Francamente tenho medo do dia em que a ‘troika' deixará de aterrar em
Lisboa para nos verificar as contas, lembrar os compromissos assumidos e passar
o cheque. Este medo arreiga-se-me cada vez mais quando vejo o que se promete nos
cartazes dos candidatos às autarquias: manuais escolares gratuitos;
medicamentos gratuitos; residências assistidas gratuitas; vacinas gratuitas...
Enfim um delírio de
gratuitidade "já e agora" que acaba na promessa de uma escola de
ninjas - gratuita, naturalmente! – para combater a insegurança de uma cidade
nortenha ou na não menos irreal garantia a sul de programas autárquicos de
combate ao desemprego. (Dado que as autarquias não abrem mão dos crescentes
custos e da complexidade das suas burocracias esses programas ou não se
traduzem em nada ou desgraçadamente implicam mais e mais emprego nas autarquias
elas mesmas ou nas empresas municipais, prática que entre outros efeitos
perversos muito contribuiu para que a ‘troika' tivesse de ser chamada de
urgência em 2011.) O medo acentua-se-me ainda mais quando ouço António José
Seguro dizer que não aceita mais cortes sem explicar que isso só é possível
aumentando muito mais os impostos e quando entrevejo a ânsia do PSD e do CDS
por se verem livres da canga do controlo externo e imediatamente poderem dar
largas a promessas e promessas de mais "gratuito já".
Nasci em Portugal nos anos 60. Logo já é a terceira vez que vivo num país sob ajuda externa e por isso acho que a minha geração deve sobretudo reconhecimento aos credores que em 1977, 1983 e em 2011 se dispuseram a colocar aqui o seu dinheiro. Alguém de bom senso quereria ter vivido com a sua família em Portugal caso essa ajuda externa não tivesse acontecido? É claro que pagamos juros - mesmo assim bem mais baixos do que aqueles que pagaríamos se não fossemos o tal protectorado abominado por Portas e a nossa classe política tivesse de andar pelo mundo a ver quem nos emprestava mais dinheiro.
Nasci em Portugal nos anos 60. Logo já é a terceira vez que vivo num país sob ajuda externa e por isso acho que a minha geração deve sobretudo reconhecimento aos credores que em 1977, 1983 e em 2011 se dispuseram a colocar aqui o seu dinheiro. Alguém de bom senso quereria ter vivido com a sua família em Portugal caso essa ajuda externa não tivesse acontecido? É claro que pagamos juros - mesmo assim bem mais baixos do que aqueles que pagaríamos se não fossemos o tal protectorado abominado por Portas e a nossa classe política tivesse de andar pelo mundo a ver quem nos emprestava mais dinheiro.
Logo tenho medo do dia em que
Portugal de facto, não seja um protectorado e esta classe política volte a
fazer dos verbos dar e investir (mas se querem tanto investir porque não
investem o seu dinheiro e se tornam empresários?) a mistificação a que chamam
discurso positivo sobre o País. E sobretudo há coisas que vividas repetidamente
se tornam grotescas.
Porque é mais que certo que
vai aparecer alguém que tal como em 2009 vai atirar o País para uma fuga em
frente e dizer que tal era voluntarismo e inovação. Garantidos estão também os
corporativo-sensíveis que em luta pelos seus privilégios pessoais e
empresariais vão declarar que o País não aguenta mais austeridade quando a
austeridade é imposta não pelos credores mas sim pelo descalabro a que nos
conduziu a protecção às corporações, ao Estado parceiro de negócios e aos
direitos adquiridos no papel mas não garantidos na tesouraria. E por fim vamos
ter os falhados com o seu discurso sobre os grandes homens do passado, as
grandes políticas do passado, o tempo em que havia líderes... e que com tanta
grandeza, sapiência e elevados princípios não só nos conduziram três vezes à
indigência em escassos 35 anos como com notável descaramento mal vêem o
dinheiro do lado de cá optam imediatamente por culpar o credor e nunca a si
mesmos.
Após três intervenções
externas não só tenho como certo que a ‘troika' voltará de novo como encontrará
o País em circunstâncias bem piores porque de cada vez que somos um
protectorado geramos não uma reflexão sobre o mal que nos governamos mas pelo
contrário acentuamos aquela incontida ânsia de repetir todos os erros que nos
conduziram a viver de mão estendida.
Assim e se a minha vida durar
o que as estatísticas dizem ser normal certamente que voltarei a ver outras
‘troikas' aterrar em Lisboa. O tempo que vai decorrer entre cada uma dessas
vindas será o tempo de todas as demagogias.
Título e Texto: Helena Matos, Diário Económico,
24-9-2013
Parece-me, Helena Matos, que o vírus da "gratuidade" que assanha os governantes e políticos que querem se perpetuar no poder não tem nacionalidade. Aqui no Brasil é gritante o assanhamento! Essa gratuidade está corroendo a sociedade e o futuro da nação, já tão comprometido que mais parece um buraco negro... lamentavelmente!
ResponderExcluir