quarta-feira, 31 de julho de 2013

Movimentos Sociais e Liderança: Uma Análise Contemporânea.

São Paulo, 17 de junho de 2013
Antonio Celente Videira
Diante dos Movimentos Sociais, designados também, aqui no Brasil, de “vozes das ruas”, há quem diga que as lideranças se extinguiram. O líder perdeu a sua razão de ser.
Esse raciocínio, para mim, é de extrema estreiteza. O líder não deixou de existir, mas, nos últimos tempos, passou a ser não identificável.

O desgaste dos políticos dos últimos 20 anos levou ao encolhimento da figura de lideranças nacionais. O perfil do homem público, que desempenha cargo eletivo, está desgastado, ficou atrofiado em conseqüência de suas atitudes interesseiras. É evasivo, sem personalidade, não mantém posições definidas, uma vez que se rende à obtenção do voto, aliás, seu único fim. O político de hoje trai a sua ideologia cultural, renegando valores adquiridos de seus antepassados, não se contrapondo a movimentos espúrios que ameaçam a raiz da dignidade familiar e da sociedade em que vive. É covarde em seus posicionamentos, tudo visando estar bem com todos, não querendo ficar “mal na fotografia”. O apoio de comunidades que professam os mais vis hábitos como a homoafetividade, o aborto, a liberalização das drogas, a negação de símbolos religiosos é muito bem-vindo para que se estabeleça em seus cargos políticos. E o pior, denomina tais práticas de progressistas. “Uma verdadeira piada”!

Todo um jogo foi concebido, nas duas últimas décadas, em que programas sociais estariam acima de qualquer estratégia relevante ao País. Nos últimos dez anos, isso foi acentuado sem pudor. O objetivo era e é “pão e circo”. O pão foi representado por programas sociais, como por exemplo, bolsa família, bolsa presidiário, bolsa crack e, por fim, bolsa prostituta em fase de aprovação, tudo dentro do programa Brasil sem Miséria. Já o circo seria os megaeventos, com destaque para os Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa das Confederações de 2013, o Campeonato Mundial de 2014, a Olimpíada de 2016. Isso sem considerar o Rock in Rio, o carnaval, os grandes clássicos do futebol. O cenário estava montado para se comandar uma geração de andróides, massa amorfa apática, atrofiada nas suas reflexões, sem qualquer interesse pelas coisas públicas, o que asseguraria a esse político e a seu partido, bem como aos seus aliados a eterna permanência no poder.

A configuração desse desenho social dava respaldo à vanglória do Governo em dizer que tinha 70% de aprovação da população. Podia-se até ameaçar quem fazia oposição com a afirmação de que o “bicho vai pegar”, com clara afronta à democracia.
Mas algo novo não se levou em consideração, pois, sorrateiramente, uma nova geração foi se desenvolvendo e se inserindo no contexto demográfico nacional. Essa geração “gritou” em junho passado e vem “gritando” por conquistas sociais que lhes foram e estão sendo negadas, mesmo com a enunciação da tola mentira de que “democracia gera mais desejo de democracia, qualidade de vida desperta anseio por mais qualidade de vida”.

Acontece que essa geração é filha da geração das “diretas já” e neta dos que se opuseram à Revolução de 1964, cujos pais e avós, apesar de reclamarem da ditadura, ainda presenciaram, naquela época, embates entre oposição e situação. Esses jovens não sabem o que é ideologia de Direita ou de Esquerda. Falaram para eles que os poucos partidos opositores ao populismo atual são de Direita, mas desconhecem que hoje, no Brasil, não existe Direita, pois tanto quem está no Governo ou lhe fazendo oposição são oriundos da Esquerda dos anos 60. Esses jovens são os “twiteiros”, os “fecebooquianos”, os “blogueiros” denominados também de Geração Y ou do milênio. Caracterizam-se pelo ato da “clicagem”, ou seja, ao não se interessarem por algo virtual, apertam a tecla do mouse e deletam o que lhes é estampado na “telinha” de suas mídias ou então mudam de assunto procurando outro “site” ou “blog”. São os “cliqueiros”, pessoas imediatistas, querem flexibilidade no trabalho, não ficam muito tempo em um emprego, porque têm dificuldade de encontrar um veterano ou um superior, com mais experiência, que inspiram confiança para lhes apontar objetivos e caminhos. Lamentavelmente, alguns partem para o vandalismo, com expressivas cenas de violência, preferindo o anarquismo, o que pode levar à ruptura da paz social, algo temeroso à Nação. O Papa FRANCISCO se reportou aos baderneiros, como jovens manipulados por pessoas maduras, mas radicais que desprezam o diálogo na solução dos problemas sociais.
     
Porém, por incrível que pareça, são jovens com certa cultura, mesmo superficial, já que vivem na sociedade do conhecimento, o que lhes dá condições para perceberem e interpretarem maracutaias e mutretagens, além de não agüentarem mais a embolação partidária, em que acordos e negociatas políticas são arquitetados em prol de interesses escusos. Na verdade, desejam mandar para “lixeira” parlamentares e mandatários, cuja representatividade tornou-se desacreditada e descredenciada junto ao povo.
Aí está a “fornalha” que configura os movimentos sociais sem uma direção definida, multifacetados nos seus desejos, com total ausência de mentores capazes de direcionarem a novas causas.

Na verdade, o líder nunca esteve e nunca estará ausente. Desde os guias dos bandos dos australopitecus da pré-história, passando pelos capitães que comandaram os exércitos da antiguidade e da idade média até os estadistas que vivenciaram e conduziram os ciclópicos eventos do último século, lá estava ele como senhor de todos os acontecimentos.
Na verdade, o líder de hoje não é mais o arrogante ou o petulante que se arvora na sua fala. Mesmo administrando uma massa governamental em franco processo entrópico, alardeia pelas mudanças dos últimos dez anos, renegando, portanto, contribuições de ícones do passado que fizeram a história desse País. É possível alguém acreditar nesse tipo de discurso?
O líder de hoje é o que muito faz e pouco fala. Sabe que as palavras convencem, mas os atos arrastam multidões. O seu silêncio encanta, pois ouvir significa respaldar-se para aplicar as ações planejadas.

Quando o Papa FRANCISCO pede licença para entrar no País, dirigindo-se ao povo e, em especial à juventude, “alegando que não tem ouro nem prata, mas traz o que lhe é mais precioso para si: JESUS CRISTO”, apresenta um estilo de liderança diferente que extrapola as mais vis propagandas eleitoreiras e autoritárias. James Hunter, consultor de gestão corporativa, em seu best-seller, o MONGE E O EXECUTIVO, é providencial nesta afirmação. É ainda mais feliz, nos seus argumentos sobre o gestor, como modelo de guia corporativo, ao publicar COMO SE TORNAR UM LÍDER SERVIDOR. Mas James Hunter é enfático ao considerar que essa atitude é somente válida para o líder com conduta ilibada, sem qualquer mácula de caráter no seu passado.

Por mais paradoxal que seja, nesse mundo globalizado e em rede organizacionais, as instituições que guardam em si, expressivamente, o aspecto da liderança são a eclesial e a militar, mesmo tendo estruturas verticalizadas. Isso se deve a dois fatores: a hierarquia e a disciplina. Mesmo sendo banalizados pelos que se intitulam avançados, tanto a hierarquia como a disciplina são balizadores na ordenação do regime das relações entre cidadãos. “Ordem e Progresso” é o lema da Bandeira Nacional, como pendão a nortear nosso povo. A isso, nos últimos tempos, vem se tentando destruir, à medida que se provoca o desmanche de instituições seculares, com a inversão de práticas salutares da família, em que condutas exógenas ao respeitoso convívio entre pessoas, não importando a classe ou raça, são priorizadas em novo código de conduta. Eis aí a causa das explosões sociais que eclodem na atualidade. 

Por tudo isso, cabe dizer que a liderança não se esvaiu. Ela está em letargia, como atributo, no interior dos que têm o privilégio de possuí-la. O silêncio de suas condutas é impregnante, a altivez de suas percepções, diante dos acontecimentos, é serena, a honradez de suas ações, dentro do caos estabelecido, cativa os que lhes estão próximo. Pode estar certo de que o líder, hoje, encontra-se nos mais distintos locais. Na repartição pública, na empresa, no quartel, no hospital, na igreja, na universidade, na federação industrial e comercial, enfim, na posição que melhor lhe facilitará impedir a ruptura da ordem jurídica nacional.
Da mesma forma que as “vozes das ruas” eclodiram sem que houvesse uma prévia sinalização, o “líder da última hora” ressurgirá oportunamente, saindo de seus nichos, talvez, quem sabe, para liderar, dentre outras, as “vozes da rua”, na direção do entendimento nacional.
Título e Texto: Antonio Celente Videira, Membro da Academia Brasileira de Defesa (ABD), 31-7-2013

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