terça-feira, 20 de agosto de 2013

Maduro pesca sardinhas e protege tubarões num oceano de corrupção

Francisco Vianna
Imaginem, Nicolás Maduro, o motorista de ônibus que aproveitou o esquema de fraude eleitoral criado pelo seu mentor, o falecido Hugo Chávez Frías para garantir a sua reeleição indefinida, e o usou para derrotar o líder da oposição na Venezuela, Henrique Capriles, está – acredite se quiser – dedicado a uma cruzada contra a corrupção dentro do regime e, por enquanto, parece concentrado em capturar as sardinhas e não os tubarões do enriquecimento ilícito.

Em que pese a existência de uma longa série de denúncias que culpam alguns dos atuais pilares centrais do chavezismo, incluindo, principalmente, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, a atitude de Maduro é mais um caso sulamericano da raposa posta a vigiar o galinheiro.
A imaginação dos socialistas, em sua maioria compostos de “sucialistas”, para conceber jogadas destinadas à enganação da opinião pública e à tutela dos eleitores ignaros e desinformados parece não ter limites.

“Poucos países na América do Sul necessitam tanto de um combate efetivo à corrupção e desapropriar e enjaular diversos figurões responsáveis pelo desvio de bilhões de dólares do povo venezuelano, lesando o seu erário da forma mais corrupta jamais posta em prática em toda a América latina”, conforme escreveu a ONG ‘Transparência Internacional’. Eles conseguem ser mais corruptos ainda que os políticos petistas e a sua “base alugada” no Brasil ou o grosso do peronismo nazifascista argentino sob o comando de Cristina de Kirchner.

Mas a tarefa de Maduro, seguramente, demagógica, populista, é, como se diz em Pindorama, “só para inglês ver”. Fosse bem-intencionado e já teria posto atrás das grades Diosdado Cabelo e um séquito de tubarões que, como Chávez e provavelmente o próprio Maduro, engordaram grandes contas no exterior.
Henrique Capriles, o vencedor que saiu ‘derrotado’ nas últimas eleições presidenciais na Venezuela, diz com todas as letras que “se nas redes que Maduro diz atirar no oceano da corrupção que inunda o país, começarem a cair os grandes peixes gordos, o governo e o regime virarão pó [...], pois não se salvaria ninguém, desde Maduro para baixo, todos os elementos comprometidos com o “sucialismo” chavezista seriam pescados. Os corruptos estão no governo e se o povo venezuelano quiser acabar com a corrupção terá que remover o atual governo e exterminar o atual regime”.

Por isso, a turma que controla a Venezuela teve que inventar um socialismo, batizado de “bolivarianismo”, uma vez que só no socialismo esses esquemas de enriquecimento ilícito proliferam, pelo menos enquanto o dinheiro dos outros não acaba.
Os funcionários do governo, obviamente, não dão um pio sequer sobre o assunto a jornalistas, midiáticos e elementos da oposição.
Maduro já mandou prender diversos funcionários de médio e baixo escalão mediante acusações de corrupção e ampliou essa lista na última segunda-feira ao anunciar que havia prendido o ex-gerente de importações e Seguimento das Exportações da Comissão de Administração de Divisas (CADIVI), o tenente-coronel Francisco Navas Lugo, e um sobrinho seu como parte de sua “operação limpeza”.
Mas os 23.015 dólares que foram confiscados na prisão de Lugo, parecem quase nada em comparação com o que denuncia a recém destituída presidente do Banco Central da Venezuela, Edmeé Betancourt, que, numa entrevista ao jornal Últimas Notícias, assegurou que o estado venezuelano perde bilhões de dólares em mamatas que tiram proveito do mercado de câmbio. Betancourt, que em suas declarações citou cifras que tinham sido calculadas pelo atual ministro do Planejamento, Jorge Giordani, revelou que “empresas de papel” criadas por pessoas próximas a altos funcionários do governo, haviam obtido uma boa porção de uns 59 bilhões de dólares “outorgados” pelo regime no ano passado a um tipo de câmbio preferencial, que em seguida eram colocados no mercado negro por quatro ou cinco vezes o valor pago por eles.

E entre os grandes beneficiários desta mamata estaria Cabello, segundo as declarações do outrora influente porta-voz do chavezismo, Mario Silva, que num relatório enviado a um agente de inteligência cubano assegurava que o presidente da Assembleia Nacional havia obtido uma gigantesca fortuna através dos esquemas que operava no CADIVI.
“Quando se fala de desvalorização, o problema principal – como disse o próprio Giordani – era a fuga de divisas através de empresas fantasmas, algumas delas ligadas a Diosdado Cabello, através do CADIVI”, afirmou Silva numa conversa vazada para a imprensa pouco antes de cair em desgraça.
Na conversa, Silva fez referência a comentários feitos por Giordani, que enojado pela enorme corrupção presente nas fileiras do chavezismo havia manifestado em particular que queria de retirar “desta faina porque estes putos estão sangrando o país”.

O CADIVI é o principal mecanismo ‘estatal’ de venda de divisas a empresas e particulares preços oficiais (6,30 bolívares por dólar), como parte do “controle do câmbio” imposto pelo socialismo bolivariano desde 2003 e que impede o livre acesso das pessoas “comuns” a moedas estrangeiras.
Cabello é o sujeito com maior influência dentro do chavezismo depois de Maduro, e a relação entre ambos tem sido descrita como um casamento forçado entre conjugues que se detestam.

A corrupção em torno de Cabello foi mencionada em vários cabogramas elaborados pela embaixada dos EUA em Caracas e que posteriormente foram filtrados pelo Wikileaks. Num desses cabogramas, Cabello aparece descrito como “um dos três principais centros de corrupção” do regime, próximos ou dentro do governo bolivariano. Em outro cabograma do WikiLeaks, os funcionários da embaixada relataram que Cabello, em associação com outros antigos militares chavezistas, estava “ampliando sua rede de corrupção” de serviço financeiro, com a compra de vários bancos pequenos e seguradoras.
Assim mesmo, os cabogramas citam o presidente da Assembleia Nacional como sendo “o padrinho” e o “sócio nas sombras” de várias empresas portuárias do país.

A embaixada estadunidense também mencionou o presidente da PDVSA (Petróleos de Venezuela SA), Rafael Ramirez, em seus cabogramas, dizendo que ele encabeçava “o segundo polo” de corrupção no país.
Um terceiro elemento identificado no cabograma escrito pela embaixada americana em 2009 era um personagem conhecido como o “Rei do MERCAL”, Ricardo Fernández Barrueco, que então manejava uma gigantesca rede de distribuição de alimentos.
Fernández Barrueco, no entanto, caiu em desgraça no mesmo ano em que o cabograma foi redatado, e passou quatro anos na cadeia pela suposta malversação de dinheiro público através de um dos bancos que possuía. Suas 41 empresas, incluindo o banco, passaram para as mãos do Estado.
Ramírez, por sua vez, continua sendo um dos homens mais influentes do chavezismo, mantendo seu controle sobre a vital indústria petroleira.
Título e Texto: Francisco Vianna, 20-8-2013

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