quinta-feira, 9 de maio de 2013

Eduquês blogístico

Vitor Cunha
Percorrer a blogosfera dita de esquerda é um exercício em frustração idêntico ao desfolhar dos jornais portugueses. Verifica-se uma prevalência da palavra “alternativa”, como se esta, escrita em suficiente número, constituísse uma proposta em si própria. Ao lado da “alternativa” convive o insulto, como se caixas de comentários de jornais online se constituíssem em blogs organizados, substituindo um saudável maldizer crítico pela verborreia de superioridade, a que dispensa explicar “alternativas” em prol da redução ao absurdo do “animal feroz”, cujo discurso é, em si mesmo, a narrativa. Digamos que as semelhanças com a violência doméstica são apenas embaraçosas. Talvez a “alternativa” seja, para estas pessoas – a quem chamarei pessoas e não “gentinha” – o próprio insulto. Tudo bem, tem várias vantagens: é gratuito, não aumenta despesa, contraria a narrativa da ditadura e demonstra que a percepção de liberdade dos “verdadeiros democratas” é incompatível com a liberdade dos outros.
Pessoalmente, vejo com bons olhos a “alternativa” política no insulto: demonstra maior aptidão para a valorização do vernáculo em detrimento da disciplina aritmética, documenta o demérito do eduquês e reafirma a convicção que as máquinas de calcular são dispensáveis no domínio da matemática transcendental.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 09-05-2013
Adenda: é desfolhar e não folhear porque é impossível folhear um jornal sem arrancar as folhas.

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