O que sei é que evangélicos não são estupradores, assim como católicos
não são pedófilos! Ou: O pastor e um vídeo do AfroReggae
Reinaldo Azevedo
Já recebi aqui uns “trocentos”
comentários sobre o tal pastor Marcos Pereira, da Igreja Assembleia de Deus dos
Últimos Dias. Ele é acusado de ter cometido vários estupros e de ter se
associado ao narcotráfico, e se investiga até a possibilidade de envolvimento
com um homicídio. Está preso. Se cometeu os crimes de que é acusado, que fique
800 anos na cadeia. O que sei — e a patrulha pode desistir que não cedo a esse
tipo de pressão vagabunda — é que evangélicos não são estupradores ou tendentes
ao estupro, assim como católicos não são pedófilos ou tendentes à pedofilia.
Nessas horas, dá quase para
tocar no clima de preconceito, de tal forma ele se adensa. “Esses evangélicos
são mesmo uns falsos moralistas… Vejam lá!”. Ou ainda: “Esses evangélicos são
contra o casamento gay, mas abrigam estupradores”. Ou por que não: “Todo
moralista, no fundo, é mesmo um pervertido”. Parafraseando Musil sobre Kakânia
(ele falava de outro assunto…), em Banânia, tendemos a achar que todo moralista
é um pervertido, mas ainda não chegamos ao requinte de considerar todo
pervertido um moralista…
Como já apontei aqui — e
apontarei outras 500 vezes se necessário —, a existência de um ativo
preconceito antirreligioso na imprensa brasileira, os idiotas perdem a modéstia
e perguntam: “O que você vai dizer agora?”. Vou dizer o óbvio: cadeia para
Marcos Pereira se for culpado, como defendi cadeia para padres pedófilos. Qual
o mistério? NOTA À MARGEM: o preconceito antirreligioso da nossa imprensa é, na
verdade, anticristão (antievangélico e anticatólico). Em relação ao Islã, por
exemplo, dá-se o contrário: busca-se provar, por exemplo, que atos terroristas
são dissociados da religião. Qualquer orientalismo é sempre bem-vindo. Se
aparecer algum sugerindo que comer capim purifica a alma, o defensor dessa
purificação será tratado como Santo Agostinho jamais seria porque Santo
Agostinho, por óbvio, é incompatível com capim.
“Ah, Fulano de tal,
evangélico, já defendeu Marcos Pereira; Beltrano também…” Certamente não o
defenderam porque fosse um estuprador, não é mesmo? Aliás, entendo que a
notícia merece tal destaque justamente porque nos parece especialmente
incompatíveis estas duas realidades: o fato de o sujeito ser um líder religioso
e, ao mesmo tempo, um estuprador. “Ah, ele já era acusado de muita coisa…” É
verdade! Desde o tempo, por exemplo, em que o movimento AfroReggae, ausente do
noticiário (eventualmente aparece como um berço de heróis), atuava em parceria
com ele. Em fevereiro do ano passado, José Júnior, o coordenador do movimento,
acusou Pereira de planejar a sua morte. Nunca ficou claro o motivo. O certo é
que brigaram.
Amigos? Ah, eles foram, sim!!!
E como!!! Vejam o vídeo abaixo, em que José Júnior canta as glórias de Marcos
Pereira. Pergunta óbvia: digamos que Júnior tenha sido enganado… Por que os
evangélicos, que elogiaram o pastor que está preso, não podem entrar na mesma
categoria? Respondo: porque José Júnior, na imprensa, é considerado um
“ativista social”, acima do bem e do mal, e os evangélicos são vítimas do tal
preconceito a que me referi. No vídeo abaixo, peço que vocês prestem atenção à
fala de José Júnior, a partir de 4min24s (transcrevo-a em seguida):
A Fala de José Júnior
José Júnior – Pastor, as igrejas, geralmente, têm uma postura muito pacifista, o que é natural, mas a gente percebe que a Assembleia de Deus dos Últimos Dias, que é a sua igreja, na verdade, é um grupo de guerreiros que vai no meio do front mesmo, e que o senhor não usa arma de fogo, mas utiliza a palavra de Deus como se fosse uma ponto 30 e sai fuzilando todo mundo
José Júnior – Pastor, as igrejas, geralmente, têm uma postura muito pacifista, o que é natural, mas a gente percebe que a Assembleia de Deus dos Últimos Dias, que é a sua igreja, na verdade, é um grupo de guerreiros que vai no meio do front mesmo, e que o senhor não usa arma de fogo, mas utiliza a palavra de Deus como se fosse uma ponto 30 e sai fuzilando todo mundo
“A palavra de Deus como uma ‘Ponto 30’”!!! Belas
palavras, sem dúvida, não é mesmo?, para designar uma ação religiosa. José
Júnior fosse outro, certamente renderia um tratado sobre algo mais ou menos
assim: “Diz-me que metáforas usas e te direi quem és…”.
Que fique claro: o pastor estava proibido de entrar no
presídio Moniz Sodré havia quatro anos porque existiam severas desconfianças
sobre a natureza e os efeitos de sua pregação. Voltou por intermédio do
AfroReggae.
“Olhem o Reinaldo tentando arrastar o sacrossanto
AfroReggae, que acha que a palavra de Deus deve ser usada como uma ‘Ponto 30’,
para a aluvião que colhe o pastor Marcos Pereira”!!! Não estou tentando
arrastar nada nem ninguém. Até hoje, não se sabe direito por que José Júnior e
Pereira brigaram. Sei que já havia uma penca de acusações contra o pastor
quando faziam trabalho juntos. O rompimento, depois, foi estrepitoso.
Estou exercendo o jornalismo como gênero didático: estou
demonstrando que o pastor Marcos Pereira, a despeito das suspeitas e acusações,
era aplaudido por um monte de gente, tanto por aqueles que a imprensa adora
detestar, como os cristãos, como por aqueles que a imprensa adora amar, como o
AfroReggae.
E não, sob nenhuma hipótese, a palavra de Deus pode ser
usada como uma “Ponto Trinta”. É ruim como fato e é ruim como metáfora.
PS: O vídeo acima é o primeiro de uma série de quatro.
Estão todos no YouTube, se é que não se dará um jeito de tirá-los de lá…
Título e Texto: Reinaldo
Azevedo, 09-05-2013
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