sexta-feira, 26 de abril de 2013

E a Oposição, cadê?

Alberto de Freitas
Uma das situações graves com que o governo se depara é a ausência de oposição. No Parlamento, os três partidos afastados da governação, discordam. Para se oporem, teriam que opor algo que não têm. A discordância não obriga a contrapor.
É o que temos. E a discordância apoia-se no pilar da insatisfação. Mas a gravidade da situação não permite a possibilidade - em caso de conquista do poder - de se obter a satisfação, o que coloca a interrogação: qual a finalidade? Nenhuma, pois a importância está no processo. Assim, todas as contradições são possíveis sem preocupações “lógico-formais”, com garantida simbiose ao processo.
Temos por exemplo a acusação a Cavaco de falta de isenção, esquecendo os elogios realçando essa isenção em declarações anteriores. Por nada haver a contrapor à narrativa presidencial, nem alternativa conveniente, ataca-se o carácter.
Recordo como o PCP moveu uma guerra à “Lei Barreto”, para, a seguir, mover a guerra para que não se alterasse a dita lei; ou, desde sempre um partido homofóbico, mas combatendo o moralismo burguês; sendo contra os despedimentos, mas despedindo sempre que necessário, desde que esse trabalho seja a expensas do partido. Para a esquerda marxista - tal como Marx e Lenine que nunca explicitaram o que seria a sociedade socialista, mas tinham-na como objectivo - o importante é o processo de destruição do adversário, sem qualquer preocupação de coerência: exigindo mudanças e contestando todas as tentativas de mudar.
Ao estilo “parto” sem dor, insistindo na possibilidade de curas rápidas para doenças prolongadas.
O caso do PS é mais peculiar: aprova e deseja a mudança, com a exigência que nada mude. Pois a classe média que os apoia (desde funcionários públicos a trabalhadores de empresas públicas e ex-públicas com o “cordão umbilical“ ligado ao Estado), aceita continuar o empobrecimento, desde que lhe seja garantida a protecção. E está ter êxito, pois as últimas propostas do governo apontam nesse sentido. As “políticas” de crescimento são esse sinal. O Estado, para que a economia cresça, só teria que a deixar crescer: sem se intrometer e deixando de a “asfixiar”.
Mas, azar o nosso, tudo se manterá excepto a pobreza. Que será maior... conforme os desígnios da “oposição”.
Título e Texto: Alberto de Freitas, 26-04-2013

Mural na Rua Júlio Dinis, Porto, 1976/1977, Centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra

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