Reinaldo Azevedo
O que faz essa foto aí no
alto, de Marlene Bergamo, da Folhapress? A personagem da direita é o deputado
Jean Wyllys (PSOL-RL). A do meio não é, asseguro, a deputada Iriny Lopes
(PT-ES), ex-ministra das Mulheres. É o cartunista Laerte. É aquele senhor que
se declara bissexual (direito dele), que gosta de se vestir de mulher (direito
dele) e que reivindica o “não direito dele” de usar o banheiro feminino quando
vestido de “antropóloga” porque se considera “transgênera”. Certo! Laerte quer
balançar os seus balangandãs entre as mulheres e acha que a oposição à sua
vontade é manifestação do mais odioso preconceito. Estou banalizando a sua
figura e a sua luta? Não! Ele é que se envolveu num caso assim num restaurante.
Não estou inventando nada. Vamos ver.
Alguns leitores me perguntam
por que parei de tratar do “caso Marcos Feliciano” (PSC-SP), numa referência ao
presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, ou por que
ignorei um evento de ontem, em São Paulo (a que se refere aquela foto), que
deveria ter sido um estrondo e foi pouco além de alguns suspiros. Não parei. É
que cansei de fazer parte, ainda que involuntariamente, da campanha eleitoral
de 2014 do esperto Wyllys. Esse rapaz não precisará gastar um tostão para se
reeleger com, sei lá, 10 ou 15 vezes mais votos do que os 13 mil conseguidos em
2010. Também Feliciano pode agregar alguns milhares aos 212 mil que teve — no
seu caso, convenham, ele se tornou o antagonista preferencial dos politicamente
corretos não por escolha pessoal.
Essa história já deu o que
tinha de dar, não é? Os protagonistas da chanchada já souberam se aproveitar da
oportunidade o bastante para lograr o seu intento. É um despropósito que
setores importantes da imprensa brasileira tenham condescendido com assaltos
reiterados a uma comissão da Câmara, ao arrepio da lei, do Regimento Interno da
Casa, de tudo. E, por óbvio, ninguém precisa concordar com Feliciano.
Vejam só. O governo federal
decide patrocinar uma emenda cujo objetivo principal, se não for o único, é
criar facilidades adicionais para a eventual reeleição de Dilma. Cadê a
gritaria? Um deputado petista apresenta uma emenda — e a CCJ a aprova, com os
votos de dois mensaleiros condenados — que dá um golpe no Judiciário. O texto
ameaça os direitos de todos — gays, héteros, homens, mulheres, brancos, pretos,
pardos, corintianos, flamenguistas, amantes de comida japonesa… Cadê o beijo na
boca de Fernandona? Cadê o beijo na boca de Fernandinha? Cadê aqueles bananas
autoritários do “não me representa”?
Então vamos ver: um deputado
contrário ao casamento gay e chegado a algumas declarações infelizes teria de
ser arrancado quase aos tapas de uma comissão da Câmara, com o apoio, na
prática, do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Mas uma
proposta de golpe fascistoide no Supremo ou uma lei casuística só para
privilegiar a presidente Dilma na disputa eleitoral passam em brancas nuvens.
Ou por outra: isso que chamam
hoje em dia “opinião pública” não tem nada de público. Trata-se da opinião
privada de grupos militantes que querem se impor pela força, pela gritaria e,
de fato, pela violência. É com os direitos humanos mesmo que aquela turma está
preocupada? Se é, a sua principal garantia está justamente na independência
entre os Poderes.
Gatos-pingados na praça
Anunciou-se para ontem, com o apoio explícito da Folha, o maior jornal do país, uma concentração na Praça Roosevelt, em São Paulo, para protestar contra Feliciano. Reuniu, no máximo, 350 pessoas. Há quem diga que não havia mais de 200. Coloque lá um show de malabaristas ou de engolidores de espada, e se vai juntar mais gente.
Anunciou-se para ontem, com o apoio explícito da Folha, o maior jornal do país, uma concentração na Praça Roosevelt, em São Paulo, para protestar contra Feliciano. Reuniu, no máximo, 350 pessoas. Há quem diga que não havia mais de 200. Coloque lá um show de malabaristas ou de engolidores de espada, e se vai juntar mais gente.
As estrelas do evento eram
justamente Laerte, na sua persona mulher (ou algo assim) e, claro!, Wyllys, o
onipresente. Os 200 ou 300 da praça, com a representação que lhe foi conferida
por ninguém, criaram a sua própria “Comissão Extraordinária de Direitos Humanos
e Minorias”. Então tá.
O evento foi anunciado com
antecedência. Cartunistas da Folha promoveram um beijaço nas tirinhas do jornal
— tudo selinho, sem língua; um deles, visivelmente, deu um jeito de recusar até
o selinho… Nada de beijo francês nas tirinhas do jornal! Tudo muito pudico e
respeitoso. Afinal, isso é política, companheiros, não sacanagem. Marcuse deve estar
se revirando na tumba.
Noto: a praça pode abrigar
manifestações assim. É do povo, e mesmo dos que ousam falar em seu nome, como o
céu é do condor. Não tenho nada contra — e até apoio — protestos dessa
natureza. Não sei se houve um beijaço no fim do evento. Ficaria bem. Mas
continuo na minha campanha contra esses beijos que o padre Júlio Lancelotti
poderia classificar de ”higienistas”, reacionários, que viraram a
coqueluche dos bacanas que têm “posição”.
Ignorei inicialmente o evento
porque a gritaria de minorias, da forma como é manipulada pelas esquerdas,
costuma ser uma forma de molestar os fundamentos da democracia e tem é de ser
denunciada. Como o evento ocorreu numa praça, por mim, tudo bem! E estou ainda
mais certo sobre esse caráter deletério dessa militância estridente quando
constato que duas agressões óbvias aos valores democráticos são solenemente
ignoradas pela turma.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 26-04-2013
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