domingo, 11 de agosto de 2013

China quer ligação física do continente com Taiwan

Francisco Vianna
A China continental, depois de mais de décadas de afastamento e tensões com a República Democrática de Taiwan (Formosa), na ilha de mesmo nome ao largo do litoral sul do gigante amarelo, parece ter definitivamente desistido de querer fazer a reunificação das duas Chinas no peito e na marra.

Barcos lançadores de mísseis da Patrulha Costeira de Taiwan nas águas do Estreito de Taiwan num exercício militar em maio último. Foto: AFP/Getty Images
O estreito de Taiwan sempre representou uma barreira, mais simbólica do que física, a manter a independência do país fundado por Chiang Kaichek após a revolução comunista liderada por Mao Tsé Tung. A reunificação das duas Chinas pelo uso da força, sempre foi uma ameaça constante a pairar sobre a ilha e só não se deu graças ao apoio intenso do Ocidente.

O resultado desse apoio foi o crescimento e enriquecimento formidável que ocorreu no novo país insular, ao ponto de a China atual deixar de desejar a sua anexação como província da República Popular da China e buscar uma abordagem mais cooperativa com o intuito de ter Taiwan mais como um aliado econômico do que como um território arrasado pela guerra anexado à força ao país. Taiwan é hoje uma potência econômica que à China não interessa de forma alguma ver decair, com seu regime capitalista privado e democrático próprio, mas receber a ilha como uma aliada, respeitando seu regime tal como fez com Hong Kong, quando da devolução da possessão britânica a Pequim no fim do século XX.

Ao longo de sua história, Taiwan mudou de mãos entre diversos de seus ocupantes coloniais, incluindo europeus e japoneses, antes de se tornar a República de Chiang Kaichek e num ‘campo de batalha potencial’ com o gigante do norte, como ocorreu na segunda metade do século XX.

Nos últimos anos, pelos fatos expostos acima, as tensões militares entre China e Taiwan se arrefeceram e se flexibilizaram, com Pequim na espera de o reforço da integração econômica e de infraestrutura física ocorra com esse “tigre asiático” de modo pacífico e construtivo, cada lado respeitando suas soberanias. Para tanto, Pequim se propõe a construir em cooperação com Taipé, em breve, uma infraestrutura de ponte sobre o Estreito de Taiwan ligando os dois países fisicamente, para cumprir um imperativo geossocial (geopolítico e geoeconômico) de reunificar-se com a ilha em bases semelhantes às levadas a termo com Hong Kong.

O jornal chinês “South China Morning Post” publicou uma matéria na qual informa que, em 05 de agosto próximo passado, no seu Plano Rodoviário Nacional, recentemente aprovado para o período de 2013 a 2030, o Conselho de Estado incluiu dois projetos de rodovias que ligarão Taiwan ao continente.

Uma delas envolve a proposta da criação da Via Expressa Pequim - Taipé, que começaria em Pequim, passaria por Tianjin, Hebei, Shandong, Jiangzu, Anhui, Zhejiang e Fuzhou Fujian, antes de cruzar o estreito de Taiwan e chegar Taipei, a capital da República Democrática de Formosa (Taiwan).

Outra via terrestre proposta começaria concomitantemente em Chengdu e passaria por Guizhou, Hunan, Jiangxi e Fujian Xiamen, antes de atravessar o estreito em direção ao arquipélago de Kinmen administrado por Taipé, e, eventualmente, terminando em Kaohsiung, no sul de Taiwan.


O plano, por enquanto, não especifica que tipo de infraestrutura – uma ponte ou um túnel, por exemplo – seria usado ​​para ligar o continente ao país insular separado do continente por mais de 180 km (111 milhas), mas, desde 1996, se não antes, Pequim vem apelando publicamente para a construção dessa infraestrutura.

Uma proposta chegou a envolver a construção de um túnel submarino de 122 km, o que foi considerado preferível por causa da relativa estabilidade sísmica do local e por seu trajeto estar em área de águas mais rasas. Este túnel ligaria a província de Fujian Pingtan à Ilha de Hsinchu, no norte de Taiwan – a uma distância de quase três vezes maior do que a do EUROTÚNEL, que liga a Grã-Bretanha à França – e teria um custo estimado de 400 a 500 bilhões de yuan (65 a 81 bilhões de dólares) para construir.

Outra proposta envolve a ligação do município de Chiayi, no sul de Taiwan, com a ilha próxima de Kinmen, via túnel ou ponte, onde a via se conectaria com a infraestrutura prevista que acabaria ligá-la com a cidade chinesa de Xiamen, na província de Fujian.

Tais construções, além de representarem investimentos maciços por parte de ambos os países, principalmente nos trechos de travessia do Estreito de Taiwan, envolvem preocupações com segurança, com vulnerabilidades geológicas (devido aos terremotos) e com toda a extensão da largura do estreito, um verdadeiro desafio tecnológico à sua execução.

Hoje Formosa tem uma identidade nacional forte e diferente da China Continental. O seu IDH é muito melhor e o seu PIB, proporcionalmente ao tamanho do seu território é também maior e a República Democrática da China (nome oficial de Taiwan) é considerada como sendo um dos “tigres asiáticos”, mantendo, no entanto ainda fortes elos culturais com o Continente.

A mudança de postura da China continental em relação a Taiwan, na medida em que o seu interesse de que Taiwan continue como está, com seu florescente capitalismo privado e sua autonomia política democrática, poderá não apenas possibilitar a consecução de todas essas formidáveis obras, como também representar mais um foco de progresso e geração de riqueza e trabalho, que junto com Hong Kong e possivelmente com outras “áreas com regimes especiais”, possam ser o modelo chinês de sepultamento progressivo do socialismo no país com o enriquecimento crescente e melhoria da qualidade da cidadania no país, até desembocar numa democracia superior, uma vez que o capitalismo privado no país asiático está em franco desenvolvimento, embora os seus capitais privados ainda estejam sendo aplicados em outros países, justamente pela falta de segurança jurídica típica do comunismo.

Uma vez que a reunificação tem sido sempre um imperativo para Pequim, até que ela realmente ocorra, a infraestrutura proposta é um importante passo simbólico para sua estratégia de integração. Padrões comerciais podem mudar rapidamente em conformidade com os interesses econômicos e políticos de parte a parte, especialmente agora que a economia chinesa em si mesma passa por mudanças internas maciças. Consequentemente, uma conexão física com Taiwan pode ter uma importância considerável no que parece ser uma mudança extraordinária que pode estar surgindo no horizonte como um novo tipo de pensamento estratégico de Pequim até mesmo com relação à China que seus dirigentes querem ter no futuro.
Título e Texto: Francisco Vianna, (das agências de inteligência), 10-8-2013

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