segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O tempo é agora!

Rita Silva

Discute-se uma vez mais em Portugal se um animal alegadamente (ou mesmo confirmadamente) agressor deve ser morto no seguimento dessa agressão. Diz-se que essa morte pretende evitar que mais casos sucedam. Discordo que essa seja a solução, e discordo mais ainda que, dessa acção, se siga algo de minimamente pedagógico. Ora, por acreditar que esta é uma questão muito complexa e delicada, não posso deixar de defender que deve ser atacada e resolvida de raiz, pois só assim conseguiremos chegar à sua solução. Enquanto continuarmos a colocar “pensos rápidos” nas consequências deste problema, estaremos apenas a tratar os sintomas em vez de tentarmos curar a doença. Posto isto, gostaria de vos deixar aqui algumas questões para reflexão:
. Devemos continuar a permitir que se criem animais que, garantidamente, sabemos que serão diabolizados desde o dia em que nascerem?
. Devemos permitir que se perpetue o negócio da fabricação de seres que, para satisfazerem os caprichos dos seus fabricantes e dos potenciais adquirentes – quais produtos – virão ao mundo munidos de uma série de características anormais, bizarras, que os impedirão sequer de se desenvolverem e viverem da forma que seria natural para a sua espécie?
. Devemos continuar a desempenhar o papel de deuses, trazendo ao mundo mais animais do que será possível protegermos? Ou, por outro lado, devemos colocar de lado o nosso desejo de criar modelos estéticos à imagem do que – aos nossos olhos – é bonito e nos traz, de uma forma ou de outra, alguma utilidade?
. Será correcto que nós, enquanto protectores dos animais, tenhamos uma postura racista, criando, protegendo e preferindo uma raça em detrimento de outra? Ou será que, por outro lado, devemos trabalhar no sentido de acabar com este “freak show” de raças que criámos quando começámos a destruir a verdadeira essência destes animais?
Falo aqui de cães e daquilo que temos feito com eles; aquilo em que os transformámos e que podemos chamar de “cães modernos”, mas poderia estar a referir-me a outra espécie qualquer, como os gatos, por exemplo, vítimas de sorte parecida. Podemos considerar normal um cão ter um nariz tão curto que não lhe permite sequer respirar normalmente? Ou um tipo de pele que se sobrepõe de forma tal que chega a criar escaras? Ou até mesmo uma capacidade física que faz com que seja usado como arma? Estes são apenas três dos inúmeros exemplos que vos poderia apresentar.
. Decidir a vida e a morte de *indivíduos* que existem apenas porque foram fabricados por nós coloca-nos em que posição? A que ponto de arrogância e altivez chegámos?
Caras/os leitoras/es, rogo-vos que, aquando da reflexão sobre estas questões que vos deixo, não se confundam jamais dois conceitos absolutamente distintos: extinção e extermínio! Temos a obrigação moral de protegermos os animais que permitimos (directa ou indirectamente) que viessem ao mundo, da mesmíssima forma que temos o dever – também moral – de parar de fabricá-los. Animais que são usados e abusados, que servem de armas, de símbolo de status, e que, se algo correr mal para os humanos que com eles se cruzam, acabam mortos. Esta loucura tem que parar! Temos o dever de repensar o nosso papel e que tipo de protectores pretendemos ser. Não podemos continuar a permitir nem a contribuir para esta mortandade. Nós, humanos, criámos o problema; cabe-nos resolvê-lo. Agora!
Título e Texto: Rita Silva, ANDA–Agência de Notícias de Direitos Animais, 28-01-2013
Rita Silva é vegana e ativista pelos direitos animais em Portugal. Trabalha na ONG ANIMAL, organização da qual é presidente, e é coordenadora Sul-Europeia da Cruelty Free International/BUAV. Você pode conhecer melhor o trabalho acessando também:

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