Ricardo Vélez Rodriguez
Os brios nacionalistas
saltaram à flor da pele da presidente Dilma Rousseff e da petralhada no poder
ao ensejo do alerta da revista inglesa The
Economist acerca da confiabilidade da economia brasileira, na sexta-feira,
7 de dezembro. A recomendação da revista para que a presidente demitisse o
ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo fato de ele não saber gerir a economia
brasileira, que foi qualificada de "moribunda", não foi propriamente
uma ofensa à nossa dignidade nacional. Foi mais um alerta dos mercados
internacionais quanto à capacidade do Brasil de atrair investimentos em épocas
de turbulência global e vacas magras financeiras. Ora, o que os jornalistas da
conceituada revista queriam destacar era, a meu ver, o significado do péssimo
gerenciamento da nossa economia, entravada por um intervencionismo
governamental asfixiante que tolhe investimentos, afugenta inversionistas e
assinala que voltamos aos tempos da insegurança jurídica generalizada.
Nas condições em que se
encontra a nossa "moribunda" economia, não vale a pena investir no
Brasil. Além das razões apontadas, destaquemos estas outras, que, sem dúvida,
devem ter sido levadas em consideração pelos observadores internacionais.
Em primeiro lugar, a corrupção
generalizada desatada pelos "companheiros" no poder, tanto no
episódio do mensalão quanto no mais recente affaire desvendado pela Operação
Porto Seguro, que compromete de novo figuras da alta cúpula petista, a começar
pelo ex-presidente Lula.
Em segundo lugar, deve ser
lembrada a baixíssima competitividade com que o Brasil se apresenta perante as
agências internacionais de classificação, em decorrência da elevadíssima carga
tributária e da desindustrialização do País.
Em terceiro lugar, a situação
precária da nossa infraestrutura aeroportuária, portuária e de rodovias.
Em quarto lugar, os
baixíssimos índices de qualidade da nossa educação, com as consequências
seriíssimas que daí decorrem para o desenvolvimento econômico.
Em quinto lugar, o péssimo
gerenciamento da Petrobrás em face da política de preços dos combustíveis, que
está descapitalizando a empresa (que caiu, nas mãos petistas, numa espécie de
síndrome mexicana para pagar o populismo de plantão).
Em sexto lugar, o aparelhamento,
pela petralhada, de outrora confiáveis agências de pesquisa, como o Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), que passaram a dizer o que o governo quer, não o que de
fato acontece na realidade econômica brasileira. Essa mazela deve somar-se aos
contínuos ataques do partido no poder contra a liberdade de imprensa, com
militantes ameaçando com a estatização pura e simples do setor, numa maluca
política de gerenciamento social da informação.
Em sétimo lugar, a desastrada
mania intervencionista do governo - que está atrapalhando o funcionamento da
iniciativa privada -, notadamente nos bancos e nas empresas de energia, que são
"convidados" a vender serviços a preços abaixo do seu custo.
Por último, o desastre que é a
nossa infraestrutura de saúde pública e de segurança, que afasta investidores e
aumenta os gastos com internamentos hospitalares e mortes de cidadãos.
De nada valem os arroubos
nacionalistas da chefe do Executivo para dar resposta a essa preocupação dos
mercados. Contrariamente ao que o bom senso assinala, em lugar de escutar o
alerta dos que conhecem a atual conjuntura econômica mundial, o governo prefere
fazer eco à tresloucada reação dos populismos que o cercam - efetivamente, os
presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Cristina Kirchner, da Argentina,
teriam dito, em termos de resposta à mídia, mais ou menos as mesmas palavras de
Dilma. Não faremos nada do que os observadores internacionais aconselham. Em
compensação, revitalizaremos os laços político-ideológicos do Mercosul, em
torno de um populismo econômico que traz inflação e afugenta investidores.
Populistas da América Latina,
uni-vos! - essa é a nova palavra de ordem revolucionária.
São tempos, no continente sul-americano,
de populismo, que constitui a variante mais recente do patrimonialismo entre
nós. Ora, este consiste na gestão do Estado como se fosse propriedade
particular de quem governa. São favorecidos regularmente os membros do partido
governante e os aliados, com benesses pagas com o dinheiro público. Essa é a
essência do mensalão e das demais falcatruas que são desvendadas, dia após dia,
pela imprensa.
Duas forças operacionais põem
em funcionamento os donos do poder para nele se perpetuarem. Em primeiro lugar,
a deformação das contratações de serviços prestados pelas empresas privadas ao
Estado, mediante favorecimento às que se submeterem a pagar o "ganho"
extorsivo dos que mandam, fixado no balcão de negócios das licitações. Em
segundo, o prêmio pago pelo Executivo aos parlamentares que se acomodem à
gestão patrimonialista da máquina pública, mediante emendas parlamentares. Duas
práticas velhas, mas que o PT aprimorou e universalizou, espantando a má
consciência e o remorso que antes acompanhavam as operações dos corruptos.
Lula e companhia simplesmente
conseguiram ficar de cabeça erguida, mesmo quando mergulhada no lodo,
gabando-se de que iluminarão com mais postes a escuridão brasileira. Tudo
porque roubam em nome do povo. A política tornou-se guichê de corrupção, de
lavagem de dinheiro, de roubalheira ao Tesouro da Nação. O PT conseguiu fazer a
"revolução cultural" gramsciana, que consiste em erguer, como único
ator válido, o Novo Príncipe, o Partido e a sua coorte de sátrapas e protegidos.
Título e Texto: Ricardo Vélez Rodriguez, Coordenador do
Centro de Pesquisas Estratégicas 'Paulino Soares de Sousa', da Universidade Federal
de Juiz de Fora, Estado de São Paulo, 13-12-2012
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