O tombo quando engatinhava
provocou um pequeno corte no queixo da criança. Foi a primeira das muitas
cicatrizes que seriam adquiridas ao longo de sua vida.
Depois de aprender a caminhar
ela começou a correr, brincar de esconde-esconde, pega-pega, queimada, quando
ocorreram novas quedas e surgiram novas marcas, algumas pequenas que logo
sumiram e outras maiores, que permaneceram em seu corpo por muito tempo ou
mesmo por toda a vida.
Além daquelas surgidas das
mais diversas experiências ao longo da vida, as pessoas também adquirem outro
tipo de cicatriz, bem mais profundas, não aparentes, provocadas pelas dores
emocionais.
Logo nos primeiros anos de
escola, quando inicia sua convivência social com outras crianças da mesma faixa
etária, ela se decepciona quando têm sua primeira demonstração de interesse –
realizada com os olhares ainda tímidos – ou a primeira paixão, não
correspondida.
Na escalação da equipe de
futebol, vôlei, basquete ou de natação, quando foi preterida por outra pessoa,
ocorre uma nova frustração que também deixa marcas, mais ou menos profundas,
dependendo da personalidade já adquirida por cada um.
Os resultados obtidos nas
disputas, jogos, notas e provas escolares começam a provocar nos indivíduos, um
senso de reconhecimento da própria capacidade que se refletirá em vários outros
setores, como na carreira profissional e consequentemente no sucesso, pois
todos são o resultado dos seus erros e acertos, das palavras que trocaram, do que
viram, se lembram ou esqueceram.
Homens ou mulheres, os bem-sucedidos
serão admirados, enquanto aqueles que não se saíram bem serão praticamente
ignorados pela sociedade que os circunda, o que gera maior autoestima nos
primeiros, e baixa nos outros.
O fato de serem ou não
admiradas por seus resultados nas mais diversas áreas, associado à sua maior ou
menor autoestima provocará, nessas pessoas, reflexos inclusive nos
relacionamentos com o sexo oposto, pois, inconscientemente e desde os
primórdios, os humanos escolhem, para procriação, os vencedores.
Assim, independentemente da
beleza física, aqueles que não obtiverem bons resultados, não se sobressaírem,
certamente terão outras cicatrizes – agora sentimentais -, por serem preteridos
pelos vencedores, muitas vezes sem os predicados físicos que possuem, mas
certamente mais competentes em outras áreas.
As marcas físicas, causadas
por acidentes do passado, são de feridas curadas, de superações, mas as dores
das frustrações, das decepções, sejam com amigos, parentes, paixões ou amores,
provocam cicatrizes aparentemente invisíveis, mas geralmente maiores que
aquelas provenientes de impactos físicos.
São essas cicatrizes não
aparentes e algumas vezes incuráveis – provocadas pelas dores sentimentais, da
alma -, que transformam as pessoas, deixando-as tristes, amarguradas,
enclausuradas, sem desejos ou novas perspectivas. Para elas não há remédio, a
ferida pode até ser curada, mas a estória já ocorreu e a cicatriz existirá. Só
lhes restará envelhecer com ela.
As cicatrizes adquiridas são as marcas do que vivemos, mas as
invisíveis foram, certamente, as que mais doeram.
Título, Imagem e Texto: João Bosco Leal, 25-10-2013
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