Cesar Maia
1. Desde que o Cabral anunciou
que não ia demolir o Parque Aquático Júlio Delamare, se sabia que a licitação
da concessão do Maracanã teria que ser anulada. Agora, com o anúncio que, da
mesma forma, não se demolirá o Estádio de Atletismo Célio de Barros, isso ficou
tão evidente, que foi anunciado. Se não vão demolir estádios, é claro que
também não vão demolir a Escola Municipal Friedenreich.
2. A licitação é nula, pois no
estudo de viabilidade feito pela IMX de Eike, o uso comercial dos prédios de
estacionamento e lojas que seriam construídos nos locais era fator chave. Tão
chave que a base do edital avaliou em quase 600 milhões de reais o investimento
que o concessionário teria que fazer. Alguns achavam que esse custo estava
sobreavaliado, de forma a ‘atrair’ o concessionário.
3. A história que Cabral
contou na TV, que vai conversar com o concessionário para garantir as vagas de
estacionamento mudando o projeto, é balela, pois isso anula a licitação por
mudanças nas condições básicas e ele sabe disso. Se o fizer, estará enquadrado
em crime e será processado simultaneamente pelos MPs – estadual e federal – (já
que há verba federal transferida). E sem saída, pois a entrevista na TV está
gravada.
4. Cancelada a licitação e anulada a concessão – por óbvio – há que se perguntar quais as razões de mudanças tão radicais nas decisões do impopular governador, em um período tão curto de tempo (3 meses, de 8 de maio a 2 de agosto). Há duas versões que circularam nos melhores restaurantes do Rio, sábado e domingo. A primeira é que pesquisas mostraram a impopularidade das demolições e que, com isso, o sôfrego governador estaria recuando e que isso faria parte do pacote de propaganda para reduzir algo de sua rejeição.
5. A segunda – concentrada nos
mais caros restaurantes, entre os melhores – é que o estudo de viabilidade da
IMX/Eike estava furado e que, com menos de dois meses de gestão, ficou claro
que foi um péssimo negócio. Como ensinava Peter Drucker, “se há algo que fez
ontem e não faria hoje, trate logo de fechar esse negócio; será um prejuízo
muito menor”. O consórcio negociou a desistência e, então, o caminho mais fácil
a seguir e que não deixaria rastro, era Cabral mudar as condições da licitação,
assumindo a responsabilidade, sem ônus para o concessionário e, assim,
anulá-la.
6. E o momento é –
politicamente – ‘muito bom’: a rejeição a Cabral justifica tudo: ele quer
reduzir esta rejeição. Operação perfeita. Bem, perfeita... se não existissem
aqui no Rio esses melhores restaurantes, regados nos melhores vinhos e, depois,
a informação circular na rede-socialite.
7. Com isso, resta agora se
explicar à FIFA e conseguir dela o aval para uma solução de improviso, como
transformar ruas em estacionamentos para os eventos da Copa. De outra forma,
Cabral teria que fazer as obras e, com isso, o custo do Maracanã passaria de R$
1,2 bilhão que foi para R$ 1,7 bilhão ou algo assim, pagos pelo poder público,
exaltando ainda mais as “ruas”.
Título e Texto: Cesar Maia, 05-8-2013
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