segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Deboche da "criatura"

Alberto de Freitas

A "criatura", dizem, é uma grande fdp. Não por desconhecimento do pai, pois são vários, mas pela recusa no reconhecimento da paternidade por parte dos mesmos. Este governo, ou parte dele, deu a entender que iria tentar reduzir-lhe a gula. Não se sabe se a coisa era para levar a sério, mas a criatura não brinca em serviço, e reage.


Apercebi-me disso na tabacaria do senhor António. Pego no "Público", entrego 5 euros e... espero. O troco veio acompanhado de uma folha "A6" «é a factura", explica-me o sr. António. Enquanto decifro o documento, uma cliente pede a "raspadinha" e, lá se pare mais uma factura. O negócio do sr. António (3X3, cave da mesma superfície e aproveitamento das escadas como armazém) baseia-se na venda de jornais, revistas, raspadinhas e fotocópias a 20 cents cada. Tudo e individualmente, com factura obrigatória. É a grande reforma das finanças: acabar de vez com os grandes delinquentes fiscais, como barbeiros, tasqueiros e bate-chapas. Além das tabacarias. «Ainda pensei poupar na máquina (1.400 euros), mas como podia fazer facturas à mão", lastima-se o sr. António, enquanto entrega a outro cliente factura comprovativa de 2 fotocópias: 40 cents com iva incluído.

O Tribunal de Contas acusou os Gabinetes do Governo de continuarem em "roda livre", no que respeita a despesas. Espero que as facturas dos srs. Antónios cheguem para o "gasto". Porque com tal reforma podem não obter-se grandes resultados, mas obtém-se justificação para um maior controlo estatal. Mais burocracia, representa mais poder. E mais poder, é o que satisfaz a criatura.

A criatura diz-nos que se todos pagarem, todos pagarão menos. O conhecimento adquirido, indica-nos o contrário: só na falta de dinheiro, os "criadores" se atrevem a propor reduzir a criatura. Mesmo em governos liberais na retórica e socialistas nas acções. O caso.

Dizer não à factura será antipatriótico? Será? Leio no DN, uma notícia da LUSA: "Os 10 autarcas pertencentes aos órgãos sociais da Associação de Municípios da Ilha de S. Miguel (AMISM) recebem 800 euros de senhas de presença em cada reunião que participam". Segundo relatório do TC. Em 12 reuniões ordinárias mais 3 da assembleia municipal, cada um recebeu 12.000 euros. Além do salário, ajudas de custo e mordomias afins. Isto, numa ilha bucólica onde não se passa nada. Esta gente só pára quando tiver que parar. Quando não houver dinheiro.

Algo que, espero, a troika "distribua" com conta peso e medida. Com "olho no cavalo e no cigano".

Razão para recusar a factura do barbeiro. Feita à mão. São 3 cadeiras e 2 barbeiros. A coisa não dá para 3. 9 euros o corte. Em dia bom, 10 cortes. 90 euros para os dois. Média: 6 cortes diários. Descontado o arrendamento da loja, a energia, a água, desconto para a Previdência, mais taxas e emolumentos. Não contando com avarias das maquinetas, quanto sobrará para delinquir? Daria para almoço de assessor, ou reunião de autarca insular?

É a vitória da "criatura". Para 2013, exigirá saber por ordem cronológica, todas as bicas, aparadelas de cabelo, raspadinhas e fotocópias.

Vou resistir. Espero que com o "roubo", o Silva da barbearia, ou o sr. António da tabacaria - sabendo que nada transferirão para conta na Suíça - possam ir mais uma vez ao cinema, ou ofereçam uma prenda aos filhos.

Quando um governo me convencer que o dinheiro arrecadado não se destina a consumo da "criatura", peço factura. Prometo.

Até lá, quero que a criatura vá para os pais que a pariram
Título e Texto: Alberto de Freitas, 28-01-2013

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