domingo, 16 de junho de 2013

Deus a falar contigo (segundo Baruch Spinoza)


Francisco Vianna
Pare de ficar a rezar e a bater no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes da tua vida. Eu quero que gozes, cantes, que te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti e te proporcionei.

Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios, que tu mesmo construístes e que acreditas e dizes ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. No cerne das coisas animadas ou não. Aí é onde Eu vivo e aí onde expresso meu amor por ti.

Para de me culpar pela tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti, ou que és um pecador, ou ainda que a tua sexualidade fosse algo ruim. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar o teu amor, o teu êxtase, a tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Para de te pores a ler as supostas ‘escrituras sagradas’, que nada têm a ver Comigo. Se não podes me envergar num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho, não me encontrarás tampouco em nenhum desses livros!

Confia em mim e deixa de me pedir por tudo. Vais, por acaso, me dizer como fazer meu trabalho?
Para de ter tanto medo de mim. Não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo, pois sou puro amor.

Para de me pedir perdão. Não há nada por que te perdoar. Se Eu te fiz, isso significa que Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus dentro de ti?

Como posso te castigar por seres como és, se fui Eu quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimares e sofreres e a muitos de meus filhos que não se comportaram bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus poderia fazer tal coisa absurda? Esqueça qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, para te manietar, e que só geram culpa em ti. Segue apenas as leis naturais que são evidentes por si próprias.

Respeita o teu próximo e não faças a ninguém o que não queiras que façam a ti. A única coisa que te peço é que dês total atenção à tua vida, e que teu estado de alerta e o bom senso do qual te dotei sejam teus guias e parâmetros. Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso ou para uma suposta vida depois da tua morte. Esta vida é a única coisa que há, aqui e agora, e a única que precisas para ser feliz.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva consigo um placar ou um registro das coisas que faz. Apenas poderá pagar o preço quando o que fazes se volte contra ti. És absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, pois isso tiraria dela toda a graça, todo o atrativo, todo o mistério. Mas posso te dar um conselho: viva como se não houvesse o depois e morra como quem está prestes a descobrir todo o mistério.

Vive como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir e seja feliz. Assim, se não houver nada depois da vida, terás aproveitado a oportunidade que te dei. E se houver, com certeza não te perguntarei se fostes bem comportado ou não. Só te perguntarei se gostastes de ter vivido, se conseguistes ser feliz. Hei de querer saber se te divertistes, do que mais apreciastes, o que aprendestes?

Para de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar, fazer de conta. Não quero que simplesmente acredites em mim. Quero que me sintas em ti e no teu entorno. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho de mar e quando tua visão do universo alcança patamares mais altos pelo conhecimento, mesmo que isso te traga invariavelmente muitas novas dúvidas e te mostre imensas ignorâncias.

Para de me louvar! Que tipo de Deus ególatra tu pensas que sou? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que vivam a me agradecer. Sentes-te grato? Muito bem, só as almas boas são gratas, mas demonstre tua gratidão a cuidar de ti próprio, de tua saúde, de tuas relações com o próximo, de tuas ações no mundo. Sentes-te olhado, surpreendido? Então, se isso te alegra ou reconforta, expresse tua alegria aos demais! Muitos a compartilharão e o mundo será um lugar melhor de se viver. Esse é o melhor jeito de me louvar.

Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. Só os puros, sinceros, e bons sabem alguma coisa de Mim. A única certeza é que estás aqui, agora, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas que fiz para que as admirasses e nelas te inspirasses.

Para que precisas de mais milagres? Para que queres tantas explicações? Não me procures fora de ti! Não me acharás. Procura-me dentro... É aí que estou, a pulsar em ti.

As palavras acima são de Baruch Spinoza – nascido em 1632 em Amsterdã, falecido em Haia em 21 de fevereiro de 1677. Foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Era de família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno. Essas palavras foram ditas em pleno Século XVII.

Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.

Alguns esquerdopatas têm o desplante de dizer que Spinoza era socialista e ateu... Pergunto eu: COMO? Um agnóstico verdadeiro nunca é um ateu. Pelo contrário, para ele Deus não é uma crença, mas uma realidade suprarreligiosa, axiomática, e palpável.  E o mundo, no século XVII ainda não estava infectado dessa sociopatia chamada "socialismo".
Francisco Vianna, 16-06-2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-