segunda-feira, 13 de maio de 2013

Energia barata nos EUA já afeta indústrias DE PESO no Brasil


PREPAREM-SE PARA O XISTO BETUMINOSO!

Francisco Vianna
Na medida em que a exploração do gás de xisto betuminoso se torna mais consistente nos EUA, o preço dessa mercadoria lá já está a custar 20% do que é cobrado aqui no Brasil. Isso reduziu a competitividade nacional e afastou investimentos de indústrias de alto consumo energético, como a de vidro, de cerâmica e a petroquímica.

O Brasil começa a perder – ou adiar – de forma crescente muitos bilhões de dólares em investimentos em função da concorrência de mercado do gás de xisto americano com o gás natural brasileiro, que em três anos passou a valer, o primeiro, algo em torno de 20% do segundo. Com isso, as indústrias cujos custos operacionais dependem em até 35% do gás, como as fabricantes de cerâmica e vidro, petroquímica e química, entre outras, perdem rapidamente competitividade, aumentam importações buscam investir no exterior em função da queda de investimento externo no setor e no país. Em função disso, até setores manufatureiros tradicionais, como o de brinquedos, se ressentem desses efeitos.

O superintendente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos (ANFACER), Antonio Carlos Kieling, explica que “uma fatia importante do setor está com seus fornos desligados. Estamos perdendo competitividade da noite para o dia e o risco é da produção nacional ser substituída pela importada".

Kieling disse também que “as importações do setor explodiram num aumento de 9.000% em apenas sete anos, chegando a movimentar 220 milhões de dólares ao ano, de forma crescente, uma vez que 25% dos seus custos de produção vêm do consumo de gás”.

A perda de competitividade é anunciada em vários setores, mas tange com mais vigor as indústrias químicas e petroquímicas. Empresas como Braskem, Unigel e Dow Chemical figuram entre as que decidiram congelar seus programados investimentos de bilhões de dólares no Brasil, com parte desses recursos sendo direcionada para o parque industrial americano e canadense.

Empresas transnacionais decidiram suspender os seus planos de expansão no Brasil desde há pouco mais de três anos. A AGC vidros, por exemplo, que investiu cerca de 400 milhões de dólares numa nova fábrica a ser inaugurada em Guaratinguetá (SP) neste ano para produção de vidro plano, espelhos e vidro automotivo, desistiu de dobrar a sua capacidade de produção com o investimento de mais 400 milhões de dólares, por tempo indeterminado. O CEO da AGC Vidros do Brasil, David Cappellino, disse que “a multinacional tem unidades nos Estados Unidos, nos Emirados Árabes, Arábia Saudita e no Egito, onde o preço do gás é 20% do cobrado no Brasil, e passaram a ganhar preferência na destinação de recursos de capital, e, com certeza, o preço do gás tornou a decisão de investir no Brasil muito mais difícil".

A CEBRACE, outra transnacional do vidro, que tinha planejado investir até cerca de 500 milhões de dólares para transformar o Brasil numa plataforma de exportação de vidros para a América Latina, suspendeu novas decisões sobre tais investimentos no Brasil e teve sua atenção voltada para países como a Argentina, o Chile, e a Colômbia. Da mesma forma, a GUARDIAN, outra dessas transnacionais, passou a rever sua carteira de investimentos, uma vez que, hoje, o setor já importa 35% do vidro plano, em comparação com os 10% que importava em 2007.

Lucien Belmonte, superintendente da associação setorial ABIVIDRO se declara progressivamente preocupada com a situação desse setor industrial e vaticina: “Não havendo novos investimentos de peso, o futuro depende de decisões a serem tomadas agora. Quero ver como o setor vai estar lá para 2018". No grosso modo, poderá haver uma perda de até US$ 3 bilhões na década pela redução de competitividade acarretada pelo preço do gás, o que representa um processo importante de desindustrialização do país. “Estamos em marcha à ré”, diz Belmonte. 

Nos últimos cinco anos, são os próprios americanos que têm nos avisado que devemos nos preparar para “a era americana do xisto betuminoso”, que não apenas fará com que os EUA deixem de importar combustíveis fósseis, mas se torne também exportadores da mercadoria. Como sempre, foi a inovação tecnológica do “fracting” do xisto que está a produzir toda essa reviravolta no mercado, uma vez que as jazidas naturais desse material são muito mais abundantes nos países de grande extensão territorial, como Canadá, EUA, Brasil, Rússia, China, do que as de petróleo líquido.

Neste curto espaço de tempo, os EUA passaram da situação de ‘grande importador de gás’ para a de ‘potencial exportador’, num quadro geoeconômico totalmente imprevisível até o final da década passada. A enorme quantidade de gás disponibilizado no mercado fez com que o gás americano caísse de 9 dólares, em 2008, para 1,82 dólares por milhão de BTU (unidade térmica britânica, a referência para o mercado de gás) em abril de 2012. Hoje, o preço do gás americano custa em torno de US$ 2,5 a US$ 3 por milhão/BTUs. No Brasil o produto está cerca de cinco vezes mais caro e custa entre US$ 12 e US$ 16 por milhão/BTUs. Na Europa, o preço se situa entre US$ 8 e US$ 10. Alguns agentes do próprio governo brasileiro reconhecem que “quem compete no mercado internacional e tem sua produção no Brasil está a reclamar de Brasília uma nova política para o setor".

Soma-se a esse efeito, mais intenso para indústrias que usam o gás como matéria-prima, o pífio investimento estatal em infraestrutura e está montado o ‘circo dos horrores’ para quem fabrica fertilizantes, fornos e máquinas no país, tornando progressivamente caros todos os insumos agropecuários e para a maior parte do parque industrial brasileiro.

Não é apenas a mentalidade socialista dos últimos governos tupiniquins, mas também a incompetência, que estão a manter o país derrapando na incúria e na ineficiência de seus pseudogestores. Como o quadro político brasileiro e a mentalidade que o sustenta é a mesma vigente na maioria dos países sulamericanos que estão em queda livre em direção ao caos, como Argentina, Bolívia, Equador, e Venezuela, o horizonte brasileiro, dado ao seu tamanho e importância, está toldado de pesadas nuvens escuras...
Título e Texto: Francisco Vianna, 13-05-2013

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