Algumas pessoas me têm
questionado acerca do meu silêncio em relação aos desenvolvimentos na Síria das
últimas semanas. Na verdade tenho resistido à tentação de escrever sobre o
assunto principalmente por duas razões: se por um lado o trabalho me tem roubado
quase todo o tempo disponível, por outro, pouco ou nada há a dizer para além do
que tenho vindo a repetir desde há mais de dois anos.
É curioso verificar que cada
vez mais comentadores, sejam da ‘esquerda’ ou da ‘direita’, começam a perceber
o absurdo que constitui esta criminosa intervenção estrangeira em território
Sírio, bem como a incrível injustiça de que tem sido alvo o governo legítimo de
Bashar al Assad.
Desde o meu primeiro (de
muitos) artigos sobre a Síria que tenho sido acusado de ‘compactuar com um regime atroz’,
de ser um ‘ingénuo colaborador de Assad’, de ‘repetir ad nauseam a propaganda
do governo’, para além de ter sido alvo de um rol de criativos insultos menos
dignos de serem aqui repetidos. Estava assim, desde 2011, quase isolado a defender
a minha posição, e ao contrário de tantos outros ilustres comentadores, não
tive por isso de ver-me obrigado a alterá-la a 180º. Registo agora que os
argumentos que utilizei vezes sem conta nos últimos anos são agora repetidos
precisamente por aqueles que antes os tentavam ridicularizar.
Resta-me a desolação de
verificar que os meus piores receios têm vindo a confirmar-se de forma
dramática à medida que progride o conflicto na Síria, e que as perspectivas da
concretização de uma guerra global, desde há muito adivinhada, assumem um grau
de probabilidade cada vez maior.
Neste momento em que os dados
estão lançados e em que já quase todos possuem renovadas certezas absolutas,
deixo para os restantes opinadores o seguimento da discussão. Até porque hoje
me apetece escrever sobre o Dar Fur.
Título e Texto: Felipe de Araujo Ribeiro, no blogue “Estado-Sentido”, 30-8-2013
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