Rodrigo Constantino
Prezado Papai Noel, começo
pedindo desculpas, pois essa carta não chegará a tempo. É que os Correios aqui
no Brasil ainda são administrados pelo governo, e sabemos como as estatais
costumam ser ineficientes.
Gostaria de dizer que me
comportei bem este ano. Não pratiquei nenhum “malfeito”, não usei “amizades
íntimas” para conseguir privilégios, enfim, fiz tudo diferente da cúpula
petista. Sei que isso é pouco para seus rigorosos critérios de julgamento, mas
creio que já mereço algum presente por isso, não?
É que meus vizinhos estão cada
vez mais flexíveis na ética, pois o exemplo que vem de cima não é dos melhores.
Caso o senhor não tenha visto, a última pesquisa mostra elevada aprovação ao
governo Dilma. Parece que a turma por aqui não liga para a quantidade
infindável de escândalos de corrupção envolvendo gente importante do governo.
Você acredita que ainda tem quem veja a presidente como uma “faxineira” da
ética?
Se há emprego e renda, ninguém
quer saber detalhes da Operação Porto Seguro. Alguns acreditam até se tratar de
um esquema de compra de abadás para o carnaval. O ex-presidente Lula virou um
mito intocável. Isso aqui é uma festa, Papai Noel. Deve ser o clima tropical.
Será que você poderia fazer nevar por aqui?
O pior é que até mesmo quando
o assunto é economia os dados jogam contra o governo, mas ninguém acusou o
golpe ainda. Lembra o ministro Mantega, que prometeu crescimento de 4,5% este
ano? Pois é, se chegar a 1% é muito. E isso com a inflação perto de 6%.
Combinação terrível essa de baixo crescimento com inflação alta. Quem pode
ficar surpreso com a revista “The Economist” pedindo a cabeça dele?
Mas o governo coloca a culpa
no resto do mundo, como sempre, ignorando que os demais países
latino-americanos crescem muito mais que a gente, sem falar dos asiáticos. E
não é que o povo acredita? Será que você mandaria alguns milhões de óculos para
cá? Deve ser algum problema de visão dos meus compatriotas.
Aproveito para reclamar
contigo do excesso de chatice politicamente correta por aqui. Está ficando
insuportável isso. Uma turma fascista pensa lutar pelo nosso bem, e não enxerga
limites para invadir nossas liberdades de escolha. Querem controlar tudo em
nome da saúde perfeita.
Você acredita que a Anvisa
proíbe até bronzeamento artificial? Não ria, bom velhinho, pois é sério. É
questão de tempo até o Dráuzio Varella, esbanjando saúde, te usar como mau
exemplo em alguma campanha. Essa sua pança não é nada politicamente correta, e
as crianças podem ter uma influência negativa. Olha o nível da situação!
Papai Noel, agora eu preciso
ser sincero e te fazer uma crítica. Desde muito desconfio que você seja
marxista. Não é apenas pela cor vermelha de sua roupa ou essa barba comprida. É
algo muito pior. Você distribui todos os presentes, fica com a fama de legal,
mas quem paga a conta mesmo são os pais das crianças!
Essa é exatamente a postura
dos esquerdistas em geral. Eles querem fazer caridade com o esforço alheio.
Eles gostam de posar de altruístas jogando a fatura para os outros. Que
vergonha você agir conforme essa turma. Eu confesso que esperava mais do
senhor...
Bom, estou chegando ao fim da
carta, e gostaria de fazer meus últimos pedidos. Espero que em 2013 a ficha possa
cair no Palácio do Planalto, pois ela já caiu para todos os economistas sérios:
os rumos da economia precisam mudar. Não é mais possível estimular consumo com
base em crédito público. Isso vai acabar produzindo uma bolha por aqui.
O governo também precisa parar
com essa mania de intervir o tempo todo na economia de forma arbitrária. O que
permite crescimento sustentável é um arcabouço institucional simples e claro,
que garanta a propriedade privada e ampla liberdade econômica. Empresários
gostam de segurança nas regras do jogo.
Os gastos públicos precisam
ser drasticamente cortados também, para permitir a redução dos impostos. Mas
com esses “desenvolvimentistas” no poder fica difícil sonhar com isso.
A “oposição” precisa acordar.
Ela está hibernando há tempo demais. Sei como deve ser difícil para os tucanos,
de esquerda, criticarem de forma mais dura o modelo econômico do PT. Por isso
precisamos urgentemente de uma opção liberal, sem medo de defender uma
alternativa a essa social-democracia engessada.
Por fim, um último pedido. Que
o livro “Privatize Já” seja distribuído entre a população. Quem sabe assim o
pessoal acorda e deixa de cair nessa ladainha de slogans eleitoreiros, tal como
“o petróleo é nosso” e outras besteiras do tipo.
Atenciosamente,
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