quarta-feira, 10 de julho de 2013

Também quero ser espionado

José Carlos Bolognese

Parecem formigas numa chapa quente depois que o tal Edward Snowden dedurou as espionagens da CIA também no nosso Brasil varonil, salve, salve!
Espião terceirizado (se a CIA fosse a Varig o Snowden seria da SATA), vai ver estava a fim de uma promoção a um cargo efetivo que não saiu e vingou-se botando a boca no megafone. Depois de denunciar que seus compatriotas yankees nos espionam o tempo todo e em todo lugar - na rua, na casa, na fazenda ou numa casinha de sapê - em nossos e-mails, twitters, fêissibuks, etc., o papagaio americano Ed Snowden está está pedindo asilo em qualquer lugar, um canto só pra chamar Dirceu, digo... de seu.
Mas eu, como aposentado da Varig via Aerus, ou vice-versa, me sinto mais uma vez relegado ao esquecimento agora da poderosa CIA americana, já que a nossa, a Comissão de Incineração de Aposentados, não brinca em serviço e já despachou para o crematório mais de 800 aposentados do Aerus sem medo de ser espionada.
Ao contrário da malta petralha que não quer ser espionada - não por motivos patrióticos, é claro - mas por medo de se ver confirmado pelos malvados gringos tudo o que aprontaram nos últimos doze anos e a gente já sabe e sente por aqui, eu e mais um monte de colegas em expiação por pecados que não cometemos, exigimos isonomia mais uma vez pelo direito de sermos espionados.

Se a CIA (a dos gringos), resolver estender lentes e ouvidos eletrônicos sobre a realidade tupiniquim, verá que aqui os aposentados são sempre jogados na lata de lixo, porque a justiça de um modo geral está sempre a sofrer pressões político-economicas e não pode atender a velhos reclamões morrendo de fome - para não causar danos irreparáveis à União. É que - porque aqui - para sua grande surpresa, a CIA descobrirá que um conceito muito diferente define o que é a União. Além de marca de açúcar, União no Brasil não tem nada a ver com o conjunto dos cidadãos/eleitores/pagadores de impostos/seus deveres/seus direitos.

A “nossa” União é aquela que não pode renegociar uma conta de combustível para uma empresa aérea levando-a à falência, por exemplo, mas pode com toda a magnanimidade, deixar um índio cucaracha roubar duas refinarias caríssimas e fica-se por isso mesmo. E a justiça que defende valorosamente a União contra esses cruéis aposentados, não se incomoda se forem torrados um bilhão e duzentos milhões de dólares (da União) na compra (da metade) de uma refinaria americana que valia 42,5 milhões de dólares... mas não pode – e a “justiça” apoia – conceder aos ex-trabalhadores da Varig os benefícios de uma decisão tomada há exatamente um ano atrás quando um corajoso juiz sentenciou que a União é responsável pela sua sobrevivência – porque responsável por sua desgraça.

Assim, peço encarecidamente aos arapongas de Tio Sam que venham nos espionar. Venham ver que aqui as agências reguladoras regulam mesmo pra valer. Regulam o dinheiro recolhido dos trabalhadores para fundos de pensão com tanto rigor – e a justiça dá o aval – que na hora de aposentar dizem ao trabalhador da aviação:
- Apertem os cintos, o dinheiro sumiu!
Título e Texto: José Carlos Bolognese, Um ex-aeronauta em expiação querendo ser espionado, Rio de Janeiro, 09-07-2013

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