segunda-feira, 17 de junho de 2013

A cigarra e a formiga. Ou: uma anti-fábula de Esopo

José Carlos Bolognese

Uma formiguinha, funcionária de um formigueiro de renome, carregava sua folha, três vezes maior que ela mesma na sua faina diária e sempre passava por um arbusto onde Zilcléia, uma cigarra desbocada fazia troça de seu esforço para viver. Todo o dia era a mesma coisa: Ó, aí,  Otávia… (era o nome da formiguinha), enquanto você fica aí se rasgando por essa merreca de folha, eu vou levando a vida numa boa!

A formiguinha, quando se dava ao trabalho de responder dizia:
– Eu não trabalho só pra hoje, não. Eu penso no futuro. Aderi a uma previdência. Todo mês o formigueiro deposita folhas no meu plano de previdência formigal, o Insectus. Quando não puder mais catar folhas, eu me aposento. O pessoal do Insectus me garantiu que até o fim da vida eles me pagam uma pensão direitinho!

– Ah, é…?, exclamava Zilcléia, bote as barbas de molho, quando te contarem que esse Insectus aí tem seus próprios meios de correção…hahaha…

O tempo passou, a formiguinha sempre dando duro e contribuindo para o Insectus e a cigarra porra louca batendo cabeça aqui e acolá, acabou descolando um jeito de gravar um CD. Formou uma banda (Zizi Starr e as Ziziletes) e conseguiu se apresentar no Faustão. Meteu a mão numa grana esperta, comprou apê na Barra e agora só anda de Pajero (que tem alarme com som de cigarra).


A formiguinha, ao ver aproximar a tão esperada hora de pendurar suas seis chuteiras, juntou a papelada e se mandou pro Instituto Insectus de Previdência Formigal. Conseguiu se aposentar e já fazia planos para uma vidinha decente. Que não durou muito, pois com o passar do tempo, notou que a sua pensão de folhinhas mensais diminuía… e logo ficou sabendo que o formigueiro havia muito, não depositava a sua parte das folhas que rezava no contrato. Foi o primeiro golpe. O primeiro jato de Rodox. E pior… um grupo de tamanduás estrangeiros havia comprado o formigueiro por uma fração do valor, num leilão fajuto levando só a parte boa. Logo começaram a aparecer as suas colegas demitidas que nem podiam mais se aposentar. É que a AARDVARKS, a empresa de tamanduás agora dona do formigueiro, só queria agora aquelas formiguetes saradas com tudo em cima, tipo desenho da Disney…

Só agora, tarde na vida, é que Otávia, (Oh, Otávia!), começava a entender que Zilcléia, a cigarra, (agora Zizi Starr), tinha razão. Em terra de tamanduá, formiga não tem vez…

Moral da história: Fala sério! Essa história tem de tudo, menos moralidade…
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 17-06-2013

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