Cesar Maia
1. É rotina os políticos atribuírem à imprensa os seus problemas, a
sua popularidade, as suas derrotas. O PT é exemplo disso. Quase que
semanalmente volta ao tema do controle dos meios de comunicação. Elaboram
projetos de lei, vazam, fazem circular pela internet, dão exemplos comparados…
e por aí vai. As críticas que fizeram à imprensa em 2005 no caso do mensalão
deveriam ser revistas depois dos resultados eleitorais de 2006.
2. Mas no Rio de Janeiro é que os demonizadores deveriam focalizar
mais as suas críticas e chegar à conclusão que todos os seus discursos são
justificativas para os problemas reais que enfrentam e a carga sobre a imprensa
é apenas nuvem de fumaça.
3. No Rio, uma torcida enorme para que a curva positiva, que
começou em 1989, fosse cristalizada como um novo momento levou a imprensa a
focalizar tudo de positivo que acontecia, a minimizar os problemas e a – de
certa forma – blindar o governador e o prefeito da capital às críticas.
4. Não faltaram manchetes continuadas exaltando as medidas na
segurança pública, a terceirização da educação e da saúde públicas, as medidas
repressivas relativas à ordem urbana, projetos viários, investimentos para os eventos,
etc. Uma torcida que uniu todos os cariocas cuja característica é renovar
energia a todo o momento.
5. É verdade que as fotos/vídeos de um jantar do governador em
Paris não ajudaram a imagem dele. Mas, apesar dos guardanapos, essa imagem de
boa vida, de amigo de grandes empresários, do Lula, de viagens, de fotos com
artistas, de presença em eventos, falas de valentão, etc., foi sempre a imagem
que ele escolheu.
6. Mas nada disso faz desaparecer os erros de gestão. Da mesma
forma o prefeito da capital, que trocou as medidas de fundo por fotos acordando
cedo e dormindo tarde, de responsável pelas privatizações de serviços públicos
essenciais, de líder do novo higienismo, de apoio à especulação imobiliária,
linha burra de ônibus biarticulados, de deboche em relação às críticas. Ambos –
além da torcida da imprensa – gastaram centenas de milhões de reais em
publicidade.
7. Mas toda essa torcida, de todos os lados, não foi (e não poderia
ser) suficiente para fazer desaparecer os erros graves em matéria urbana,
transportes, educação pública, saúde pública, custos de obras, desperdícios,
contratações sem licitação, etc. E, de repente, e não mais que de repente
vingou a história infantil: o rei está nu. A greve dos professores voltou depois
de 23 anos. E outras estão a caminho.
8. Paradoxalmente, o empreiteiro vizinho em Mangaratiba circulou
com tranquilidade pelo Rock in Rio, mas governador e prefeito ficaram em casa e
o governador foi “agraciado” com um forte coro refundador.
9. A imprensa cumpre seu papel de interpretar os fatos, aplaudindo
e criticando. Se esse papel não coincide com o que políticos demonizadores
pensam, pior para estes. Uma vez, Perón no exilio, respondendo a um repórter,
disse: As batalhas políticas se enfrentam com armas (pelos impacientes), ou com
o TEMPO (pelos experimentados).
Título e Texto: Cesar Maia, 24-9-2013
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