quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Vocês não estão entendendo nada (2)

Orlando Maretti 

Caro Waldo, desculpe-me a demora, mas voltei de uma pequena viagem a Santa Catarina e ainda não respondi a todos os e-mails.
Seu artigo, pra variar, está impecável. Expressa a indignação de todos nós, diante da sucessão de escândalos, falcatruas e ladroagens em todas as esferas do poder, que se sintetizam nesse desgoverno lulopetista.
Outro dia o notório J.Dirceu, ao rebater uma crítica de FHC afirmou que este ainda não entendeu a “revolução social que o governo de Lula e Dilma promoveram neste país.” Saiu com destaque (um olho, como dizem os informatas) numa matéria do Estadão.
O ex-ministro nos toma a todos como idiotas, ignorantes e iletrados.
O que ocorreu, de fato, foi a revolução pessoal que Lula e seus apaniguados quadrilheiros promoveram e da qual hoje desfrutam gostosamente.
Tenho um velho amigo, dos tempos da PUC, ele se formou em Economia e eu não terminei Ciências Sociais. Idealista incorrigível, ajudou a fundar o PT, acompanhou a ascensão do chamado “Campo Majoritário” e desiludiu-se com a fome de poder que se apoderou da “companherada”. Há poucos meses retomei o contato com ele, que voltou a São Paulo, depois de passar anos em Brasília, para completar seu tempo de trabalho e aposentar-se no Banco Central. Deprimido, enojado, somatizou toda essa crise, adquiriu uma grave artrose nos joelhos, foi submetido a uma angioplastia de urgência. Enfim, quem pensa seriamente o Brasil pode acabar morrendo, de raiva ou pena.
Como tantos ex-petistas, considera Lula, J. Dirceu et caterva traidores e ladrões. Iludiram a militância idealista e enganaram milhões de brasileiros que acreditaram numa mudança utópica. Mas que utopia era essa, se patrocinada pela Fiesp e empresários que se encantaram com a “Carta aos Brasileiros”?
Waldo, se a revolta popular tomar consistência não será pela esquerda ou direita, pois os atores hoje se confundem. O cenário hoje é muito semelhante ao que Paulo Francis descreveu em sua trilogia inacabada, da qual só terminou dois volumes: Cabeça de Papel e Cabeça de Negro. Ali ele já previa que o “morro iria descer para o asfalto” e, na época em que escreveu, ainda não ocorriam os arrastões, Fernandinho Beira-Mar devia estar empinando pipa e Paraisópolis ainda não tinha sequer um barraco no Morumbi. Estamos muito próximo do salve-se quem puder.
Por isso não concordo muito com análises demasiadamente ideologizadas, prevendo uma revolução comunista, seja de modelo bolchevique, seja do tipo latino-cubano.
O PT pretendeu monopolizar a esquerda brasileira, mas não conseguiu. Seu núcleo hegemônico não precisou de muito esforço para perceber, depois de duas ou três derrotas eleitorais à Presidência, que precisaria flexibilizar sua proposta e abrir-se a alianças. Foi tudo muito rápido. Afinal, o que são 12 anos se contarmos a linha do tempo histórico?
Vou mais longe. A “companherada” já está satisfeita com o resultado obtido. Boa parte dos antigos sindicalistas está aboletada nas estatais, nos fundos de pensão e até como conselheiros do Sistema S (caso do raivoso Jair Menegheli, lembra da figura do metalúrgico carrancudo? Pois é, hoje é advogado e recebe por volta de R$30 mil mensais como membro do Conselho Nacional do Senai).
Um jovem senador do PSOL dizia ontem, na Globonews, que o núcleo dominante do PT havia sido contaminado pelo vírus bolivariano de Hugo Chávez, mas que o partido estrelado não poderia implantar modelo semelhante em Pindorama, pois não tem hegemonia parlamentar no Congresso e sofre sérias resistências em muitas regiões do país.
Resumo da ópera: o único partido organizado, estruturado e que cumpre as ordens de seu comando é o PCC. É isso aí, mano.
Forte abraço.
Orlando Maretti, 06-12-2012

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