Discute-se uma vez mais em
Portugal se um animal alegadamente (ou mesmo confirmadamente) agressor deve ser
morto no seguimento dessa agressão. Diz-se que essa morte pretende evitar que
mais casos sucedam. Discordo que essa seja a solução, e discordo mais ainda que, dessa acção, se siga
algo de minimamente pedagógico. Ora, por acreditar que esta é uma questão muito
complexa e delicada, não posso deixar de defender que deve ser atacada e
resolvida de raiz, pois só assim conseguiremos chegar à sua solução. Enquanto
continuarmos a colocar “pensos rápidos” nas consequências deste problema,
estaremos apenas a tratar os sintomas em vez de tentarmos curar a doença. Posto
isto, gostaria de vos deixar aqui algumas questões para reflexão:
. Devemos continuar a permitir
que se criem animais que, garantidamente, sabemos que serão diabolizados desde
o dia em que nascerem?
. Devemos permitir que se
perpetue o negócio da fabricação de seres que, para satisfazerem os caprichos
dos seus fabricantes e dos potenciais adquirentes – quais produtos – virão ao
mundo munidos de uma série de características anormais, bizarras, que os
impedirão sequer de se desenvolverem e viverem da forma que seria natural para
a sua espécie?
. Devemos continuar a
desempenhar o papel de deuses, trazendo ao mundo mais animais do que será
possível protegermos? Ou, por outro lado, devemos colocar de lado o nosso
desejo de criar modelos estéticos à imagem do que – aos nossos olhos – é bonito
e nos traz, de uma forma ou de outra, alguma utilidade?
. Será correcto que nós,
enquanto protectores dos animais, tenhamos uma postura racista, criando,
protegendo e preferindo uma raça em detrimento de outra? Ou será que, por outro
lado, devemos trabalhar no sentido de acabar com este “freak show” de raças que
criámos quando começámos a destruir a verdadeira essência destes animais?
Falo aqui de cães e daquilo
que temos feito com eles; aquilo em que os transformámos e que podemos chamar
de “cães modernos”, mas poderia estar a referir-me a outra espécie qualquer, como
os gatos, por exemplo, vítimas de sorte parecida. Podemos considerar normal um
cão ter um nariz tão curto que não lhe permite sequer respirar normalmente? Ou
um tipo de pele que se sobrepõe de forma tal que chega a criar escaras? Ou até
mesmo uma capacidade física que faz com que seja usado como arma? Estes são
apenas três dos inúmeros exemplos que vos poderia apresentar.
. Decidir a vida e a morte de
*indivíduos* que existem apenas porque foram fabricados por nós coloca-nos em
que posição? A que ponto de arrogância e altivez chegámos?
Caras/os leitoras/es, rogo-vos
que, aquando da reflexão sobre estas questões que vos deixo, não se confundam
jamais dois conceitos absolutamente distintos: extinção e extermínio! Temos a
obrigação moral de protegermos os animais que permitimos (directa ou
indirectamente) que viessem ao mundo, da mesmíssima forma que temos o dever –
também moral – de parar de fabricá-los. Animais que são usados e abusados, que
servem de armas, de símbolo de status, e que, se algo correr mal para os
humanos que com eles se cruzam, acabam mortos. Esta loucura tem que parar!
Temos o dever de repensar o nosso papel e que tipo de protectores pretendemos
ser. Não podemos continuar a permitir nem a contribuir para esta mortandade.
Nós, humanos, criámos o problema; cabe-nos resolvê-lo. Agora!
Título e Texto: Rita Silva, ANDA–Agência de Notícias de Direitos Animais, 28-01-2013
Rita Silva é vegana e ativista pelos direitos animais em Portugal.
Trabalha na ONG ANIMAL, organização da qual é presidente, e é coordenadora
Sul-Europeia da Cruelty Free
International/BUAV. Você pode conhecer melhor o trabalho acessando também:
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