terça-feira, 29 de janeiro de 2013

‘Recuperação judicial não se dá com toque de mágica’


Um dos alvos de investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre irregularidades nas varas empresariais da Justiça do Rio, o juiz Luiz Roberto Ayoub nega que tenha favorecido amigos na gestão de massas falidas e faz autocrítica sobre tentativa de salvar a Varig.
No site do 8° Ofício de Notas da capital, onde Ilka Regina Miranda, sua esposa, é escrevente, apareciam os nomes de quatro clientes ligados à falência da Varig. O senhor, como juiz do caso, não se sente constrangido com isso?
Ela é celetista e presta serviço ao cartório. Não há ingerência dela sobre mim e nem vice-versa. Meu compromisso é julgar processos com isenção e imparcialidade.

Em nome da transparência, o senhor exibiria o livro com os atos praticados pela dona Ilka?
Não sou titular do cartório. Não sei se o livro pode ser mostrado. A contratação dela é regular.

Se o salto no faturamento do 8° Ofício com a chegada de dona Ilka se deve, como alegado, à mudança de endereço, o senhor poderia informar se o outro cartório que ocupava antes o mesmo imóvel no Centro produzia os mesmos resultados?
Não tenho ingerência sobre o cartório, mas sei que a mudança de endereço foi sensível e significativa.

Que atributos o advogado Jaime Canha, seu amigo, demonstrou para assumir a gestão e administração de massa falidas em tramitação da 1ª Vara Empresarial, já que tem pouco tempo de formado e as empresas em seu nome fecharam?
Amigo, ele é, como todos que trabalham comigo. Existe uma relação de confiança. Se eles cometerem algum equívoco, o juiz é quem responde. A propósito, eu nunca o nomeei. Respeito o rodízio. Ele é advogado. Foi empresário por dez anos. O insucesso de uma empreitada empresarial não significa incapacidade de gestão. Ele é muito bom. No momento oportuno, vou nomeá-lo novamente.

Quanto foi gasto, até o momento, na administração da recuperação judicial e na falência da Varig (despesas operacionais somente)?
Não tenho a menor condição de informar agora. O processo tem quase 300 volumes e milhares de incidentes processuais. Traga alguém aqui (na Vara) que eu mostro o processo.

Qual foi a remuneração fixada para a consultoria Deloitte na administração judicial da Varig?
A Deloitte nos deu um curso sobre recuperação de empresa e conhecia tudo sobre administração judicial. O percentual de remuneração fixado para a empresa foi confirmado pelo Tribunal.

Há informações de que a consultoria fazia retiradas de R$ 400 mil mensais. O senhor confirma isso?
Não me lembro se o valor era esse. Depois, a própria Deloitte se habilitou como credora. Mas a dívida da Varig cresceu porque os créditos fiscais não são submetidos à recuperação judicial. A execução fiscal continua. O que importa é que, de acordo com dados de setembro de 2008, 3.111 empregos foram mantidos. Não se dá com um toque de mágica a recuperação de uma empresa que devia R$ 7 bilhões.


Por que, antes da falência, foi tentada a recuperação judicial da Varig?
Porque estava em curso uma ação de defasagem tarifária no Superior Tribunal de Justiça. Já havia os precedentes da Vasp e da Transbrasil. Fui mais de dez vezes a Brasília. Valeu a pena? Hoje, estou concluindo que o meu proativismo foi excessivo.

Como o senhor está vendo as investigações em andamento, uma iniciada pelo CNJ e outra pelo Ministério Público estadual?
Tão logo li, procurei o Ministério Público. Pedi investigações tanto ao Conselho Nacional de Justiça, por intermédio da presidência do Tribunal de Justiça do Rio, quanto da Corregedoria do Rio. Se errei, quero ser investigado. Faço por mim. Não conheço nenhum deslize de colega. Não sou órgão investigativo. Autorizei a quebra do meu sigilo e a minha mulher fez o mesmo.
Entrevista a Chico Otávio, O Globo, 26-01-2013, transcrita no portal Correioforense, 27-01-2013

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