quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Felicidade politicamente incorreta

Isabel Stilwell

Objectivamente no Natal temos mil razões de tristeza. Temos sempre, porque faz-nos recordar o que perdemos, todas as pessoas que fizeram parte da nossa vida, mas que desapareceram entretanto, e muito sinceramente, atrevo-me a dizer que é mais fácil quando morreram, do que quando se afastaram por mal-entendidos e guerras, quando nos magoaram e fugiram, deixando mil questões em aberto.
E se todos os anos é assim, neste ano de crise ainda é mais fácil fazer uma lista de motivos de desânimo. Aliás, a juntar aos nossos, basta acrescentar aqueles que as televisões nos servem à hora de jantar, alguns numa clara exploração da desgraça alheia, de uma generalização abusiva da tragédia que, suspeito, nem sequer mobiliza as pessoas para a solidariedade, antes deixando-as deprimidas e presas à ideia de que perdidos por cem, perdidos por mil.
Mas coisa diferente do que termos razões de tristeza, é imaginarmos que precisamos de abafar em nós a alegria, como se a felicidade fosse politicamente incorrecta. Pior do que isso, sermos julgados ou julgarmos por ela, como se cada gargalhada fosse sinal exterior de inconsciência, de uma vida fácil ou de heroicidade. Disfarçar a tristeza, com medo de a partilhar com os outros, como se não as pudéssemos “atacar” com os nossos problemas, porque o Natal é tempo de festa é oferecer a si mesmo uma solidão imensa de presente, mas ter receio de ser feliz, porque não está na moda, é esquecer o que é o Natal.
Título e Texto: Isabel Stilwell, Destak, 19-12-2012

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