A imprensa brasileira deve
sempre ter em mente a imprensa argentina. Néstor Kirchner chegou ao poder com o
país na bancarrota. Qualquer solução era solução para quem não tinha nenhuma.
Durante um bom tempo, o jornalismo do país atuou numa espécie de ordem unida,
embora houvesse a ligeira desconfiança de que o “Vesgo” (como o chamou José
Mujica, presidente do Uruguai) não batesse muito bem dos pinos. Eventos os mais
variados foram distanciando um tanto a grande imprensa de Cristina Kirchner,
que sucedeu o marido, buscou a reeleição e agora ambiciona o terceiro mandato.
A situação hoje é de
beligerância. Cristina montou suas milícias e decidiu declarar guerra à
imprensa. O alvo preferencial é o maior grupo de comunicação do país, o Clarín.
Derrotada pela Justiça na tentativa de dividir e pulverizar os ativos do grupo,
a presidente da Argentina, porém não desistiu. E a coisa agora avança para a
arruaça.
Na quinta-feira, o Clarín
realizou uma reunião de acionistas. O estado argentino detém 9% das ações do
grupo. Foi na condição de acionista minoritário que dois figurões do primeiro
escalão do governo Cristina Kirchner decidiram, literalmente, invadir a
assembleia com um batalhão de “repórteres”, cinegrafistas, fotógrafos…
Comandava a milícia truculenta o poderoso secretário do Comércio Exterior,
Guillermo Moreno, aquele senhor de bigode que vocês verão abaixo. O vídeo que
segue foi tornado público pelo próprio Clarín. Há um outro que está sendo
divulgado pelo governo. Já chego lá. Vejam.
Aquele sujeito ao lado de Moreno, de costeletas e camisa aberta ao peito, com a gola sobreposta ao paletó e pinta de cantor de bordel, é vice-ministro da Economia, Axel Kicillof, 42 anos. Consta que Cristina está inteiramente entregue a seus cuidados — até na economia… Ele é o mentor das nacionalizações feitas pelo governo, da manipulação dos índices de inflação, do controle de câmbio aloprado que passou a existir no país, da bancarrota, enfim.
Moreno é um notável demagogo,
e Kicillof, um arrogante conhecido. No ano passado, convidado a prestar
informações no Senado sobre a economia, compareceu com o seu peito à mostra e
falou dando murros na mesa. O país está entregue a celerados.
Agora vejam este outro vídeo,
tornado público pelo próprio governo — o que significa que a malta está
orgulhosa do que fez. Volto em seguida.
Voltei
Imaginem ter de aguentar dois
incompetentes, que estão, em companhia da presidente, enterrado o país, a dar
lições de moral e de gestão. Kicillof aproveita a oportunidade para questionar
os altos salários dos executivos do Clarín. O clima, como se percebe, é de
constrangimento. Ao chegar, Moreno afirmou ao vice-ministro da economia: “Isso
tudo será nosso!”.
Aqui, ali, acolá, quase em
toda a parte, vejo a imprensa brasileira a condescender com os autoritários de
cá, na certeza de que não custa fazer uma concessão ou outra para manter as
boas relações. Informação: não adianta! Eles não gostam de imprensa livre e
ponto final! Uma única crítica basta para lhes assanhar o rancor, e nem dez
elogios lhes aplacam a fúria. José Genoino, que andou soltando os cachorros
contra a imprensa livre, deve babar de satisfação ao ver cenas assim: “Isso é
que é democracia!”.
O único alimento da imprensa
independente é a independência. Os autoritários da América Latina, que atuam em
rede, estão cada vez mais assanhados. A imprensa livre está hoje debaixo de
porrete na Nicarágua, na Venezuela, no Equador, na Bolívia, na Argentina e, sim,
senhores!, no Brasil. A pressão, por aqui, para “regulamentar a mídia” é
grande. Enquanto os fascistoides não avançam, o dinheiro público das estatais e
do próprio governo federal financia o subjornalismo da difamação.
Deem mole aos nossos Morenos e
os Kicillofs para vocês verem o que acontece: acabarão metendo o dedo no nariz
dos acionistas das empresas de comunicação, mais ou menos como já fazem em
algumas outras áreas da economia.
Não é um projeto só do PT. É o
projeto de uma legião.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 27-04-2013
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