terça-feira, 29 de outubro de 2013

A implosão da hegemonia


Rivadávia Rosa
Hegemonia (grego eghesthai) – “guiar”, “conduzir”; em sua origem genuinamente grega, designava na Grécia antiga a preponderância política e a direção militar pertencentes à população mais importante em uma confederação permanente ou em uma liga temporária de cidades.

"Um grupo humano se transforma numa multidão quando responde a uma sugestão em vez de a um raciocínio, a uma imagem em vez de a uma ideia, a uma afirmação em vez de a uma prova, à repetição de uma frase em vez de argumentos, ao prestígio em vez de à competência." Jean-François Revel

Há efetivamente o que se denomina demência/sabedoria das massas.

Mas o fato é que e é bom que se reitere: as leis para vivermos em liberdade e democracia estão escritas, os que estão destruindo o sistema são justamente as autoridades públicas que não as respeitam nem as fazem cumprir.

A partir do governo do sociólogo de formação marxista Fernando  Henrique Cardoso (em dois mandatos sucessivos, o primeiro de 1995-1998 – na esteira do “Plano Real” do presidente Itamar Franco (Itamar Augusto Cautiero Franco – interino de 1992-1995); o segundo 1999-2002 pela reeleição “comprada”) foi forjada a “hegemonia esquerdista” e o domínio do poder no País, na linha preconizada por Gramsci (Antonio Gramsci, comunista italiano – 1891-1937); sucedido em dois mandatos a partir de 2003  por Luiz Inácio Lula da Silva e, num terceiro, por Dilma Rousseff, atual presidente.

Gramsci preconiza que a única maneira de fazer uma revolução nos países capitalistas é pela substituição da hegemonia burguesa (capitalista) por uma nova de base proletária para sustentar a ‘nova ordem socialista’ e, assim, por essa nova classe a hegemonia (esquerdista) passaria a dominar...

Porém, o fato é que o exercício do poder hegemônico revela suas inevitáveis e perversas contradições que emergem num regime político estruturado sobre a supremacia do Poder Executivo – em que um dos efeitos extremos da ‘lógica’ hegemônica – é converter – numa Federação – os Estados-membros em meras ‘sucursais’ das decisões do poder central presidencial – aniquilando o Federalismo.

E, segue-se a desordem institucional, sobretudo quando não se respeita a independência da Justiça, em que o governo exercita um populismo personalista e hegemônico que não só atenta contra o sistema político, a democracia e a República,  mas também o degrada mediante a cooptação despudorada de parlamentares oposicionistas, que como vestais no bordel da política cedem a irresistíveis manobras, outorga de cargos, favores e prebendas, num formidável ‘espetáculo da corrupção’.

Por outro lado, os conflitos e tensões sociais de forma reiterada – se movem de forma (des) estruturante para uma rotina perversa entre a sociedade e os governos – marcando a confrontação e o antagonismo; mesmo que as causas dos conflitos não sejam sempre as mesmas – as consequências são a violência crescente no espaço aberto das ruas, rodovias, órgãos públicos e propriedades privadas.

Daí, o paradoxo da hegemonia: os governos querem ser hegemônicos, porém não podem sê-lo; a instituição de um círculo vicioso de apostas e fracassos, em lugar de acumular experiência institucional, dilapida os valores morais, enveredando para a retórica discursiva ou na interdição do diálogo social e suas (in) consequentes negociações.

Assim, ressurge em nossos tempos a violência política utilizada pelos insurgentes comunistas no século passado, mas atualmente instrumentalizada por ações diretas, bloqueios, de ruas, rodovias, destruição e saque do patrimônio privado, promovidos por movimentos auto denominados ‘sociais’, por ou patrocinado por sindicalistas,  políticos com ‘controle’ de áreas políticas (municípios e Estados) e grupos de ativistas que buscam entrar em choque inspirados numa estratégia habitual, e de ocasião tanto circunscrita como eficaz; um mero conflito por questões salariais, a mudanças/rejeições forçadas de projetos e intimidação pura e simples da sociedade; (in) consequências:  prepotência, falta de diálogo e descompromisso  para com os acordos firmados pelas próprias autoridades públicas – rumo ao   vazio de autoridade e à anarquia.

Obervam-se sinais explícitos de estratégia ‘política como prolongamento da guerra’ – cujas ações, linguagem e comportamentos ultrapassaram a prudência pela ‘fúria’, não só  verbal, mas também física.

A estes choques de intenções e (in) consequências inesperadas soma-se o contexto frágil das instituições do Estado; esta dissolução das estruturas estatais – sujeitas à vontade hegemônica dos governantes de turno, provoca nos Estados implosões de diversas intensidades. As posições se conectam às autoridades e se desmoronam subitamente, como se a capacidade dessas autoridades não pudesse conter as pressões externas.

Os golpes institucionais, a história registra – situam-se nessas encruzilhadas, depois da implosão em que se desenvolve um segundo ato que conhecemos de sobra – troca de presidentes, nas ocorrências  em que o caos e anarquia se produzam em nível nacional, e, sucessivamen nos Estados.

A implosão da hegemonia – com ou sem alternância, nas implosões do exercício da soberania do povo se projeta sobre dois planos paralelos: num, prevalecem as eleições e o regime representativo; noutro, as rebeliões sociais e o protesto direto.

Estes planos são interdependentes. As implosões decorrentes dos protestos podem ser tão eficazes para derrubar governantes como as eleições para sua saída pacificamente.

Por outro lado, tem-se a violência difusa ou explícita manipulada pelo Governo ou desde algumas facções da supostas oposições que impregnam as táticas eleitorais dos contendores.

O pluralismo exacerbado de partidos ou meras facções, com um conceito amplo de cultura que envereda, em não poucas oportunidades para o espetáculo. As microviolências eleitorais, o engano oculto por trás da propaganda e a indução das pesquisas para manipular as massas, assim como o uso de recursos públicos com fins eleitorais estão na ordem do dia.

O embate se desenvolve e é encarado sem reconhecer os assuntos graves pendentes, sem controle de segurança, nem de transporte (mobilidade urbana), assim como dos demais serviços básicos e essenciais que devem ser prestados pelo Estado…

RESUMINDO: É a marcha da implosão da hegemonia imposta de forma perversa pelo esquerdismo  que aos choques de intenções e (in) consequências inesperadas soma-se o contexto frágil das instituições do Estado; a dissolução das estruturas estatais – pela ‘vontade’ hegemônica dos governantes de turno, provoca nos Estados implosões de diversas intensidades. As posições se conectam às autoridades e se desmoronam subitamente, como se a capacidade dessas autoridades não pudesse conter as pressões externas.

Os golpes institucionais, a história registra – situam-se nessas encruzilhadas, depois da implosão em que se desenvolve um segundo ato que conhecemos de sobra – troca de presidentes, no caso de que a anarquia se produza a nível nacional, e sucessivamen nos Estados.

Enfim, a implosão da hegemonia – com ou sem alternância, nas implosões do exercício da soberania do povo se projeta sobre dois planos paralelos: num, prevalecem as eleições e o regime representativo; noutro, as rebeliões sociais e o protesto direto. Estes planos são interdependentes. As implosões decorrentes dos protestos podem ser tão eficazes para derrubar governantes como as eleições para sua saída pacificamente
Título e Texto: Rivadávia Rosa, 29-10-2013

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