Imaginem, Nicolás Maduro, o
motorista de ônibus que aproveitou o esquema de fraude eleitoral criado pelo
seu mentor, o falecido Hugo Chávez Frías para garantir a sua reeleição
indefinida, e o usou para derrotar o líder da oposição na Venezuela, Henrique Capriles,
está – acredite se quiser – dedicado a uma cruzada contra a corrupção dentro do
regime e, por enquanto, parece concentrado em capturar as sardinhas e não os
tubarões do enriquecimento ilícito.
Em que pese a existência de
uma longa série de denúncias que culpam alguns dos atuais pilares centrais do
chavezismo, incluindo, principalmente, o presidente da Assembleia Nacional,
Diosdado Cabello, a atitude de Maduro é mais um caso sulamericano da raposa
posta a vigiar o galinheiro.
A imaginação dos socialistas,
em sua maioria compostos de “sucialistas”, para conceber jogadas destinadas à
enganação da opinião pública e à tutela dos eleitores ignaros e desinformados
parece não ter limites.
“Poucos países na América do
Sul necessitam tanto de um combate efetivo à corrupção e desapropriar e
enjaular diversos figurões responsáveis pelo desvio de bilhões de dólares do
povo venezuelano, lesando o seu erário da forma mais corrupta jamais posta em
prática em toda a América latina”, conforme escreveu a ONG ‘Transparência
Internacional’. Eles conseguem ser mais corruptos ainda que os políticos
petistas e a sua “base alugada” no Brasil ou o grosso do peronismo nazifascista
argentino sob o comando de Cristina de Kirchner.
Mas a tarefa de Maduro,
seguramente, demagógica, populista, é, como se diz em Pindorama, “só para
inglês ver”. Fosse bem-intencionado e já teria posto atrás das grades Diosdado
Cabelo e um séquito de tubarões que, como Chávez e provavelmente o próprio
Maduro, engordaram grandes contas no exterior.
Henrique Capriles, o vencedor
que saiu ‘derrotado’ nas últimas eleições presidenciais na Venezuela, diz com
todas as letras que “se nas redes que Maduro diz atirar no oceano da corrupção
que inunda o país, começarem a cair os grandes peixes gordos, o governo e o
regime virarão pó [...], pois não se salvaria ninguém, desde Maduro para baixo,
todos os elementos comprometidos com o “sucialismo” chavezista seriam pescados.
Os corruptos estão no governo e se o povo venezuelano quiser acabar com a
corrupção terá que remover o atual governo e exterminar o atual regime”.
Por isso, a turma que controla a Venezuela teve que inventar um socialismo, batizado de “bolivarianismo”, uma vez que só no socialismo esses esquemas de enriquecimento ilícito proliferam, pelo menos enquanto o dinheiro dos outros não acaba.
Por isso, a turma que controla a Venezuela teve que inventar um socialismo, batizado de “bolivarianismo”, uma vez que só no socialismo esses esquemas de enriquecimento ilícito proliferam, pelo menos enquanto o dinheiro dos outros não acaba.
Os funcionários do governo,
obviamente, não dão um pio sequer sobre o assunto a jornalistas, midiáticos e
elementos da oposição.
Maduro já mandou prender
diversos funcionários de médio e baixo escalão mediante acusações de corrupção
e ampliou essa lista na última segunda-feira ao anunciar que havia prendido o
ex-gerente de importações e Seguimento das Exportações da Comissão de
Administração de Divisas (CADIVI), o tenente-coronel Francisco Navas Lugo, e um
sobrinho seu como parte de sua “operação limpeza”.
Mas os 23.015 dólares que
foram confiscados na prisão de Lugo, parecem quase nada em comparação com o que
denuncia a recém destituída presidente do Banco Central da Venezuela, Edmeé
Betancourt, que, numa entrevista ao jornal Últimas Notícias, assegurou que o
estado venezuelano perde bilhões de dólares em mamatas que tiram proveito do
mercado de câmbio. Betancourt, que em suas declarações citou cifras que tinham
sido calculadas pelo atual ministro do Planejamento, Jorge Giordani, revelou
que “empresas de papel” criadas por pessoas próximas a altos funcionários do
governo, haviam obtido uma boa porção de uns 59 bilhões de dólares “outorgados”
pelo regime no ano passado a um tipo de câmbio preferencial, que em seguida
eram colocados no mercado negro por quatro ou cinco vezes o valor pago por
eles.
E entre os grandes
beneficiários desta mamata estaria Cabello, segundo as declarações do outrora
influente porta-voz do chavezismo, Mario Silva, que num relatório enviado a um
agente de inteligência cubano assegurava que o presidente da Assembleia
Nacional havia obtido uma gigantesca fortuna através dos esquemas que operava
no CADIVI.
“Quando se fala de
desvalorização, o problema principal – como disse o próprio Giordani – era a
fuga de divisas através de empresas fantasmas, algumas delas ligadas a Diosdado
Cabello, através do CADIVI”, afirmou Silva numa conversa vazada para a imprensa
pouco antes de cair em desgraça.
Na conversa, Silva fez
referência a comentários feitos por Giordani, que enojado pela enorme corrupção
presente nas fileiras do chavezismo havia manifestado em particular que queria
de retirar “desta faina porque estes putos estão sangrando o país”.
O CADIVI é o principal
mecanismo ‘estatal’ de venda de divisas a empresas e particulares preços
oficiais (6,30 bolívares por dólar), como parte do “controle do câmbio” imposto
pelo socialismo bolivariano desde 2003 e que impede o livre acesso das pessoas
“comuns” a moedas estrangeiras.
Cabello é o sujeito com maior
influência dentro do chavezismo depois de Maduro, e a relação entre ambos tem
sido descrita como um casamento forçado entre conjugues que se detestam.
A corrupção em torno de
Cabello foi mencionada em vários cabogramas elaborados pela embaixada dos EUA
em Caracas e que posteriormente foram filtrados pelo Wikileaks. Num desses
cabogramas, Cabello aparece descrito como “um dos três principais centros de
corrupção” do regime, próximos ou dentro do governo bolivariano. Em outro
cabograma do WikiLeaks, os funcionários da embaixada relataram que Cabello, em
associação com outros antigos militares chavezistas, estava “ampliando sua rede
de corrupção” de serviço financeiro, com a compra de vários bancos pequenos e
seguradoras.
Assim mesmo, os cabogramas
citam o presidente da Assembleia Nacional como sendo “o padrinho” e o “sócio
nas sombras” de várias empresas portuárias do país.
A embaixada estadunidense
também mencionou o presidente da PDVSA (Petróleos de Venezuela SA), Rafael
Ramirez, em seus cabogramas, dizendo que ele encabeçava “o segundo polo” de
corrupção no país.
Um terceiro elemento
identificado no cabograma escrito pela embaixada americana em 2009 era um
personagem conhecido como o “Rei do MERCAL”, Ricardo Fernández Barrueco, que
então manejava uma gigantesca rede de distribuição de alimentos.
Fernández Barrueco, no
entanto, caiu em desgraça no mesmo ano em que o cabograma foi redatado, e
passou quatro anos na cadeia pela suposta malversação de dinheiro público
através de um dos bancos que possuía. Suas 41 empresas, incluindo o banco,
passaram para as mãos do Estado.
Ramírez, por sua vez, continua
sendo um dos homens mais influentes do chavezismo, mantendo seu controle sobre
a vital indústria petroleira.
Título e Texto: Francisco Vianna, 20-8-2013
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