quinta-feira, 13 de junho de 2013

Três notas breves sobre o fechamento da ERT


João Pinto Bastos
1) As democracias hodiernas têm uma característica muito "sui generis": tudo é atingível, excepto a sacrossanta televisão pública. Quando a há, claro está. O aparelho mediático governamental é intocável. A Grécia não constitui, pois, uma excepção. Lá como cá, a televisão pública é um bem intocável e intocado. As prebendas e os privilégios que advêm do domínio comunicacional pertencem ao domínio da eternidade intangível. Há funcionários a mais? Não interessa, o contribuinte paga. Há despesas a mais? Não importa, o Patropoulos paga. A programação é péssima? Os privados fazem ainda pior. O cenário é dantesco, mas serve na perfeição os objectivos cimeiros das elites demomedíocres.

2) Há um pormenor que quedou, estranhamente, fora da discussão, e do clamor público, diga-se de passagem, em torno desta questão: falo, pois, da imensa corrupção que grassa no sector comunicacional público grego. É no mínimo esquisito que, de um momento para o outro, a televisão grega tenha passado a ser um modelo de boas práticas. Esquisito e extravagante. Qualquer estudante de jornalismo do 1º ano sabe que, na pátria do verdadeiro e autêntico Sócrates, a televisão pública era e é uma coutada de favores, permeada pela mãozinha aconchegante do poder político. É, e, no fundo, continuará a ser.

3) Uma decisão destas, num país em ebulição, arrisca-se, de facto, a criar um torvelinho político de proporções inimagináveis. Mais: os pormenores desta decisão permanecem absolutamente nebulosos. Continua ou não a haver televisão pública? Caso a resposta seja negativa, o Governo grego manterá ou não uma posição de influência nos restantes media privados? Isto é, há ou não uma verdadeira reforma da comunicação social? Numa altura em que a instabilidade financeira em redor do euro volta a ganhar tracção, este tipo de incidentes só causam mossa. A "weimarização" grega continua, lenta e inexoravelmente, o seu caminho de destruição.
Título e Texto: João Pinto Bastos, “Estado-Sentido”, 13-06-2013

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