quarta-feira, 10 de julho de 2013

Venezuela prestes a fazer a besteira de dar asilo a Snowden

Não é por falta de aviso que a Venezuela cometerá o erro de dar asilo político ao agente traidor americano Snowden

Francisco Vianna
O chefe comunista bolivariano da vez na Venezuela, Nicolás Maduro, pode estar tentando mostrar ao mundo que pode vestir as calças do falecido aprendiz de ditador, Hugo Chávez, ao oferecer "asilo político" ao ex-técnico e traidor da CIA, Edward Snowden, mas esse desafio aberto a Washington poderá trazer muitos mais custos do que benefícios para o chavezismo, que ainda não conseguiu reconhecimento internacional pela esmagadora maioria de países, nem sequer pela totalidade dos países de esquerda da América do Sul, como o Brasil, por exemplo, que já adiantou que não dará guarida ao traidor americano.

Apesar das tentativas de melhorar as relações externas entre EUA e Venezuela, um possível asilo político dado a Edward Snowden poderá isolar ainda mais os dois países um do outro. Na foto, o Secretário de Estado americano, John Kerry, e o chanceler venezuelano Elías Jaua se reúnem em 5 de junho último na Guatemala durante um evento da OEA (Moises Castillo / AP).
Diego Moya-Ocampos, um veterano analista para as Américas do IHS Global Insight/IHS Jane disse, por telefone, que "vão ocorrer consequências e Maduro, sem dúvida, está assumindo um risco muito grande ao desafiar os Estados Unidos. Creio que os EUA, neste caso de Snowden, serão de fato contundentes e já têm advertido sobre isso”.
Tais advertências foram feitas pela Casa Branca quando a Venezuela passou a ser vista como sendo o país com maior probabilidade de acabar dando asilo político a Snowden, que está sendo procurado pela justiça estadunidense por crime de traição ao revelar a existência de una rede de espionagem mantida pela CIA e pela NSA em ação em todo o Ocidente e, principalmente, dentro dos próprios EUA, coisa que a maioria dos especialistas em inteligência já sabia existir.

Snowden, que permanece acoitado numa zona de trânsito do aeroporto de Sheremetievo, em Moscou, parecia destinado a rumar de mala e cuia para Caracas na manhã da terça-feira de ontem, quando o chefe da Comissão de Relações Exteriores da câmara dos deputados da Rússia, Alexei Pushkov, teria dito no Twitter que "o jovem estadunidense tinha aceitado a proposta de 'asilo humanitário' da Venezuela. Como era de se esperar, Snowden aceitou a proposta de Maduro de 'asilo político', como sendo a opção mais segura para ele".
Todavia, até ontem, terça-feira, à noite, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, informou que Snowden não havia ainda ratificado a sua intenção de se asilar na Venezuela e assinalou que "una vez que assim o faça irá cuidar das condições de segurança” para dar a devida proteção ao espião norte-americano.

Venezuela e Nicarágua são até agora os únicos países que, governados por comunistas, confirmaram ter recebido pedidos de asilo do fugitivo estadunidense e que, além disso, estão dispostos a formalizar tal asilo, independentemente das pressões dos EUA. A oferta de asilo foi duramente criticada, na terça-feira de ontem pelo líder da oposição venezuelana, Henrique Capriles, que acusou o novo chefe da “revolução bolivariana” de não pensar nas consequências que sua atuação no episódio terá para os venezuelanos.

“O que acontecerá se os EUA decidirem, por exemplo, parar de comprar o nosso petróleo? A situação econômica (da Venezuela) se tornaria ainda mais insustentável”, questionou Capriles. “Quisera saber se Maduro em algum momento parou para pensar nas consequências que advirão para o nosso povo a besteira que está para ser cometida apenas por motivos ideológicos. Será que Cuba não serve de exemplo ao que poderá acontecer conosco?”, acrescentou Capriles em sua postagem semanal pela Internet.
O 'caso Snowden' ocorre justamente quando Venezuela e Estados Unidos davam os primeiros passos na tentativa de melhorar suas relações externas já tradicionalmente difíceis e deterioradas pelo chavezismo, depois que o chanceler Elías Jaua se reuniu com o Secretário de Estado, John Kerry. Tais esforços pareciam bem encaminhados no sentido de facilitar a obtenção do necessário reconhecimento internacional do governo de Maduro, em função de inúmeras acusações da oposição de múltiplas fraudes eleitorais que lhe deram, por uma mínima margem, a presidência da república em 14 de abril último.
Entretanto, agora, Maduro dá uma reviravolta de 180 graus em sua atitude, a qual é vista claramente como um desafio quase impossível de ser ignorado por Washington.

“Que será que ele pretende conseguir com isso? Provavelmente aumentar seu perfil internacional, a seguir por imitação os passos de Chávez de tentar criar esta polarização com os EUA na área internacional, num momento em que as atenções do mundo se voltam para o 'caso Snowden'. Com tal atitude, Maduro talvez pretenda enviar um recado de que ele está no centro da dinâmica política, não apenas dentro da Venezuela mas também fora do país”, explicou Moya-Ocampos. Acrescentou ainda que "agindo dessa forma, ele tenta se projetar como o 'homem forte' da Venezuela, que como Hugo Chávez está no centro da dinâmica política nacional e internacional e é o verdadeiro 'filho' e herdeiro do caudilho".
Certamente, isso joga no lixo todo o esforço de reaproximação diplomática entre os dois países, inclusive a possibilidade de troca de embaixadores entre eles, atualmente inexistentes, e dificulta ainda mais uma eventual reabertura do Consulado da Venezuela em Miami. Falta também seriedade a Maduro no campo diplomático, disse Moya-Ocampos, acrescentando que "Maduro mostra de um só golpe que está disposto a sacrificar esse processo de reaproximação e, inclusive, que está disposto a enfrentar a ira dos EUA quando vê a oportunidade de exercer um papel de protagonismo na cena internacional no marco de toda esta saga de Snowden que tanta atenção midiática tem recebida”.

No entanto, Maduro poderá estar pagando muito caro por seus cinco minutos de fama, disse de Miami a analista Vilma Petrash. “Tudo isto surge como uma jogada muito ruim de Maduro”, disse Petrash de sua casa, onde se recupera de uma recente intervenção cirúrgica.
“Não importam as posturas midiáticas, isto poderá dar a Maduro não mais do que espaços centimétricos na mídia, com o seu governo a enfrentar, neste momento, problemas acentuados de governabilidade”. Possivelmente, a oferta de asilo também responde a um desejo de desviar a atenção interna, praticando a velha receita de aumentar o tamanho real dos "inimigos externos da revolução”, para tentar fazer com que os venezuelanos esqueçam que não há produtos nas prateleiras dos supermercados, que os estudantes estão a protestar nas ruas, que o inferno da insegurança mata 22 mil venezuelanos todos os anos, e que a Venezuela tem hoje uma das mais altas taxas de corrupção do planeta, com o politiburo socialista de Caracas vivendo nababescamente enquanto o povo amarga um empobrecimento acentuado e gradativo, disse Petrash.
Mas, mesmo que Maduro consiga desviar novamente a parca atenção do eleitor venezuelano, os perigos de a medida superarão os eventuais possíveis benefícios, disse a analista. “Esta é uma medida de alto risco porque a Venezuela é um país muito vulnerável neste momento e em todos os sentidos. Maduro enfrenta uma enorme quantidade de reações internas e no país não há uma situação de governabilidade controlada”, assinalou.

“O asilo é uma faca afiada de dois gumes porque diante de um eventual cenário de desestabilização, que forçaria Maduro, por exemplo, a tomar medidas de exceção, o regime necessitará de que, pelo menos, os demais países não se pronunciem contra, e em todo caso, embora seja simbólico, lhe deem algum tipo de respaldo ao seu governo”, advertiu Petrash. E um enfrentamento aberto com Washington obviamente complicará a situação caso isso ocorra. “Esta é uma medida perigosa, de alto risco, desatinada mesmo, que inclusive marcará uma diferença com a política de Hugo Chávez, que se bem tenha se caracterizada por não renunciar a seus fins estratégicos, costumava fazer correções táticas bem a tempo de não cruzar a 'linha vermelha'", comentou a analista.
“Não é o que parece estar a suceder neste governo que saúda sinais de ter perdido essa bússola estratégica”, sentenciou.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 10-7-2013

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