Não é por falta de aviso que a
Venezuela cometerá o erro de dar asilo político ao agente traidor americano Snowden
Francisco Vianna
O chefe comunista bolivariano
da vez na Venezuela, Nicolás Maduro, pode estar tentando mostrar ao mundo que
pode vestir as calças do falecido aprendiz de ditador, Hugo Chávez, ao oferecer
"asilo político" ao ex-técnico e traidor da CIA, Edward Snowden, mas
esse desafio aberto a Washington poderá trazer muitos mais custos do que
benefícios para o chavezismo, que ainda não conseguiu reconhecimento
internacional pela esmagadora maioria de países, nem sequer pela totalidade dos
países de esquerda da América do Sul, como o Brasil, por exemplo, que já
adiantou que não dará guarida ao traidor americano.
Diego Moya-Ocampos, um
veterano analista para as Américas do IHS Global Insight/IHS Jane disse, por
telefone, que "vão ocorrer consequências e Maduro, sem dúvida, está
assumindo um risco muito grande ao desafiar os Estados Unidos. Creio que os
EUA, neste caso de Snowden, serão de fato contundentes e já têm advertido sobre
isso”.
Tais advertências foram feitas
pela Casa Branca quando a Venezuela passou a ser vista como sendo o país com
maior probabilidade de acabar dando asilo político a Snowden, que está sendo
procurado pela justiça estadunidense por crime de traição ao revelar a
existência de una rede de espionagem mantida pela CIA e pela NSA em ação em
todo o Ocidente e, principalmente, dentro dos próprios EUA, coisa que a maioria
dos especialistas em inteligência já sabia existir.
Snowden, que permanece
acoitado numa zona de trânsito do aeroporto de Sheremetievo, em Moscou, parecia
destinado a rumar de mala e cuia para Caracas na manhã da terça-feira de ontem,
quando o chefe da Comissão de Relações Exteriores da câmara dos deputados da
Rússia, Alexei Pushkov, teria dito no Twitter que "o jovem estadunidense
tinha aceitado a proposta de 'asilo humanitário' da Venezuela. Como era de se
esperar, Snowden aceitou a proposta de Maduro de 'asilo político', como sendo a
opção mais segura para ele".
Todavia, até ontem, terça-feira,
à noite, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, informou que Snowden não havia
ainda ratificado a sua intenção de se asilar na Venezuela e assinalou que
"una vez que assim o faça irá cuidar das condições de segurança” para dar
a devida proteção ao espião norte-americano.
Venezuela e Nicarágua são até
agora os únicos países que, governados por comunistas, confirmaram ter recebido
pedidos de asilo do fugitivo estadunidense e que, além disso, estão dispostos a
formalizar tal asilo, independentemente das pressões dos EUA. A oferta de asilo
foi duramente criticada, na terça-feira de ontem pelo líder da oposição venezuelana,
Henrique Capriles, que acusou o novo chefe da “revolução bolivariana” de não
pensar nas consequências que sua atuação no episódio terá para os venezuelanos.
“O que acontecerá se os EUA
decidirem, por exemplo, parar de comprar o nosso petróleo? A situação econômica
(da Venezuela) se tornaria ainda mais insustentável”, questionou Capriles.
“Quisera saber se Maduro em algum momento parou para pensar nas consequências
que advirão para o nosso povo a besteira que está para ser cometida apenas por
motivos ideológicos. Será que Cuba não serve de exemplo ao que poderá acontecer
conosco?”, acrescentou Capriles em sua postagem semanal pela Internet.
O 'caso Snowden' ocorre
justamente quando Venezuela e Estados Unidos davam os primeiros passos na
tentativa de melhorar suas relações externas já tradicionalmente difíceis e
deterioradas pelo chavezismo, depois que o chanceler Elías Jaua se reuniu com o
Secretário de Estado, John Kerry. Tais esforços pareciam bem encaminhados no
sentido de facilitar a obtenção do necessário reconhecimento internacional do
governo de Maduro, em função de inúmeras acusações da oposição de múltiplas
fraudes eleitorais que lhe deram, por uma mínima margem, a presidência da
república em 14 de abril último.
Entretanto, agora, Maduro dá
uma reviravolta de 180 graus em sua atitude, a qual é vista claramente como um
desafio quase impossível de ser ignorado por Washington.
“Que será que ele pretende
conseguir com isso? Provavelmente aumentar seu perfil internacional, a seguir
por imitação os passos de Chávez de tentar criar esta polarização com os EUA na
área internacional, num momento em que as atenções do mundo se voltam para o
'caso Snowden'. Com tal atitude, Maduro talvez pretenda enviar um recado de que
ele está no centro da dinâmica política, não apenas dentro da Venezuela mas
também fora do país”, explicou Moya-Ocampos. Acrescentou ainda que "agindo
dessa forma, ele tenta se projetar como o 'homem forte' da Venezuela, que como
Hugo Chávez está no centro da dinâmica política nacional e internacional e é o
verdadeiro 'filho' e herdeiro do caudilho".
Certamente, isso joga no lixo
todo o esforço de reaproximação diplomática entre os dois países, inclusive a
possibilidade de troca de embaixadores entre eles, atualmente inexistentes, e
dificulta ainda mais uma eventual reabertura do Consulado da Venezuela em
Miami. Falta também seriedade a Maduro no campo diplomático, disse
Moya-Ocampos, acrescentando que "Maduro mostra de um só golpe que está
disposto a sacrificar esse processo de reaproximação e, inclusive, que está
disposto a enfrentar a ira dos EUA quando vê a oportunidade de exercer um papel
de protagonismo na cena internacional no marco de toda esta saga de Snowden que
tanta atenção midiática tem recebida”.
No entanto, Maduro poderá
estar pagando muito caro por seus cinco minutos de fama, disse de Miami a
analista Vilma Petrash. “Tudo isto surge como uma jogada muito ruim de Maduro”,
disse Petrash de sua casa, onde se recupera de uma recente intervenção
cirúrgica.
“Não importam as posturas
midiáticas, isto poderá dar a Maduro não mais do que espaços centimétricos na
mídia, com o seu governo a enfrentar, neste momento, problemas acentuados de
governabilidade”. Possivelmente, a oferta de asilo também responde a um desejo
de desviar a atenção interna, praticando a velha receita de aumentar o tamanho
real dos "inimigos externos da revolução”, para tentar fazer com que os
venezuelanos esqueçam que não há produtos nas prateleiras dos supermercados,
que os estudantes estão a protestar nas ruas, que o inferno da insegurança mata
22 mil venezuelanos todos os anos, e que a Venezuela tem hoje uma das mais
altas taxas de corrupção do planeta, com o politiburo socialista de Caracas
vivendo nababescamente enquanto o povo amarga um empobrecimento acentuado e
gradativo, disse Petrash.
Mas, mesmo que Maduro consiga
desviar novamente a parca atenção do eleitor venezuelano, os perigos de a
medida superarão os eventuais possíveis benefícios, disse a analista. “Esta é
uma medida de alto risco porque a Venezuela é um país muito vulnerável neste
momento e em todos os sentidos. Maduro enfrenta uma enorme quantidade de
reações internas e no país não há uma situação de governabilidade controlada”,
assinalou.
“O asilo é uma faca afiada de
dois gumes porque diante de um eventual cenário de desestabilização, que
forçaria Maduro, por exemplo, a tomar medidas de exceção, o regime necessitará
de que, pelo menos, os demais países não se pronunciem contra, e em todo caso,
embora seja simbólico, lhe deem algum tipo de respaldo ao seu governo”,
advertiu Petrash. E um enfrentamento aberto com Washington obviamente
complicará a situação caso isso ocorra. “Esta é uma medida perigosa, de alto
risco, desatinada mesmo, que inclusive marcará uma diferença com a política de
Hugo Chávez, que se bem tenha se caracterizada por não renunciar a seus fins
estratégicos, costumava fazer correções táticas bem a tempo de não cruzar a
'linha vermelha'", comentou a analista.
“Não é o que parece estar a
suceder neste governo que saúda sinais de ter perdido essa bússola
estratégica”, sentenciou.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 10-7-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-