente acompanhei o consulado Socrates. Confesso que estava expectante em relação ao seu mandato. Nunca imaginei que conseguisse ficar 6 anos no poder e vencer por duas vezes as eleições. A forma como triturou os líderes do PSD, até chegar ao confronto consigo, foi notável. Agora tenho acompanhado a sua liderança e quero dizer que noto diferenças muito importantes se compararmos com os quatro anos que enunciei.
Foto: Agência Lusa
Ao contrário do que muitos dizem, não acredito que o senhor seja um mentiroso. Aquilo que se diz em campanha eleitoral não pode servir para definir um rumo do país. Eu percebo que muitos fiquem chateados porque o senhor disse que não ia aumentar os impostos. No entanto, não acho que tenha faltado à verdade nesse aspecto. Não é importante aquilo que se diz em campanha eleitoral, já que estar no governo é outra música. Sou daqueles que não concorda com o brutal aumento dos impostos, contudo acredito que se trata de uma medida passageira e que em breve os impostos vão baixar de forma significativa. Espero que faça um corte substancial da despesa para que seja proibido cometer os excessos do passado. Ou seja, estou com esperança que este corte seja mais para mudar mentalidades do que acabar com o Estado Social. Esta matéria daria pano para mangas, mas o problema é que não tenho espaço para falar dela nesta carta, pelo que ficará para mais tarde.
Digo-lhe já que gosto de duas qualidades que o senhor tem demonstrado. São elas a coragem e a coerência. Começamos pelo fim, a coerência. Ao contrário do que sucedia com o seu antecessor, o senhor não é hoje uma coisa e outra amanhã. Felizmente o senhor tem alertado que se trata de um caminho díficil e que vai ser duro. É de louvar a sua honestidade pessoal e política, coisa rara nos dias que correm. Isto leva-me à coragem. Ao ter aceitado conduzir o país nestas circunstâncias, sabendo de antemão que não vai ser pêra doce, o senhor Primeiro-Ministro está a dar a cara e isso é uma qualidade que poucos políticos têm. Pior do que ter políticas erradas é esconder o problema, e isso nunca fez parte do discurso, por isso é que o aplaudo. Outros estariam a pintar o país de cor-de-rosa. Neste aspecto, dou razão também a Manuela Ferreira Leite aquando das eleições em 2009, mas o país preferiu continuar a viver acima das possibilidades.
Também sou liberal e a favor de um Estado mínimo e mais iniciativa privada, sobretudo em áreas que o Estado não tem necessidade de gastar dinheiro, porque os privados podem assegurar uma melhor gestão e contribuir também de outra forma para a qualidade dos serviços com algum investimento. Por isto é que não percebo aquela lenga-lenga que o Estado tem de assegurar quase tudo aos seus cidadãos. Neste aspecto, incluo duas questões: a cultura e o serviço público de televisão e rádio. Ora, quanto mais investimento privado houver, melhor será a qualidade dos serviços. Sou completamente contra a manutenção de serviços no Estado que dão prejuízo. Um serviço que só dá prejuízo deve ser alvo de cortes de maneira a garantir um funcionamento equilibrado. Até para garantir aos cidadãos um serviço de qualidade. Tudo se resume a uma palavra: se não funciona é para cortar. Em relação à Educação e Saúde tenho dois pontos de vista. Na Saúde o Estado devia contribuir com participação superior a 50% com incidência especial nos mais carenciados e idosos. No que toca à educação, as autarquias deveriam ter um papel mais interventivo e fiscalizador de forma. Sei que mexer nestas duas áreas vai gerar muita indignação, no entanto indignado estou eu que não quero contribuir para uma saúde e educação sem controlo de gastos, bem como noutras áreas que depende da intervenção do Estado. Saúdo o seu trabalho por estar a fazer um corte radical com o passado. Com alguns vícios que duram neste país há quase 20 anos. E aqui culpo tanto o PSD como PS, porque foram estes partidos que estiveram no Governo e levaram o país a esta bancarrota. Tal como eu, há muitos portugueses que estão consigo, apesar dos inúmeros protestos. As pessoas estão fartas das mesmas práticas, dos mesmos círculos e de passar a vida a pagar impostos ao Estado para que este meta o nariz onde num país civilizado não era chamado.
Conte com o meu apoio para ultrapassar esta fase e mandar a troika embora de Portugal. Se os indicadores estiverem correctos e começarmos a crescer em 2014, é certo que em 2015 a vitória está assegurada, até porque o PS com António José Seguro não vai a lado nenhum. No entanto não queria acabar esta carta sem lhe colocar duas perguntas:
Vai escolher um bom candidato para Lisboa ou deixará ganhar António Costa na capital para que este não lhe venha a fazer sombra nas próximas eleições legislativas?
Se conseguirmos mandar a troika embora e as eleições de 2015 forem livres, vai querer continuar o apoio do CDS?
Título e Texto: Francisco Castelo Branco, Forte Apache, 03-12-2012

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